Da gritaria no Senado brasileiro
ao 'gópi' que assistimos na televisão avermelhada de véspera, o certo é que
nada está certo
Por Augusto
Nunes, 10/11/2016,
www.veja.com.br
Texto de Vlady Oliver
Não sei se eu preciso afirmar categoricamente aqui
que também não sou trumpista. Sou um publicitário. Como tal, percebo cada dia
mais intensamente o buraco mais embaixo em que andamos nos metendo.
Provavelmente fruto da imensa tolerância com a burrice generalizada que nos
acossa impunemente, Trump é mais uma das muitas soluções simplistas e erradas,
onde embarcam todos aqueles que não têm mais de cinco minutos de paciência e
compreensão com qualquer assunto que se apresente. É a “decadence”.
Da gritaria no Senado brasileiro ao “gópi” que
assistimos na televisão avermelhada de véspera, o certo é que nada está certo,
no reino da hipocrisia bruta. Sou testemunha, neste nobre espaço de contendas,
que este democrático condomínio permitiu que a gente sempre se manifestasse com
total liberdade, dando nome aos bois, às vacas e a outros animais da fauna que
nos importuna, há tanto tempo e de forma tão insistente. Penso que Trump é a
resposta. A resposta jogada no ventilador. A resposta na Geni. O bosque
encantado, com que sonham todos aqueles que só enxergam o mundo pelos extremos.
O grande problema que vejo, no entanto, é que
outros antes dele também prometeram o tal céu de brigadeiro com cajuzinho, só
que pelo outro lado. Destes, no entanto, a esmagadora maioria da “mídia” não
foi capaz de descrever, com palavras tão certeiras quanto às usadas aqui neste
potente desabafo, o que vinha ocorrendo por debaixo dos lençóis macios. Aí está
o resultado. Eu lamento que muitos aqui não entendam o quanto a sociedade é
reacionária e plebe rude. O quanto está com o saco na lua. O quanto é capaz de
se revoltar e escoicear a realidade até que esta se pareça uma massa disforme e
disfuncional, capaz de se amoldar a qualquer picaretagem que se apresente. O
quanto todos estamos de esgotados desse amontoado de discursos rasos como um
pires.
Alguém pendurado na esquerda disse que “os Estados
Unidos ainda não estão preparados para uma mulher no poder”. Não entendeu nada,
certo? O Brasil estava preparadíssimo para uma mulher no poder. Justo aquela,
de tantas. Aquela que mereceu cada pescoção que levou, muitos deles daqui
mesmo. Pois eu acho que faltam pessoas que falem com essa clareza. Que assumam
posições. Que assumam riscos. Que se tornem referências. E que trabalhem,
principalmente. Se não tem ninguém para assar o bolo, vamos dividir a sobremesa
com essa pobreza toda de que jeito? Taí uma pergunta que os ilustres políticos,
de todos os matizes, deveriam responder primeiro. Estão todos ocupados demais,
penteando os próprios topetes. Vão pentear macacos.
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