Por Juremir Machado da Silva, 30/09/2014,
Olho o mapa dos poderes e vejo um descalabro
geral. O ministro Luís Fux (STF) concedeu auxílio-moradia de mais de quatro mil
reais a toda a magistratura. Fux é o mesmo que, faz alguns meses, posava de
paladino da moral e da preocupação com o dinheiro público. Depois disso, virou
lobista da filha, uma patricinha de 32 anos, sem grande experiência jurídica,
que tentou emplacar no cargo de desembargadora na cota da OAB. Sim, tem esse
tipo de cota. Chama-se quinto constitucional. Não é racial nem de classe. Mas
acaba quase sempre com brancos ricos. Olha o mapa dos poderes e vejo que esse
auxílio-moradia dos togados é o segundo, pois, há pouco, houve outro, diluído
sob o nome de Parcela Autônoma de Equivalência. Olho o mapa dos poderes e vejo
que os togados gaúchos votarão hoje uma nova teta para eles mesmos:
auxílio-alimentação. Logo eles que ganham subsídios.
Subsídio é termo inventado para pagar o
judiciário com um pacote sem discriminações, o que deveria impedir novos
penduricalhos. A plebe também quer poder aumentar o próprio salário. Eu quero.
Olho o mapa dos candidatos e vejo, ainda vejo, ainda não se apagou na sucessão
de escândalos, que Aécio Neves mandou construir aeroporto em terras da família,
que Dilma, na direção da Petrobrás, autorizou um negócio absurdo de compra de
uma refinaria nos Estados Unidos e que Marina Silva tem como conselheira e
amiga a herdeira do Itaú. Olho o mapa dos poderes e fico sabendo que o
presidente da CAPES, relevante organismo do Ministério da Educação, defende a
contratação de professores para as universidades federais sem concurso sob o
argumento de que os concursos são “jogos de cartas marcadas”. Uau!
O que espanta na afirmação de
Guimarães, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, é a
possibilidade de que ela seja verdadeira, o que se viu recentemente, num
concurso transformado em polêmica e em contenda judicial, na Faculdade de
Direito da UFRGS. Em lugar de se tomar providências, melhor driblar os
concursos? A culpa é sempre do sofá. A oposição aproveita e grita em tom de
pergunta e escárnio: “Depois do Mais Médicos, o Mais Professores”? Olha o mapa
dos poderes e vejo velhos profissionais da mídia tentando abocanhar os poderes
que sempre criticaram para, obviamente, fazer diferente, mas com velhas
receitas que não se mostraram eficientes, embora sempre soem modernas na boca
dos marqueteiros e dos empresários desejosos de pagar menos impostos sem deixar
de pedir mais serviços e benefícios ao Estado via BNDES.
Olho o mapa dos poderes e vejo
executivo, judiciário e legislativo sem muita independência. Um tentando
adquirir as “vantagens” obtidas pelos outros em nome da isonomia e do
equilíbrio do saque legal aos cofres públicos. Olho o mapa dos poderes e digo
com elegância: foi-se o boi com a corda, a égua com os arreios e o magistrado
com a toga. Olha o mapa dos poderes e vejo o prefeito de Porto Alegre, filiado ao
PDT de Leonel Brizola, não se atrever a sancionar lei de Pedro Ruas, do PSOL,
trocando o novo da Avenida Castelo Branco, homenagem a um ditador, para Avenida
da Legalidade.
Vou-me embora para Palomas. Lá não tem
mapa nem poderes. Mando eu.
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