Opinião, 03/09/2014, O Estado de São Paulo.
Entra debate, sai debate,
entra entrevista, sai entrevista, e uma mudança não acontece no coração da
campanha eleitoral – a presidente Dilma Rousseff, não sabe dizer ao eleitor o
que pretende fazer se as urnas de outubro a mantiverem por mais quatro anos no
governo do País. É uma omissão espantosa, por onde quer que se a encare.
Admitindo apenas para raciocinar e na contramão de todas as evidências, que o
seu mandato tenha sido a maravilha que ela alega e que só não foi a maravilha
das maravilhas por culpa de uma persistente perversão do sistema econômico
mundial – a sua suposta incapacidade de se recuperar da crise financeira de
2008, ou seja, de seis anos atrás, - soa no mínimo estranho que a candidata
peça um crédito de confiança válido até 2018 lastreando exclusivamente no que
apregoa ser o seu meritório desempenho passado.
Quanto mais não seja, o
crescimento da candidatura Marina Silva nas pesquisas, a ponto de emparelhar
com ela na liderança das intenções de voto, e a perspectiva de uma vitória da
rival no segundo turno deveriam fazê-la enxergar o raquitismo da estratégia
adotada, segundo a qual os feitos que ela não se cansa de alardear seriam
suficientes para levar a maioria do eleitorado a renovar o seu contrato de
locação do Planalto. Ora, os seus fracassos como líder nacional (haja vista a
liderança nas sondagens no quesito “rejeição”) e gestora da economia (haja
vista a recessão a que ela derrubou o sistema produtivo, sem conseguir derrubar
igualmente a inflação) não autorizam que se conclua que ela fracassa também em
entender que as expectativas de futuro são o fator determinante das escolhas
eleitorais. Não é por aí, portanto.
Toda votação, no limite, é
um cotejo entre manter ou mudar. Mesmo quando a tendência da maioria é manter,
esse desejo depende de algo mais do que da insistência dos incumbentes em
prometer que continuarão no caminho que deu tão certo. Para persuadir o público
de que “o bom vai ficar ainda melhor”, têm de apresentar os seus projetos para
tanto. Imagine-se então o que teria de prometer uma candidata à reeleição que,
além de ter contra si os 35% dos eleitores que dizem que não votarão nela “de
jeito nenhum”, foi posta diante do desafio de se haver com os 80% do eleitorado
que exige mudanças na condução do governo – dos quais apenas uma minoria
acredita que elas virão com ela. Apesar disso, é ensurdecedor o silêncio de
Dilma em relação ao que pretende fazer pelo País nos próximos quatro anos.
O que a Presidente tem dito
- além de acusar Marina de acenar com projetos da ordem de R$ 140 bilhões sem
explicar de onde virá esse dinheiro e de profetizar que os planos do tucano
Aécio Neves provocarão o desemprego – é quão difícil é ser presidente (“tenho
de matar um leão por dia, escalar um Himalaia por dia”), que a imprensa não
divulga as majestosas realizações de seu governo no campo da infraestrutura e
que “o pessimismo” impede que a economia esteja ainda melhor do que está,
apesar da “crise” no exterior – sem recessão nem inflação. No debate de
anteontem, Marina foi ao ponto quando disse que a rival, por ser incapaz de
reconhecer qualquer erro que tenha cometido, é também incapaz de se corrigir.
E, acrescente-se, de trazer ideias concretas e inovadoras para o debate sobre o
futuro imediato.
Ajuda a complicar as coisas
para Dilma o fato de ela não ter do que se gabar em matéria de avanços sociais
comparáveis aos de seu antecessor. Quando fala das “nossas” conquistas,
apropria-se indevidamente do legado de Lula. A propaganda enganosa incluí
também ela creditar a si a redução da pobreza e o advento da nova classe média-
a qual, aliás, passou a consumir
menos em razão da alta dos preços e da incerteza em relação aos empregos que
respaldaram o seu endividamento familiar. Eis por que, se o eleitor do Bolsa
Família (renda familiar de até 2 salários mínimos) ainda continua
majoritariamente fiel à presidente, dando-lhe 48% das preferências, ante 43%
para Marina, no estrato emergente e cada vez mais ressabiado (de 2 a 5 salários),
a ex-senadora leva a melhor por 54% a 30%.
Dilma tem cada vez menos o
que prometer para um número cada vez maior de eleitores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário