Por Reinaldo Azevedo, 06/10/2014,
www.veja.com.br.
Vejam
este mapa, em que o vermelho indica os Estados em que Dilma Rosseff (PT)
venceu; o azul, aqueles em que o vitorioso foi Aécio, e os amarelinhos, os que
Marina conquistou:
Votos
de pessoas beneficiadas e não beneficiadas por políticas assistencialistas
valem igualmente. Ainda bem! Assim deve ser numa democracia. Votos de pessoas
mais sujeitas e menos sujeitas às chantagens oficiais valem igualmente. Ainda
bem! Assim deve ser numa democracia. Votos de pessoas suscetíveis a pregações
terroristas e não suscetíveis valem igualmente. Ainda bem! A democracia não tem
de criar restrições para o livre exercício da escolha. Mas isso não nos impede
de fazer um diagnóstico.
O PT
já é o maior partido de grotões do Brasil democrático em qualquer tempo. Querem
ver? Dilma venceu em 15 Estados: oito estão no Nordeste, quatro no Norte, dois
no Sudeste e um no Sul. Essas três exceções parecem negar a tese, mas só a
confirmam. Explico por quê. Em Minas, a petista teve 43,48%, não tão distante
de Aécio Neves, com 39,75%; Marina obteve 14%. No Rio, a candidata do PT
alcançou 35,62%, quase o mesmo tanto da peessebista, com 31,07%; o tucano
chegou a 26,84%. Os gaúchos deram à presidente-candidata 43,21%, quase o mesmo
tanto que ao senador mineiro: 41,42%. Vale dizer: a vantagem do petismo não é
acachapante.
Onde
é que Dilma, de fato, fez a diferença e arrancou a primeira colocação: em oito
estados nordestinos — a exceção é Pernambuco — e nos quatro nortistas. Nesse
grupo, pasmem, a sua menor marca foi Alagoas, com 49,95%, e a maior foi no
Piauí, o segundo estado com os piores indicadores sociais do país: 70,6%. A
segunda maior foi no Maranhão, com 69,56% — sim, é a unidade da federação
socialmente mais perversa. Assim, os dois Estados que oferecem a pior qualidade
de vida à sua população são os mais “dilmistas”. Atentem para o desempenho da petista
nos demais, em ordem decrescente: Ceará: 68,3%; Bahia, 61,4%; Rio Grande do
Norte, 60,06%; Paraíba, 55,61%; Sergipe, 54,93%; Amazonas, 54,53%; Pará,
53,18%, Amapá, 51,1% e Tocantins: 50,24%.
Aécio
obteve a sua melhor marca em Santa Catarina, com 52,89% dos votos, seguido por
Paraná, com 49,79%. O Mato Grosso vem em seguida, com 44,47%, e eis que surge
São Paulo, com 44,22%. O Estado deu a Aécio 10.152.688 dos seus 34.897.196
votos — isso corresponde a 29% do total; quase um terço. Minas, até agora, está
em falta com Aécio. São Paulo não! Azulou de vez.
O
Distrito Federal, que conhece bem o PT porque governado pelo partido e porque
muito próximo de Dilma, deu à presidente o seu menor percentual: só 23,02%; o
segundo menor foi justamente o colhido em terras paulistas: 25,82%.
Dois
mapas ajudam a comprovar o que aqui se diz. Vejam o que aconteceu na Bahia —
nas áreas em vermelho, o PT venceu:
Agora
vejam Minas. Como se nota, é a “Minas Nordestina” — ou baiana — que vota
majoritariamente com Dilma.
Muito
bem! Aonde quero chegar? É evidente que os petistas colhem hoje os seus
melhores resultados nas regiões do país que são mais dependentes do Bolsa
Família. Isso não quer dizer, é evidente, que o programa tenha de acabar. Quer
dizer apenas que ele precisa existir não como instrumento de um partido, mas
como uma política de estado. Não é segredo para ninguém que, pela terceira
eleição consecutiva, o terrorismo correu solto nas áreas mais pobres do país:
“Se a oposição ganhar, o Bolsa Família vai acabar”. Ora, não era exatamente
esse o sentido da campanha eleitoral do PT quando se referia à independência do
Banco Central, por exemplo? Se vier, assegura-se por lá, haverá fome. É um
disparate.
Eis
aí mais uma impressionante ironia da história, não é? O PT, que nasceu para ser
o partido das massas urbanas trabalhadoras, é hoje uma legenda que se enraíza
nos grotões e que arranca a sua força do subdesenvolvimento minorado pela
caridade de Estado transformada em moeda política. Há uma grande diferença
entre ter o voto dos pobres e chantagear os pobres com o discurso do medo.