O velho de 600 anos tentando encontrar três mulheres que são uma só é um
caso a parte no romantismo pilantra do projeto
Por Augusto
Nunes, 15/08/2016,
www.veja.com.br
Texto de Vlady Oliver
A platinada exibiu neste domingo de madrugada um
“desenho desanimado” genuinamente brasileiro. É um longa lançado há pouco
tempo, no auge da ditadura do proletariado possível, instalada por aqui por
aquela fraude chamada PT.
Eu tinha um professor acometido de um tipo de
paralisia que lhe tirou os movimentos das rótulas dos joelhos. Tal deficiência
não o impedia de fazer qualquer coisa na vida – exceto se abaixar para pegar
alguma coisa – e não causava qualquer comoção ou constrangimento, mas era
evidentemente engraçada de experimentar, com seus passinhos duros de Robocop e
a necessidade de afrouxar os parafusos de uma prótese para o cara “parecer
sentado” enquanto lecionava.
Lembrei dele porque o resultado é semelhante. De
“animação” a coisa passa longe: tecnicamente, é uma sucessão de “ilustrações
movimentadas” semelhantes as dos desenhos do Hulk dos anos sessenta. A
limitação técnica empurrada para o público como “linguagem” só não é uma fraude
pior que o próprio roteiro e o argumento. É aí que mora a sacanagem
propriamente dita.
Os recursos técnicos de hoje acabam permitindo que
coisas primitivas e sem fundamentos se mimetizem naquilo que não são, como os
discursos de Dilma do Chefe, o partido dos trabalhadores que não trabalham, os
cultos nas igrejas fast food da fé e a bancada da chupeta. São fraudes,
brandindo a máxima de que eles também detêm o direito de terem um lugar ao sol
na confraria, sem pagar pelo assento.
As citações aos filmes que o autor viu – Blade
Runner, Minority Report, Forrest Gump, Highlander, The Day After, Matrix, entre
tantos – são escancaradas tentativas de revestir com um verniz tecnológico uma
cartilha vagabunda de curso primário, onde uma improvável dupla de Ceci e Peri
com deslavada orientação de esquerda trafegam enfadonhos pelo roteiro que
mistura balaiada, militarismo e canibalismo tupinambá.
Isso só para ressaltar um heroísmo discutível
frente “ao sistema opressor e injusto” que os obriga a tornarem-se assaltantes
de bancos para promoverem “uma retomada” do dinheiro que eles fingem que lhes
pertence. E a “atriz principal”, até bem pouco tempo, era protagonista de
anúncios da “Nossa Caixa”. Uma salada.
O velho de 600 anos tentando encontrar três
mulheres que são uma só é um caso a parte no romantismo pilantra do projeto. É
o “amor de aparelho”, no jargão da macacada que não comia ninguém na época, mas
fazia um barulho danado para chamar a atenção de suas vítimas, como seus
colegas símios fazem na jaula, quando confinados.
Confesso que de “amor” e “fúria” só sobrou esta
última, depois de ter engolido o filme inteiro sem maionese nem salgadinhos.
Impressionante saber que uma aberração audiovisual como esta – como outras
tantas outras “obras” paridas do mesmo jeito – teve o apoio improvável do nosso
próprio dinheiro para se concretizar contra nós mesmos, pagantes de toda sorte de
impostos indecorosos,
Essa é a fraude. Usando o jargão do Bernardinho do
vôlei, eu diria que é o dá pra jogar sem atentar para os fundamentos. Tal como
andar sem joelhos, a coisa fica esquisita. Animação sem animadores parece que
é, mas passa longe.
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