A Justiça ainda confunde prontuários ambulantes com pais da pátria
Por Augusto
Nunes, 30/10/2016,
www.veja.com.br
Em dezembro de 2014, o advogado Modesto Carvalhosa
transformou a entrevista ao programa Roda Viva (assista abaixo) numa
aula magna sobre a praga da corrupção apadrinhada pelos donos do poder — talvez
a obra mais repulsiva entre as tantas obscenidades institucionalizadas por Lula
e expandidas por Dilma Rousseff. Ao longo de 90 minutos, Carvalhosa lancetou
tumores escancarados pelo Petrolão e mostrou como extirpá-los.
Com a bravura de quem lida desde a juventude com
adversários de alta periculosidade, o jurista intimorato demoliu a argumentação
malandra dos insones com o instrumento legal da delação premiada e desmoralizou
os que insistem em neutralizar a Operação Lava Jato com rabulices de porta de
cadeia e chicanas de quinta categoria. Carvalhosa provou que o que prejudica a
governabilidade não é o combate à corrupção, mas a impunidade dos corruptos.
Achar o contrário, comparou, é culpar o remédio por
estragos provocados pela doença. A Lava Jato é solução, não problema. Não pode
terminar antes que seja devassada a última catacumba, não pode ser interrompida
antes que sejam identificados todos os integrantes da quadrilha formada por
bandidos de estimação de qualquer governo. É o que ensina o artigo publicado no
Estadão deste sábado por Modesto Carvalhosa, e reproduzido pela coluna.
O texto demonstra que existe no Congresso uma
milícia fantasiada de “Polícia Legislativa”. A operação autorizada pela Justiça
Federal teve como alvo um bando de jagunços cuja existência insulta a
Constituição e reafirma a desfaçatez do cangaceiro disfarçado de presidente do
Senado. “Eu acredito na Justiça”, disse Renan Calheiros ao saber da decisão do
ministro Teori Zavascki que, na prática, estendeu a imunidade parlamentar à
guarda pretoriana a serviço de parlamentares enredados em bandalheiras
multimilionárias.
Tal frase só será endossada pelo Brasil decente
quando o Supremo Tribunal Federal tratar como se deve um prontuário ambulante.
É o que acaba de fazer Modesto Carvalhosa.
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