Total de visualizações de página

domingo, 12 de outubro de 2014

OPOSIÇÃO NO PODER



Por Vicente Nunes, 30/08/2014,
 www.crreiobraziliense.com.br.

Se havia algum temor entre os investidores em relação a um possível governo de Marina Silva, caso ela vença as eleições de outubro próximo, tudo se dissipou ontem. “Nada pode ser pior do que um segundo mandato da presidente Dilma Rousseff”, foi a frase mais repetida nas mesas de operação de bancos e corretoras, depois de o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmar que o Brasil entrou em recessão.

A visão do mercado é de que o tombo do Produto Interno Bruto (PIB), de 0,2% no primeiro trimestre do ano e de 0,6% entre abril e junho, foi a sentença de morte da política econômica do atual governo, que destruiu a confiança de empresários e consumidores e condenou o país a perder pelo menos meia década. Desde 2011, quando Dilma tomou posse, a média de crescimento da economia ficou em 1,5%, praticamente nada para um país que ainda tem muitos problemas sociais a resolver.

Como este já é um ano perdido, os olhos, agora, se voltam para 2015. Os investidores não têm dúvidas de que, sem o PT no governo, qualquer que seja o vencedor das urnas em outubro próximo, alçará o país novamente ao posto de “queridinho do mercado”. Basta, para isso, que o futuro ocupante do Palácio do Planalto anuncie um ajuste fiscal consistente, sem as manobras que se tornaram a marca de Arno Augustin no Tesouro Nacional, e retome a autonomia do Banco Central.

Nos cenários traçados pelos investidores, com a oposição no poder, o dólar cairá para um patamar entre R$ 1,90 e R$ 2, mesmo com o aumento das taxas de juros nos Estados Unidos, que tende a atrair capitais que hoje circulam pelas nações emergentes. Com isso, o BC brasileiro não será obrigado a promover um novo arrocho monetário para manter a inflação sob controle. Não se pode esquecer que, até bem pouco tempo, quando Dilma aparecia como líder absoluta nas pesquisas de intenção de votos, o mercado previa um aumento da taxa básica (Selic) de até três pontos percentuais, de 11% para 14%.

Com o dólar rodando perto de R$ 2, também não haveria necessidade de se reajustar a gasolina e o diesel, uma vez que a defasagem em relação aos valores praticados no mercado internacional seria praticamente zerada. Ou seja, a pressão dos preços administrados diminuiria, concentrando-se, basicamente, nas tarifas de energia e de transporte urbano. Por tabela, a inflação se acomodaria em torno de 6%, ainda alta, mas com tendência de queda mais rápida, devido às expectativas positivas dos agentes econômicos quanto ao futuro do país.

Crescimento mais forte, porém, somente a partir de 2016. Na visão dos especialistas, mesmo que a oposição siga a cartilha esperada pelo mercado, o consumo das famílias não se recuperará na velocidade desejada, devido à corrosão do poder de compra pela resistência da inflação próxima ao teto da meta, de 6,5%, por tanto tempo. Além disso, os consumidores estão muito endividados e não há intenção dos bancos em acelerar a oferta de crédito sem a certeza de que o mercado de trabalho resistirá a tantos estragos na economia. Quanto aos investimentos produtivos, o empresariado só pede uma coisa para desengavetar os projetos para a ampliação das fábricas: previsibilidade.

Malas começam a ser arrumadas

A sexta-feira foi de horror no Palácio do Planalto. Não bastasse o IBGE ter mostrado o país em recessão, o que deu argumentos de sobra para a oposição bater no governo durante todo o dia, à noite, confirmou-se o pior dos mundos com a divulgação da nova pesquisa do Datafolha. Marina Silva, do PSB, empatou no primeiro turno com Dilma — 34% a 34% — e a venceria facilmente no segundo, por 50% a 40%. Aliados da candidata petista já admitem que a onda que embalou Marina pode levá-la a vencer ainda na primeira fase de votação. “Infelizmente, os sinais nos recomendam a começar a arrumar as malas para desembarcar do governo”, admite um ministro do amplo trânsito no gabinete de Dilma.

Por essa, Mantega não esperava

» Guido Mantega não economizou nos esforços para se tornar o ministro da Fazenda mais longevo da história. Ele só não contava encerrar seu trabalho com a economia estagnada e carimbado pela menor taxa média de crescimento em um governo em mais de duas décadas. Isso, sem esquecer que, em 2009, incorporou uma queda no PIB em seu currículo.

Gula por impostos

» Apesar de o país estar em recessão, à gula do governo por impostos continuou enorme. Pelos cálculos do IBGE, no segundo trimestre do ano, o setor público arrecadou R$ 183,65 bilhões somente com tributos sobre produtos, 2% a mais que em igual período do ano passado.

Percepção de piora é clara

» Reinaldo Gonçalves, professor de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acredita que a recessão da economia enterrou a possibilidade de reeleição de Dilma. Para ele, assim como o avanço do PIB de 7,5% em 2010 alçou a petista ao cargo máximo da República, agora a retração da atividade a tirará do poder. “Embora as pessoas tenham dificuldade para entender os termos técnicos do PIB, a percepção de que as coisas estão ruins é clara. Você vai ao shopping e vê lojas fechando. Ouve falar que o filho do amigo perdeu emprego. Isso está no cotidiano. Muita gente que está desanimada faz tempo resolveu, finalmente, votar contra o governo”, afirma.

Nenhum comentário:

Postar um comentário