Direto ao Ponto,
por Augusto Nunes, 03/09/2014,
www.veja.com.br.
Dilma
Rousseff perde o sono em dia de pesquisa e perde o controle dos nervos em noite
de debate. É compreensível que se apavore ao imaginar-se conversando com um
jornalista independente. Ao escapar do encontro com o excelente William Waack,
a fugitiva do Jornal da Globo poupou o cérebro baldio do colapso que seria
inevitavelmente consumado pelas perguntas que aguardavam a entrevistada.
Confiram:
1. Os últimos índices oficiais de crescimento
indicam que o país entrou em recessão técnica. A senhora ainda insiste em
culpar a crise internacional, mesmo diante do fato de que muitos países
comparáveis ao nosso estão crescendo mais?
2. A senhora continuará a represar os preços da
gasolina e do diesel artificialmente para segurar a inflação, com prejuízo para
a Petrobras?
3. A forma como é feita a contabilidade dos gastos
públicos no Brasil, no seu governo, tem sido criticada por economistas, dentro
e fora do país, e apontada como fator de quebra de confiança. Como à senhora
responde a isso?
4. A senhora prometeu investir R$ 34 bilhões em
saneamento básico e abastecimento de água até o fim do mandato. No fim do ano
passado, tinha investido menos da metade, segundo o Ministério das Cidades. O
que deu errado?
5. Em 2002, o então candidato Lula prometeu
erradicar o analfabetismo, mas não conseguiu. Em 2010, foi à vez da senhora, em
campanha, fazer a mesma promessa. Mas foi durante o seu mandato que o índice
aumentou pela primeira vez, depois de quinze anos. Por quê?
6. A senhora considera correto dar dentes postiços
para uma cidadã pobre, um pouco antes de ser feita com ela uma gravação do seu
programa eleitoral de televisão?
O que há
com Aécio Neves que até agora não formulou nenhuma dessas perguntas ─ claras,
concisas e contundentes ─ em debates na TV ou no horário eleitoral? O que
espera o terceiro colocado nas pesquisas (e em queda) para acrescentar à
sequência de interrogações dezenas de outras amparadas no colosso de casos de
polícia protagonizados pelo governo em decomposição? Por que não força a
candidata à reeleição a afundar agarrada a respostas bisonhas e álibis mambembes?
Para continuar sonhando com o segundo turno, Aécio deve gastar muito mais
chumbo com a presidente sem rumo do que com Marina. É Dilma a concorrente
a ser batida.
A onda
cavalgada por Marina parece exibir força e fôlego suficientes para alcançar a
praia do Planalto. É na onda antipetista, de dimensões igualmente
impressionantes, que Aécio Neves talvez consiga surfar. Aí reside a chance
derradeira. O PT está cada vez mais grisalho e enrugado. Sumiu o Lula que
instalava postes em qualquer gabinete. Quase todos os companheiros candidatos a
governador estão mal no retrato. Alguns patinam ofegantes na zona do
rebaixamento. Em São Paulo, por exemplo, Alexandre Padilha, nulidade produzida
e dirigida pelo chefe supremo, nem chegou aos dois dígitos.
Até
agora, os milhões de indignados com os fora da lei no poder não têm porta-voz
na temporada de caça ao voto. Nenhum candidato à Presidência ou a governos
estaduais traduz o que vai pela mente e pela alma dos humilhados e ofendidos
por 12 anos de corrupção, descaramento, cinismo, inépcia, cafajestagem,
arrogância, vigarice, cupidez, imoralidade, pouca vergonha, acasalamentos
promíscuos com escroques internacionais, agressões à liberdade e ao Estado
Democrático de Direito. Fora o resto.
Na
paisagem eleitoral, falta o candidato da indignação. Talvez haja tempo para que
Aécio Neves se transforme no que desde sempre deveria ter sido e não foi.
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