O foro privilegiado é uma excrescência que precisa
ser eliminada
O relator do projeto das 10
medidas contra a corrupção comentou, entre outros assuntos, as manobras que
procuram obstruir os avanços da Lava Jato
Por Augusto
Nunes, 22/11/2016,
www.veja.com.br
O convidado do Roda Viva desta segunda-feira foi o
deputado federal Onyx Lorenzoni, relator da Comissão Especial da Câmara que
analisa medidas de combate à corrupção, entre as quais as dez propostas pelo Ministério
Público. Formado em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Santa
Maria, o agora presidente do DEM do Rio Grande do Sul nasceu em Porto Alegre há
62 anos. Onyx foi deputado estadual entre 1995 e 2002, quando se elegeu
deputado federal. Tornou-se nacionalmente conhecido em 2005, graças à
combatividade demonstrada nas sessões da CPMI dos Correios, que devassou o
escândalo do Mensalão, e atualmente exerce o quarto mandato consecutivo no
Congresso. Confira alguns trechos da entrevista:
“Existe no
país uma sensação de absoluta impunidade. Espero que o Congresso use este
momento para fazer uma conciliação com as ruas. Os parlamentares precisam ter a
capacidade e a humildade de ouvir a voz das ruas”.
“Com a legislação de hoje, quando um corrupto ou um
corruptor no Brasil põe de um lado da balança o quanto ele vai ganhar e, do
outro, o risco de ser pego, ele tem muito mais a ganhar do que a perder. A
gente precisa virar essa balança”.
“Qual é a
diferença do Mensalão para o Petrolão? Duas coisas: a Lei de Lavagem de
Dinheiro e a colaboração premiada. Se a colaboração premiada existisse na época
do Mensalão, o Lula estaria na cadeia há muito tempo”.
“De 2013 para cá, há uma nova cidadania no Brasil,
que resolveu tomar o país na mão. Ela não tem partido político, não tem um
posicionamento ideológico muito claro. Ela quer arrumar o Brasil. O impeachment
só aconteceu porque essa cidadania foi para as ruas”.
“A aprovação
das medidas contra a corrupção vai tornar muito mais difícil roubar dinheiro
público, o que é muito importante num país como o nosso”.
“Eu me debrucei sobre o projeto sobre abuso de
autoridade do Renan Calheiros e achei muito ruim. A biografia do presidente
Renan explica o porquê. Ele é uma pessoa que vive 24 horas por dia pensando em
como atacar quem está tentando passar o Brasil a limpo”.
“Foro privilegiado é uma excrescência”.
“A fragilidade da legislação fez com que a Itália
se tornasse um país ainda mais corrupto depois da Operação Mãos Limpas. O
grande mérito dos jovens procuradores da Lava Jato é que eles perceberam que,
se não houvesse um instrumento para que o Brasil caminhasse de forma diferente,
o país repetiria isso”.
“Acredito
que a maioria dos parlamentares brasileiros seja comprometida com o país e quer
que o país dê certo. Deseja que seus filhos possam viver num país mais seguro,
que os serviços públicos possam servir às pessoas e não se servir delas”.
“Criamos um novo artigo que criminaliza não só quem
recebe, mas também quem doa para o caixa dois. Se não endurecermos as leis, a
cultura da corrupção não mudará”.
“O Renan Calheiros e o Michel Temer representam um
país muito velho. Não espero do Temer nada além do que ele pode dar, que é
garantir uma certa estabilidade e levar o barco até 2018, sem solavancos, para
entregar o país a quem for eleito”.
“A aprovação dessas medidas é uma oportunidade que
o Congresso tem de dar as mãos à sociedade. É uma chance de mudar a vida das
pessoas. Acho que não teremos mais essa oportunidade pelos próximos 30 anos”.
A bancada de entrevistadores reuniu os jornalistas
André Guilherme Vieira (Valor), Thais Bilenky (Folha), José
Alberto Bombig (Estadão) e Murilo Ramos (Época) e o advogado
Pierpaolo Cruz Bottini, professor de Direito Penal da USP. Com desenhos em
tempo real do cartunista Paulo Caruso, o programa foi transmitido ao vivo pela
TV Cultura.
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