Por Rodrigo
Constantino, 26/09/2014,
Ainda não digeri a entrevista que o banqueiro Ricardo Lacerda concedeu a Geraldo Samor, e que já
comentei aqui. Assumindo que se
trata de uma análise isenta, sem interesses monetários envolvidos, como pode
alguém com tal cargo adotar postura tão ingênua? De onde ele tirou a ideia de
que Dilma seria mais pragmática e teria bom senso no segundo mandato, se todos os indícios apontam na direção contrária?
O banqueiro deveria ler com muita atenção a coluna de Rogério Werneck hoje no GLOBO. O professor da PUC mostra justamente
como Dilma emite todos os sinais de que não só ignora seus tantos equívocos,
como pretende insistir nos erros e dobrar a aposta. Basta ter olhos para
enxergar e ouvidos para escutar. Diz ele:
O que é especialmente desanimador é
que não se vê, no discurso da presidente Dilma, o mais tênue sinal de
disposição para corrigir o rumo da política econômica, à luz dos equívocos
cometidos nos últimos anos. A impressão que se tem é que a intenção da
candidata à reeleição é dobrar a aposta e persistir-nos mesmos erros, na vã
esperança de que o desempenho da economia no segundo mandato acabe por lhe dar
razão. [...]
“Então o que nós achamos?”, indaga
Dilma. “Nós achamos que a gente tem de ver como é que evolui a crise”, pois,
“se ela evoluir para uma situação um pouco melhor”, o país “pode entrar em uma
outra fase, que precisa menos estímulos”, “pode ficar mais entregue à dinâmica
natural da economia e pode, perfeitamente, passar por uma retomada”.
Parece difícil de acreditar, mas não
foi mais do que isso que a candidata a presidente que, com folga, lidera as
pesquisas de intenção de voto no primeiro turno, tinha a dizer sobre como
pretende lidar com os sérios desafios de política econômica que o país tem pela
frente.
Ontem mesmo a presidente ridicularizou quem fala em necessidade de
choque fiscal, repetindo um discurso digno do PSOL, de que isso seria cortar
benefícios dos pobres para alegrar banqueiros. O próprio banqueiro pode, claro,
esforçar-se muito para crer que tudo não passa de jogo de cena, de discurso
eleitoral – ou eleitoreiro – para manter-se no poder, e que logo depois a
presidente mudaria radicalmente seu discurso e beberia na fonte da razão.
Mas convenhamos: é mais fácil acreditar que um unicórnio chegará voando
em sua casa, trazendo junto o Coelhinho da Páscoa e o Saci Pererê, e todos
juntos cantarão uma bela canção de ninar para seu filho. Quem lida com fatos, e
não com esperanças desprovidas de fundamento, não tem como negar: tudo aquilo
que Dilma diz e faz demonstra que é o modelo argentino que ela visa, não uma
mudança correta de rumo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário