Por
Augusto Nunes, 29/09/2014,
“Uma das prioridades do meu governo é o combate sem tréguas à
corrupção”, recitou Dilma Rousseff em Nova York, esforçando-se para envergonhar
o Brasil na ONU sem parar de tapear o eleitorado. Na sexta-feira, já de volta
ao Planalto, à protetora da turma que, patrocinada pelo governo, faz bonito no
campeonato mundial da corrupção recomeçou o espancamento da verdade.
“No meu segundo mandato, uma das coisas que pretendo atacar é a
impunidade, com o fortalecimento das instituições que fiscalizam e punem atos
de corrupção, lavagem de dinheiro e outros crimes financeiros”, fantasiou já na
abertura da entrevista coletiva. Foi a continuação da interminável Ópera dos
Vigaristas, que estreou há 12 anos com reedições mensais, tornou-se um clássico
no capítulo do mensalão (veja o vídeo do Implicante) e hoje afronta o país com
atualizações semanais.
Até um estagiário sem filiação ao PT sabe que Dilma fez, faz e
continuará a fazer o diabo para perpetuar a corrupção impune que Lula
institucionalizou. Os entrevistadores presentes, caprichando na cara de
paisagem, limitaram-se a anotar o que a candidata dizia. A candura sugere que
concordam com Dilma: o papel da imprensa é divulgar o que diz um governante,
sem incomodar o declarante com réplicas, dúvidas ou mesmo pedidos de esclarecimento.
Nenhum deles ousou perguntar por que a presidente não fez no primeiro
mandato o que a candidata promete fazer no segundo. Ninguém lembrou à defensora
das instituições fiscalizadoras ou punitivas que o seu governo emasculou os
órgãos de controle interno, vive obstruindo o avanço de investigações da
Polícia Federal que sobressaltam meliantes de confiança e intensifica o
aparelhamento do Judiciário com nomeações repulsivas, fora o resto.
A caçadora de corruptos só existe enquanto dura um palavrório
eleitoreiro. No Brasil real, o que há é uma nulidade que, no comando do governo
formado por incapazes capazes de tudo, age o tempo todo como amiga, admiradora
e comparsa de todos os companheiros delinquentes. Foi assim no escândalo do
mensalão, inspirador do vídeo em que contracenam vilões e homens da lei. No
primeiro grupo, falta a presidente que desfigurou o elenco com a substituição
de ministros honrados por ministros da defesa de culpados. Fez isso para
garantir aos corruptos condenados um final menos infeliz.
Na coletiva, os entrevistadores nem tocaram no assunto. Coerentemente,
também ficou fora da conversa o papel desempenhado por Dilma na sequência de
absurdos que reduziram a Petrobras a uma usina de bandalheiras bilionárias. A
ministra de Lula avalizou a infiltração de corruptos na cúpula da estatal. A
chefe da Casa Civil negou-se a apurar as primeiras denúncias sobre o ovo da
serpente. A presidente do Conselho endossou negociatas de dimensões
amazônicas. A chefe do governo só não presidiu o velório da Petrobras
porque a Polícia Federal capturou alguns coveiros e interditou o necrotério.
O amável diálogo de sexta-feira passou ao largo de questões incômodas
porque, aos entrevistadores, pouco importa o que efetivamente interessa aos
brasileiros que bancam o prejuízo. Como a entrevistada, eles também imaginam
que besteirol presidencial é notícia a divulgar com destaque e sem ressalvas. E
acham que merece virar manchete qualquer mentira de bom tamanho contado pela
madrinha de meliantes fantasiada de Mãe da Pátria.
A mais recente fez de conta que a Padroeira dos Corruptos resolveu
castigar os criminosos que sempre acobertou.
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