Presidente diz que
responsabilidade pelo desastre econômico não é sua. E não é mesmo! Mas a ele
caberá dar as respostas
Por Reinaldo
Azevedo, 01/10/2016,
www.veja.com.br
O presidente Michel Temer participou
nesta sexta de um evento da revista “Exame” e mandou ver ao falar da economia:
“Por trás desses dados estão homens e mulheres que pagam um preço inaceitável.
Chegamos a quase 12 milhões de desempregados. E reitero que não foi culpa
minha”.
Pois é… Estivesse ele apenas fazendo
uma crônica da crise, eu viria aqui para dizer que a um presidente não cabe se
eximir da culpa, virar de lado e dormir. É preciso dar resposta. E, justiça se
faça, ele está tentando. Encontra-se ainda na fase da catequese. Mas deixou
claro qual é o caminho. Seu governo está apenas no começo. E olhe que a
situação é particularmente delicada. Porque estamos também em ano eleitoral. E
sabem como é… Em tempos assim, políticos querem é soltar dinheiro, em vez de
cortar. Sem uma maioria de três quintos na Câmara e no Senado, o presidente não
conseguirá fazer o mínimo necessário.
Escrevo isso porque noto aqui e ali a
impaciência: “Ah, governo recua de novo”. Ou: “Governo hesita em fazer tal
coisa…” Acho recuos e hesitações naturais nesse contexto, ainda que eu já tenha
recomendado e reitere que ministros não saiam pensando alto por aí. Com a
nomeação de um porta-voz, espero que diminuam os contratempos nessa área.
O que vem pela frente não é fácil.
Aprovar o teto de gastos — e os Estados também precisam entrar nesse regime —
vai requerer engajamento do Congresso. Sem o Legislativo, não há saída
possível. Ou só há uma saída, como sabe Dilma Rousseff. Tinha mesmo de cair
porque cometeu crime de responsabilidade. Mas não teria caído se tivesse
conseguido manter sua base de apoio. E olhem que, no fim das contas, ela só
precisava ter 28 senadores com ela… Nem isso conseguiu! Mas volto ao ponto.
É claro que a culpa não é de Temer, mas
lhe coube a responsabilidade de dar uma resposta. O crime mais grave
cometido pelo PT no país foi ter destroçado as contas públicas e ter elevado os
gastos a um patamar insuportável. As conseqüências? Juros na estratosfera,
investimentos em baixa, recessão, desemprego ainda em alta. E tudo isso aliado
à pressão inflacionária.
A vigarice de esquerda já se prepara
para jogar os dissabores no colo de Temer. Os que pretendem ser “justos” dizem
que a ex-presidente teve a sua parcela de culpa ao nomear Joaquim Levy para a
Fazenda. São duas mentiras escandalosas. Levy começou a desarmar as bombas que
a dupla Dilma-Mantega armou na economia. A recessão não veio por causa do
ajuste, que, de resto, ainda nem aconteceu. O ajuste é conseqüência de um país
quebrado. E já em recessão.
O presidente tem razão. A culpa não é
dele. A ele cabe a responsabilidade de encaminhar as soluções, cujos efeitos
benéficos não surgirão num estalar de dedos.
Para o crime mais grave do PT — ter
quebrado o país — não há pena.
Infelizmente!
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