Salvador, capital da colonização
escravocrata, concentra ansiedade pública pelas revelações dos Odebrecht e seus
executivos sobre corrupção
Por Augusto
Nunes, 31/01/2017,
www.veja.com.br
Texto de José Casado publicado no Globo
É na Bahia onde se espraiam os efeitos mais
corrosivos das confissões da Odebrecht, validadas ontem pelo Supremo — conseqüência
natural da identidade baiana construída há nove décadas pela família
controladora do grupo.
Salvador, capital da colonização escravocrata,
concentra ansiedade pública pelas revelações dos Odebrecht e seus executivos
sobre corrupção. Prevalece a convicção de que devem se refletir em mudança de
rumos da política e dos negócios no estado.
O clima é similar ao observado em Brasília. Com
agravantes derivados da atenção pública aos ruídos de embates familiares, entre
eles, os do patriarca Emílio, herdeiros e o filho Marcelo Odebrecht, preso em
Curitiba.
Repete-se no condomínio praiano de Interlagos, onde
partilham a beira-mar o ex-diretor da Odebrecht em Brasília, Cláudio Melo
Filho, o ex-ministro do governo Temer Geddel Vieira Lima e os publicitários das
campanhas de Lula e Dilma, João Santana e Mônica Moura.
A relação Cláudio e Geddel, contou o executivo à
Justiça, “era muito forte”, bem além da simples vizinhança: “Geddel recebia
pagamentos qualificados, e fazia isso oferecendo contrapartidas claras.”
Conversavam bastante — contaram-se 117 ligações num único ano. Geddel era
“Babel” na planilha de pagamentos.
Vizinhos deles na praia, os publicitários João e
Mônica também compartilhavam a folha Odebrecht. Receberam US$ 24 milhões nas
campanhas de Lula (2006) e Dilma (2010 e 2014), confessou Vinícius Borin,
responsável pelos repasses no Meinl Bank, em Antígua.
O casal foi recompensado com outros US$ 5 milhões
por Eike Batista, preso no Rio. Eike pagou-os pela conta panamenha da Golden
Rock, que também usou para repassar US$ 16,5 milhões ao ex-governador do Rio
Sérgio Cabral.
Nesse circuito sobressaem expoentes de uma elite
republicana moldada em vícios típicos do Brasil colonial, descrito pelo poeta
Boca do Inferno, o advogado Gregório de Matos, na Salvador onde tudo se
permitia aos amigos do rei:
“Furte, coma, beba e tenha amiga,
Por que o nome d’El Rei dá para tudo
A todos que El-Rei trazem na barriga.”
Desde então, sob o manto do foro nobre,
multiplicam-se histórias de impunidade. Nele pouparam-se, entre outros,
fidalgos como Fernão Cabral, que lançou viva na fornalha de seu engenho uma
escrava grávida do “gentio do Brasil”, conta o historiador Ronaldo Vainfas.
O resguardo em foro especial, atenuante na Justiça
e na Igreja da Colônia, prossegue. Ano passado, Dilma aplicou-o a Lula,
levando-o à Casa Civil, no lugar de Jaques Wagner.
Ex-governador da Bahia, Wagner seria “Polo” na
folha da Odebrecht, com US$ 11 milhões recebidos. Do total, US$ 8 milhões
sustentariam a eleição do sucessor, o governador Rui Costa, segundo Melo Filho.
Em troca, “Polo” pagou à empresa uma fatura pendente de US$ 85 milhões, valor
sete vezes maior.
Na sexta-feira 20 de janeiro, o governador Costa
fez Wagner secretário de Desenvolvimento. No mesmo pacote nomeou o engenheiro
Abal Magalhães para a Companhia de Desenvolvimento Urbano. Precisou demitir
Magalhães 24 horas depois. Descobriu que ele militava em redes sociais
qualificando Wagner como integrante de “quadrilha” do PT financiada pela
Odebrecht. E repetia: “#lulanacadeia”, “#dilmanacadeia”.
Comentários
David Ferraz
A Odebrecht roubava com o avô, roubava com o pai, roubava com
o filho e roubará com o neto. TÁ NO DNA. TEM QUE SER EXTINTA. Seu patrimônio
liquidado e pago suas dividas. Exemplo para todos os outros empreiteiros. Dá
sobrevida a uma empresa desta em nome do emprego é uma vergonha.
Housekeeping
Marcelo Odebrecht ta coberto de razão, só ele estar preso;
pai, diretores, gerentes deveriam estar junto com ele; porque não estão?
Nenhum comentário:
Postar um comentário