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domingo, 12 de outubro de 2014

Homem coerente (Fonte: CP 05/06/2013).



Por Juremir Machado da Silva, 05/09/2013,
 www.correiodopovo.com.br.
 
U
m homem coerente precisa parecer incoerente aos olhos dos dogmáticos. Só os néscios mostram-se sem brechas nem sinuosidades. Um humanista não conservador coerente, de 1989 para cá, votou por Brizola ou Lula na primeira eleição pós-ditadura, aplaudiu a queda do Muro de Berlim e o fim do socialismo real do Leste europeu, apoiou a abertura do Brasil aos mercados internacionais defendida pelo presidente alagoano, vibrou com o fim do nacionalismo retrógrado em matéria de informática, aderiu à luta pelo impeachment de Collor, saudou, na contramão do petismo, o Plano Real e a estabilização da economia, defendeu privatizações, por exemplo, na telefonia, e atacou o que Elio Gaspari chama de “privataria”, uma ideologia do desmonte do Estado feita com dinheiro público, pouca transparência e excesso de certezas.
Um homem coerente recusa o Estado máximo e o Estado mínimo, investe contra o neoliberalismo, contra as utopias de esquerda autoritárias e busca criticar a esquerda sem cair no direitismo nem se refugiar na pasmaceira centrista dos muros. Defende o liberalismo em se tratando de liberdade de expressão, mas compreende a necessidade de democratização da mídia e de ampliação da democracia formal para uma democracia mais participativa. Se precisar, defende estrategicamente o neoliberalismo contra o stalinismo e, sempre, ataca o stalinismo em nome da liberdade. Eu, que considero a coerência absoluta burra e inumana, tenho buscado o máximo de coerência humana e inteligente na minha vida: ataquei o petismo stalinista e o lullismo mensaleiro. Mas não deixo de denunciar tentativas ideológicas da direita de transformar o PT no inventor da corrupção no Brasil.
Nunca fui de direita. Não sou de esquerda> Nem de centro. Nunca tive partido. Essa liberdade me permite valorizar e criticar políticas de qualquer partido. Mas recuso e sempre recusei o conservadorismo defensor da desigualdade como um sistema de hierarquia social.  O Brasil de FHC deu-nos o decisivo Plano Real. Lula e Dilma, com as políticas sociais, algumas continuando ou ampliando políticas do governo anterior, fizeram o país dar mais um passo à frente. Cotas, ProUni e Bolsa Família, com problemas e contradições, são grandes acertos. Só os cegos ideológicos não admitem isso. Um humanista não conservador só pode apoiar a Comissão da Verdade e rejeitar a tese dos “dois lados”, pois um lado, o do que resistiram à ditadura, foi investigado, processado e julgado pelo Superior Tribunal Militar.
Um homem coerente precisa andar meio de lado. Só não aparentam contradições os que se comportam ideologicamente como monoblocos. A ilusão do ideologismo de esquerda é imaginar que pode ver a ideologia adversária de um ponto fora do sistema. A falácia do ideologismo de direita é pensar que ideologia é uma irrealidade de esquerda. Eu, que jamais fui de direita, nunca me constrangi em apoiar posturas abertas e emancipadoras de direitistas. Parte da melhor crítica ao petismo, porém, hoje é feita pelo PSol. Um homem coerente não teme patrulhas ideológicas, mantém sua alma livre, expõe-se e faz da vida um combate à cegueira mesquinha.

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