Tão logo assumiu o poder, Temer aprovou um forte aumento para as 38
carreiras mais organizadas do serviço público. Custo total, R$ 170 bilhões
Por Augusto
Nunes, 30/10/2016,
www.veja.com.br
Texto de Carlos Brickmann
Nada de hesitações: o importante
é combater a crise, com os sacrifícios que isso exige de todos. O Governo
propôs emenda constitucional que limita os gastos do próprio Governo, e para
aprová-la na Câmara promoveu dois luxuosos e caros banquetes, em palácio, para
centenas de deputados. É bonito ver como o povo, unido, se articula para o duro
embate.
Tão logo assumiu o poder, Temer aprovou um forte
aumento para as 38 carreiras mais organizadas do serviço público. Custo total,
R$ 170 bilhões. Estas carreiras já estão prontas pra enfrentar a crise. E
aprovou outro aumento, de 47%, para outras carreiras bem organizadas, entre
elas a Polícia Federal, no dia seguinte ao da aprovação do limite de gastos do
Governo. O funcionalismo desses setores já está apto a enfrentar a crise.
O Governo é que ainda está atrapalhado: em
setembro, seu déficit foi de R$ 25,3 bilhões – um recorde, quase o quádruplo de
setembro do ano passado. Em 12 meses, o buraco federal já chegou a R$ 138
bilhões. E o orçamento prevê que, em dezembro, o rombo pode bater em R$ 170
bilhões – praticamente o custo daquele primeiro momento de generosidade
oficial. Como é duro um Governo preparar seus servidores para a crise!
Os bancos se armaram para a crise jogando os juros
ao alto. Cartões, 15,7% ao mês; cheque especial, 324% ao ano. E nós? Que quer,
moleza? Ganhando menos na crise, temos é de trabalhar mais. Se houver emprego.
Questão de
detalhes
A nova rodada de aumentos foi tão discreta que a
líder do Governo no Congresso, senadora Rose de Freitas, de nada sabia. Era
contra e decidiu deixar o cargo. A aprovação, por uma comissão da Câmara,
ocorreu só oito horas após o plenário aceitar a emenda constitucional que impôs
limites aos gastos oficiais. A tática era deixar o aumentão passar
despercebido, sob a sombra da emenda. Nem isso deu certo. A base não chegou a
rachar, mas muitos parlamentares se sentiram enganados. E vão cobrar.
O
equilibrista
Temer deve escolher, para a liderança do Governo no
Congresso, o senador Romero Jucá, do PMDB de Roraima. Jucá é um político de
excelente trânsito em todas as áreas: foi presidente da FUNAI com Figueiredo,
governador nomeado de Roraima com Sarney, ministro e vice-líder do Governo com
Fernando Henrique, líder do Governo no Congresso com Lula e Dilma, ministro com
Temer. Um político de convicções firmes: está sempre com o Governo. Se o
Governo muda, problema do Governo.
Serra,
Temer, Odebrecht
A delação premiada de Marcelo Odebrecht e de 80
dirigentes de suas empresas está marcada para o dia 8. Mas as informações já
começaram a vazar. As mais explosivas se referem ao presidente Michel Temer e
ao chanceler José Serra. Serra, o mais atingido pelos vazamentos, teria
recebido R$ 23 milhões da Odebrecht, no Brasil e na Suíça, na campanha presidencial
de 2010. Ao assinar a delação premiada, a Odebrecht entregaria os comprovantes
dos depósitos no Brasil e no Exterior. Serra disse que “não vai se pronunciar
sobre vazamentos de supostas delações relativas a doações feitas ao partido em
sua campanha”.
Lula, o réu
O juiz Sérgio Moro marcou para 21 de novembro as
primeiras audiências do processo contra Lula. Devem ser ouvidos, até o dia 25,
Nestor Cerveró, Fernando Baiano, Paulo Roberto Costa, Delcídio do
Amaral, Pedro Correia e Alberto Youssef. Depois, Moro deve ouvir Léo Pinheiro,
ex-presidente da empreiteira OAS, sobre o triplex do Guarujá.
As preliminares estão pegando fogo: Lula decidiu
abrir processo contra o delegado Felipe Hile Pace, da Polícia Federal, que o
identificou como o “Amigo” citado nas planilhas da Odebrecht. Pede
indenização de R$ 100 mil. E insiste em afastar Moro, considerando-o parcial e,
portanto, suspeito.
As novidades
Zeca Dirceu, filho de José Dirceu, e Antônio
Palocci são agora réus.
Voa,
dinheiro!
A Saudi Aramco, uma das maiores empresas
petroleiras do mundo, controlada pela família real saudita, informou que um
funcionário se envolveu em caso de corrupção com a Embraer. O caso ocorreu
durante as negociações para a venda de três jatos EMB-170, em 2010. A Embraer
não se manifestou sobre a acusação. O informe saudita não dá detalhes do caso.
Reformar sem
reforma
Não leve a sério o noticiário sobre a reforma
política, cuja discussão começa nos próximos dias. A reforma é necessária: as
campanhas são caras demais, exigindo doações demais (e, depois, há a
retribuição); há parlamentares demais; há partidos demais. Mas que parlamentar
irá mudar o sistema pelo qual se elegeu? É onde sabe se mover. Mudar, jamais.
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