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domingo, 12 de outubro de 2014

DESCENDO DO SALTO



Por Vicente Nunes, 04/09/2014,
 www.correiobraziliense.com.br.

Nada como a perspectiva de perder as eleições. Diante da expressiva alta nas intenções de votos da candidata do PSB, Marina Silva, a presidente Dilma Rousseff foi obrigada a descer do salto e a assumir que mudará tanto a política econômica quanto a equipe que estará no Ministério da Fazenda e no Banco Central em um eventual segundo mandato.

Desde que a campanha eleitoral começou, cobrava-se de Dilma uma posição sobre a economia. Não sem motivo. Assim que tomou posse, a presidente adotou o que chamou de nova matriz econômica, que fragilizou os três pilares que vinham dando sustentação à estabilidade do país — metas de inflação, câmbio flutuante e ajuste fiscal.

A petista acreditou que, aceitando um pouco mais de inflação, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) seria maior. Impulsionou, então, as políticas de estímulo ao consumo, forçando a oferta de crédito por meio dos bancos públicos, mesmo com o endividamento das famílias chegando ao limite. Ao mesmo tempo, abriu os cofres do Tesouro Nacional, que passou a maquiar os números a fim de que as contas públicas mostrassem uma saúde que não têm.

Não satisfeita, obrigou o Banco Central a forçar a alta do dólar, com o intuito de melhorar as exportações industriais, e a derrubar a taxa básica de juros (Selic) ao menor nível da história, para 7,25% ao ano. Não é só. Dilma interveio no setor de energia, para reduzir o valor das contas de luz, e congelou os preços dos combustíveis para evitar que a inflação estourasse o teto da meta — o que ocorreu em um terço do atual mandato. Ou seja, represou os preços administrados, que terão de entrar na conta do custo de vida em 2015.

Tudo o que Dilma conseguiu com a nova matriz econômica foi estimular uma onda de pessimismo que empurrou a economia ladeira abaixo. Em vez de aumentar, o PIB encolheu. O Brasil está em recessão. Nos últimos quatro trimestres, a atividade encolheu em três. A inflação, por sua vez, se mantém no teto da meta, de 6,5%. Sem perspectivas, o empresariado suspendeu os investimentos produtivos. O emprego perde força há vários meses.

Nesse quadro desolador, investidores e empresários passaram a cobrar, sistematicamente, de Dilma uma posição sobre o futuro, caso ela vença as eleições de outubro próximo. Quando estava com a reeleição praticamente garantida em primeiro turno, a candidata petista se sentia desobrigada a falar sobre os erros cometidos na economia e, sobretudo, a sinalizar mudanças na equipe econômica. O argumento era o de que não se renderia a pressões do mercado financeiro, que vê o governo dela como desastroso.

Agora, com todas as pesquisas mostrando Marina vencendo em segundo turno, embalada pelo discurso de mudança, Dilma se viu obrigada a também sinalizar que, se reeleita, nada será como antes quando 2015 chegar. Hoje, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o secretário do Tesouro, Arno Augustin, são vistos como ícones do atraso que foi a atual administração. A desconfiança em relação a eles é tamanha, que, mesmo o BC estando com a credibilidade no chão, empresários, investidores e consumidores tentam se apegar à autoridade monetária como tábua de salvação.

Não custa frisar: Lula teve forte participação na mudança do discurso de Dilma. Para dobrar a petista, o ex-presidente foi definitivo. Disse que, se a derrota da presidente se concretizar, a culpa será somente dela, que não soube entender o que os eleitores estão dizendo.

Ato de desespero

Entre os investidores, o ceticismo é grande em relação à promessa de Dilma de mudar a política e a equipe econômica se for à escolhida pelas urnas para governar o país por mais quatro anos. No entender deles, as declarações da presidente soaram como ato de desespero ante a perspectiva de derrota. Se realmente estivesse disposta a fazer ajustes na equipe e na política econômica, ela poderia ter anunciado isso antes do início da campanha eleitoral, e não 30 dias antes de o país escolher o futuro presidente da República.

Lula vai enlouquecer

» Entre os aliados de Dilma, o pânico foi substituído pelo alívio depois da divulgação do Ibope e do Datafolha, mostrando recuperação da presidente e estabilidade nas intenções de votos de Marina. A avaliação do pessoal da campanha petista é de que aqueles que já admitiam jogar a toalha, vão recuperar os ânimos e sair às ruas. Essa avaliação vale, inclusive, para o ex-presidente Lula, que vinha mostrando certa apatia em relação à candidatura da afilhada política. “Agora, Lula vai enlouquecer e partir com tudo para cima de Marina”, destaca um assessor palaciano.

Nova onda de rebaixamento

» A onda de rebaixamento do PIB continua. Pelos cálculos do Santander, em vez de 0,9%, a economia crescerá 0,3% neste ano. Ou seja, nada. Para 2015, a projeção recuou de 1% para 0,9%. Entre os economistas do Bank of America Merrill Lynch, a estimativa de avanço do PIB em 2014 cedeu de 0,7% para 0,2%. No ano que vem, caiu de 1,5% para 1%.

Terceiro trimestre ruim

» Para o Santander, apesar de o governo estar batendo bumbo, acreditando que a economia vai se recuperar neste segundo semestre, o PIB entre julho e setembro vai decepcionar novamente. O resultado só não será negativo, dizem os economistas do banco, por causa do maior número de dias úteis e, claro, porque a base de comparação será muito baixa. A economia encolheu 0,6% no segundo trimestre do ano.


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