Texto de Mônica El Bayeh
Na 'Visita' de hoje, Mônica se revolta, como
professora e mãe, contra a boquinha educação pedida pelos juízes
- Ele tem de roubar, professora! Ele
tem três filhos para sustentar!
- Pois eu tenho dois e não roubo ninguém.
- Pois eu tenho dois e não roubo ninguém.
O raciocínio de minha aluna faz um
desvio do bem, da ética e da moral para proteger quem lhe é querido. É um
raciocínio torto e cínico. É aluna de escola pública. Pobre. Favelada. Explica?
Justifica? Pois tem juiz fazendo pior. Muito pior.
O mais recente raciocínio torto e
cínico do Poder é a boquinha educação que os juízes e desembargadores querem
para si.
A desembargadora Leila Mariano, presidente
do Tribunal de Justiça do Rio, enviou um projeto de lei à Alerj em caráter de
urgência. Ela pede a aprovação de um auxílio-educação de até R$ 7.250 mensais
para filhos de juízes e desembargadores.
Fiquei até feliz, sabia? Eu estou
sendo descontada pelo prefeito Eduardo Paes há meses por conta de uma greve. A
greve da educação era mais do que justa. Mas, aos olhos da justiça vendada, foi
ilegal.
Achei que só eu, sem meu salário,
estivesse na maior pindaíba. E olhe meu espanto: a vida dos juízes está muito
pior! Se estão precisando de ajuda até para pagar escola dos filhos, a coisa
está feia mesmo! Coitados! Fiquei com pena.
Você, que trabalha uma média de
trinta a quarenta horas semanais, ganha R$ 7.250 mensais? Tem ideia de em
quantas escolas um professor de escola pública precisa trabalhar para ganhar
isso? Só para constar, a hora-aula de um professor do estado no Rio de Janeiro
é de R$ 18,42. Isso porque teve aumento mês passado!
O sofrido povo brasileiro mais uma
vez é obrigado a pagar pela mordomia alheia. Farinha pouca meu pirão primeiro,
né? Vamos negociar, doutora? A situação está difícil aqui também. Esse
angu era para ser dividido. Mas para a gente só vem o caroço. Uma vaguinha no
município, nem pensar, Vossa Excelência?
Já que a greve dos professores foi
julgada ilegal, é sinal de que os educadores estão enganados. E que as escolas
do município são tão boas que seriam um lugar perfeito para seus filhotinhos
amados. Isso fora o intercâmbio cultural que eles fariam com o pessoal lá do
morro! Desculpe, é comunidade agora. Esqueci. Faz toda a diferença!
Nomenclatura é tudo!
Consigo visualizar seus filhos
subindo morro para fazer trabalho de grupo. Vão de motorista, de Kombi ou de
motoboy? Os meninos vão ensinar seus filhos a soltar pipa, jogar bola descalço,
dançar funk. E como dançam, viu? Parecem de borracha. Nossos meninos também são
bons, Excelência. Também têm potencial e merecem boa educação. Vamos juntar?
No Estado a situação não fica nada a
dever também. A escola que vem sendo sucateada pelos governos passados de
Garotinho, Rosinha, Cabral e Pezão é um lugar seguro, tranquilo, ótimo nível e
acolhedor. Sugiro que experimentem.
R$ 7.250 mensais é muitas vezes mais
que o salário mínimo dos trabalhadores honestos espremidos diariamente nos trens
da Central e nos vagões de metrô. Paga o salário de seis professores e meio. É
triste a situação dos educadores do município e do estado do Rio de Janeiro.
Não é à toa que que, em oito dias, 233 pediram para sair.
O custo desse benefício vale para os filhos
e dependentes dos magistrados que tenham entre oito e 24 anos. Eu não imaginava
que os magistrados amigos estivessem nessa situação. Que me conste, os
magistrados do Rio - ao contrário dos professores - estão entre os mais bem
pagos do Brasil. E recebem salários que chegam a R$ 29 mil. Isso fora os
auxílios. É pouco? Para quem? Para quem paga ou quem recebe?
No Brasil é precisamente o excesso de
boca de uns que deixa os outros na fome. O olho grande dos que têm o poder e o
dinheiro nas mãos, mas não usam para servir. Só para se servir. Vontade de
gritar:
- Ei, não faz isso, não! É meu
também. Trabalhei muito por ele.
Não me escutam. Nunca escutam. Não
lhes pesa o mal que fazem? Não lhes dói a consciência? Ou será que culpa e
ética são coisa só de pobre? Não acredito que seja.
A boquinha de poucos é a fome de muitos, quase todos nós. A voracidade dos que deveriam nos proteger e dar exemplo chega a ser imoral. Vergonha alheia.
A boquinha de poucos é a fome de muitos, quase todos nós. A voracidade dos que deveriam nos proteger e dar exemplo chega a ser imoral. Vergonha alheia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário