Por Augusto Nunes, 14/09/2014,
www.veja.com.br.
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Texto de Reynaldo Rocha
Não é fácil ir contra a corrente. Quase sempre se morre afogado.
Tentarei me manter à tona.
Temos por princípio nos isolar do todo, criticando a figura do “povo”.
Como se não fizéssemos parte dele. Cada um de nós tende a se sentir superior ao
que parece uma entidade etérea: o “povo”.
Navegantes no mesmo barco, nós somos o povo. E como tal estamos
falhando. Não se trata de um argumento antropológico. É constatação.
É assustadora a docilidade com que aceitamos o desvio e a falta de
ética. Qual será o limite além do qual voltaremos às ruas? Até onde irá à
resiliência que suporta tantas aberrações? Será que nem mesmo a fadiga de
material é suficiente para que haja RESISTÊNCIA?
Os donos do poder foram acusados de comprar o silêncio de bandidos. E
nem sequer se manifestam, por saberem que não precisam. Não serão cobrados pelo
que chamamos de “povo” – do qual, queiramos ou não, fazemos parte!
A corrupção está tão banalizada que é preciso provar a ocorrência de
qualquer desvio com vídeos ou gravações. Menos que isto não serve.
Temos um Poder Judiciário que é leniente. E uma nação que é dócil. A
combinação é desastrosa.
O que aconteceria se Obama fosse acusado – com provas – de ter repassado
dinheiro a bandidos para não ser envolvido em um escândalo? Onde estaria Ângela
Merkel se recorresse numa campanha política às inverdades e distorções abjetas
que Dilma usa diariamente?
O Brasil parece estar sob o efeito de uma anestesia permanente.
Mas um dia isso acaba. E a dor será intensa.
Somos culpados. Todos, mesmo os que lutam e são movidos pelas melhores
intenções.
Ser um ativista de teclado faz a diferença. Mas não traz a mudança. Na
WEB, somos minoria. Temos acesso a informações. Podemos pesquisar dados e
confrontar as mentiras com a realidade. Mas ainda somos poucos.
“Faça em você mesmo a mudança que quer ver no mundo”, ensinou Gandhi.
Estamos fazendo?
Às vésperas das eleições mais importantes desde a retomada da
democracia, já erramos muito. Aprendemos muito. E nunca desistimos.
Mas é preciso mais: temos de assumir riscos, de nos expor. Temos de participar
de tudo que evite a continuação do pesadelo.
Anestesia faz parte de um processo de cura. E também pode matar.
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