Por
Vicente Nunes, 04/09/2014,
www.correiobraziliense.com.br.
Nada como a perspectiva de perder as eleições.
Diante da expressiva alta nas intenções de votos da candidata do PSB, Marina
Silva, a presidente Dilma Rousseff foi obrigada a descer do salto e a assumir
que mudará tanto a política econômica quanto a equipe que estará no Ministério
da Fazenda e no Banco Central em um eventual segundo mandato.
Desde que a campanha eleitoral começou, cobrava-se
de Dilma uma posição sobre a economia. Não sem motivo. Assim que tomou posse, a
presidente adotou o que chamou de nova matriz econômica, que fragilizou os três
pilares que vinham dando sustentação à estabilidade do país — metas de
inflação, câmbio flutuante e ajuste fiscal.
A petista acreditou que, aceitando um pouco mais de
inflação, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) seria maior.
Impulsionou, então, as políticas de estímulo ao consumo, forçando a oferta de
crédito por meio dos bancos públicos, mesmo com o endividamento das famílias
chegando ao limite. Ao mesmo tempo, abriu os cofres do Tesouro Nacional, que
passou a maquiar os números a fim de que as contas públicas mostrassem uma
saúde que não têm.
Não satisfeita, obrigou o Banco Central a forçar a
alta do dólar, com o intuito de melhorar as exportações industriais, e a
derrubar a taxa básica de juros (Selic) ao menor nível da história, para 7,25%
ao ano. Não é só. Dilma interveio no setor de energia, para reduzir o valor das
contas de luz, e congelou os preços dos combustíveis para evitar que a inflação
estourasse o teto da meta — o que ocorreu em um terço do atual mandato. Ou
seja, represou os preços administrados, que terão de entrar na conta do custo
de vida em 2015.
Tudo o que Dilma conseguiu com a nova matriz
econômica foi estimular uma onda de pessimismo que empurrou a economia ladeira
abaixo. Em vez de aumentar, o PIB encolheu. O Brasil está em recessão. Nos
últimos quatro trimestres, a atividade encolheu em três. A inflação, por sua
vez, se mantém no teto da meta, de 6,5%. Sem perspectivas, o empresariado
suspendeu os investimentos produtivos. O emprego perde força há vários meses.
Nesse quadro desolador, investidores e empresários
passaram a cobrar, sistematicamente, de Dilma uma posição sobre o futuro, caso
ela vença as eleições de outubro próximo. Quando estava com a reeleição
praticamente garantida em primeiro turno, a candidata petista se sentia
desobrigada a falar sobre os erros cometidos na economia e, sobretudo, a
sinalizar mudanças na equipe econômica. O argumento era o de que não se
renderia a pressões do mercado financeiro, que vê o governo dela como
desastroso.
Agora, com todas as pesquisas mostrando Marina
vencendo em segundo turno, embalada pelo discurso de mudança, Dilma se viu
obrigada a também sinalizar que, se reeleita, nada será como antes quando 2015
chegar. Hoje, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o secretário do Tesouro,
Arno Augustin, são vistos como ícones do atraso que foi a atual administração.
A desconfiança em relação a eles é tamanha, que, mesmo o BC estando com a
credibilidade no chão, empresários, investidores e consumidores tentam se
apegar à autoridade monetária como tábua de salvação.
Não custa frisar: Lula teve forte participação na
mudança do discurso de Dilma. Para dobrar a petista, o ex-presidente foi
definitivo. Disse que, se a derrota da presidente se concretizar, a culpa será
somente dela, que não soube entender o que os eleitores estão dizendo.
Ato de desespero
Entre os investidores, o ceticismo é grande em
relação à promessa de Dilma de mudar a política e a equipe econômica se for à
escolhida pelas urnas para governar o país por mais quatro anos. No entender
deles, as declarações da presidente soaram como ato de desespero ante a
perspectiva de derrota. Se realmente estivesse disposta a fazer ajustes na
equipe e na política econômica, ela poderia ter anunciado isso antes do início
da campanha eleitoral, e não 30 dias antes de o país escolher o futuro
presidente da República.
Lula vai enlouquecer
» Entre os aliados de Dilma, o pânico foi
substituído pelo alívio depois da divulgação do Ibope e do Datafolha, mostrando
recuperação da presidente e estabilidade nas intenções de votos de Marina. A
avaliação do pessoal da campanha petista é de que aqueles que já admitiam jogar
a toalha, vão recuperar os ânimos e sair às ruas. Essa avaliação vale,
inclusive, para o ex-presidente Lula, que vinha mostrando certa apatia em
relação à candidatura da afilhada política. “Agora, Lula vai enlouquecer e
partir com tudo para cima de Marina”, destaca um assessor palaciano.
Nova onda de rebaixamento
» A onda de rebaixamento do PIB continua. Pelos
cálculos do Santander, em vez de 0,9%, a economia crescerá 0,3% neste ano. Ou
seja, nada. Para 2015, a projeção recuou de 1% para 0,9%. Entre os economistas
do Bank of America Merrill Lynch, a estimativa de avanço do PIB em 2014 cedeu
de 0,7% para 0,2%. No ano que vem, caiu de 1,5% para 1%.
Terceiro trimestre ruim
»
Para o Santander, apesar de o governo estar batendo bumbo, acreditando que a
economia vai se recuperar neste segundo semestre, o PIB entre julho e setembro
vai decepcionar novamente. O resultado só não será negativo, dizem os
economistas do banco, por causa do maior número de dias úteis e, claro, porque
a base de comparação será muito baixa. A economia encolheu 0,6% no segundo
trimestre do ano.
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