No mesmo dia em que Lula
denunciou o Pacto Diabólico, foram presos Rodrigo Tacla Duran e Adir Assad,
considerados peças-chave do esquema
Por Augusto
Nunes, 13/11/2016,
www,veja,com.br
Texto de Carlos Brickmann
O ex-presidente Lula já descobriu os responsáveis
pelas denúncias de corrupção que vem enfrentando: segundo disse a um grupo de
seguidores em São Paulo, são os procuradores da Lava-Jato, a imprensa e o juiz
Sérgio Moro, que fizeram um pacto diabólico para falsamente incriminá-lo. Dos
citados, quem será o Cramulhão, o Canhoto? Lula não esclareceu a dúvida.
Mas o Demônio não é um, é Legião. E há nova
denúncia contra Lula, mais uma vez trazida pela imprensa demoníaca. A revista Istoé
afirma que, em sua delação premiada, o presidente da Odebrecht, Marcelo
Odebrecht, oferece mais munição às hordas de capetas que detestam a cor
vermelha: diz ter dado R$ 8 milhões a Lula em dinheiro vivo. Um Belzebu amador
sentiria cheiro de enxofre. Presente ou pagamento? Pagamento de quê? Por que
usar dinheiro vivo? Ora, rastrear dinheiro vivo é muito mais difícil.
No mesmo dia em que Lula denunciou o Pacto
Diabólico, foram presos Rodrigo Tacla Duran e Adir Assad, considerados
peças-chave do esquema. Empreiteiras contratavam serviços não prestados,
pagavam em cheque a eles e recebiam em troca dinheiro vivo, para comprar
servidores públicos. Duran e Assad foram delatados pela Odebrecht, a antes
celestial benfeitora, a distribuidora de valiosas bênçãos. Deus é o Diabo nesta
terra do Sol.
Lula nega tudo, diz que o Capiroto mente, que
Asmodeu inventou a propina, pois a delação ainda não foi divulgada. Promete
processar a Istoé.
Lúcifer
De acordo com a revista – que circularia
normalmente neste sábado, 12, mas liberou a edição eletrônica dois dias antes —
os pixulecões que Lula teria recebido se referem a suas gestões que ajudaram a
Odebrecht a conseguir obras em Angola e Cuba — especialmente o porto de Mariel.
Purgatório
Lula e o PT não são, de acordo com a reportagem assinada
por Débora Bergamasco, Mário Simas Filho e Sérgio Pardellas, os únicos alvos
das delações premiadas da Odebrecht. Dos R$ 7 bilhões em propinas, houve partes
oferecidas (e aceitas) pela ex-presidente Dilma Rousseff (R$ 1 milhão, em
dinheiro vivo), a 20 governadores e ex-governadores, a uns cem parlamentares,
distribuídos por vários partidos — em especial PT e PMDB, mas atingindo
também dirigentes do PSDB. Há brasas para todos. E um detalhe interessante:
Dilma e Temer foram eleitos pela mesma chapa.
Escrituras
A Odebrecht, organizadíssima, tinha um departamento
de distribuição de pixulecos, com tudo registrado. As delações premiadas têm
mais de 300 anexos com documentos (a entrega de dinheiro a Lula, segundo a Istoé,
ocupa um dos anexos). A documentação dos depoimentos foi preparada por 50
escritórios de advocacia, em Brasília, São Paulo, Rio e Salvador. Trabalham
para a Odebrecht, nessa delação premiada, 400 advogados.
Exorcismo
A reação de Lula ao Pacto Diabólico se inicia com a
ação judicial contra os proprietários da revista e os repórteres que assinaram
a reportagem, A nota de Lula anunciando o processo diz que a revista “é
conhecida no mercado editorial pela venalidade e pela desfaçatez com que vende
reportagens, capas e até editoriais, aos mais diversos clientes'”. E garante
que jamais recebeu ou pediu (…) “valores ilícitos, seja da empresa citada pela
revista ou por qualquer outra”. E acusa: “A má-fé da revista é tão evidente que
os autores sequer procuraram a defesa ou a assessoria do ex-presidente antes de
publicar a mentira”.
O corte das
despesas
Michel Temer diz que, se não cuidar dos gastos, o
Brasil vai à falência em 2023. Luta para aprovar a emenda constitucional que
limita gastos públicos, promete reformar a Previdência para deixá-la mais
barata.
Enquanto isso, o mesmo Michel Temer gastou R$ 596
mil num show, no último dia 7, em homenagem ao centenário do samba — um show exclusivíssimo,
para 600 convidados, com Neguinho da Beija-Flor, Áurea Martins, Márcio
Gomes e André Lara. Fafá de Belém foi contratada exclusivamente para encerrar o
espetáculo com o Hino Nacional. Terminado o show, coquetel para 600 pessoas,
coisa fina. Somos pobres, mas sabemos o que é bom, principalmente quando o
Tesouro paga a conta.
O Legislativo se esforça para ficar à altura do
Executivo: o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, passeia no Azerbaijão com tudo
pago por nós, e ainda recebe diária. No Judiciário, o ministro Ricardo
Lewandowski, que está na faixa mais alta dos vencimentos de servidores
públicos, pede um bom aumento. Se tudo sobe, por que os vencimentos sobem
menos?
Pague sem
espernear
O ministro Lewandowski tem razão: por que os
salários têm de subir menos que os preços? Mas isso deveria valer para todos,
não é mesmo?
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