O órgão cumpre uma formalidade;
nem por isso, a coisa deixa de ter um elevado grau de estupidez
Por Reinaldo
Azevedo, 19/08/2016,
www.veja.com.br
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA enviou
ao governo brasileiro um documento pedindo explicações sobre o processo de
impeachment. Atenção! Trata-se de um procedimento padrão, mas que, nem por
isso, deixa de revelar seu caráter ridículo, uma vez que a ação que o motivou é
um despropósito.
Parlamentares petistas, encabeçados por
Wadih Damous, ex-presidente da OAB-RJ — o que, suponho deve envergonhar a Ordem
—, denunciaram à Comissão o que seria um golpe parlamentar no Brasil. Segundo a
denúncia dos petistas, “estamos diante de uma situação que não pode ser
solucionada por meio de recursos internos”. Os companheiros pedem ainda que a
Comissão suspenda o processo. A iniciativa conta com o apoio de José Eduardo
Cardozo, o advogado de Dilma, ele também, agora, investigado por obstrução da
Justiça.
Chamo atenção para o fato de que,
segundo os parlamentares do PT, o próprio Supremo faria parte, então, do tal
golpe, uma vez que, como está na denúncia, inexistem “recursos internos” para
resguardar os direitos políticos e, pasmem! Humanos de Dilma. Vamos mais longe:
para esses senhores, o Brasil já não consegue cuidar sozinho dos seus
problemas.
Trata-se de um acinte e de um
despropósito. As perguntas enviadas pela Comissão, dado o ridículo da denúncia,
tornam-se igualmente vexaminosas.
A Comissão quer saber, por exemplo,
“como teria sido garantido o devido processo legal” e “quais seriam os efeitos
de uma inabilitação definitiva [de Dilma]”. Ora, ora… O órgão, que abriga o
lulista Paulo Vannuchi, não precisaria nem perguntar isso ao governo. Bastaria
consultar o Google. A pena em caso de impeachment está devidamente prevista em
lei.
Como foi garantido o devido processo
legal? Ora, com a aplicação estrita dos nossos códigos, referendados pelo
regime democrático e devidamente acompanhados pelo Supremo, que foi chamado a
atuar mais de uma vez pelos aliados de Dilma. A Comissão pergunta ainda se
haveria a chance de uma “revisão” do processo… Hein? Revisão de quê? Estaria a
dita-cuja disposta a declarar sem validade a Constituição do Brasil?
O que acho mais divertido é ler por aí
que a Comissão pode conceder uma liminar para “suspender” o julgamento. É
mesmo? E quem aplicaria a medida? A Quinta Cavalaria? O Brasil é um país
soberano, onde vigora uma democracia de direito. A deposição de Dilma, segundo
a Constituição e as leis, é uma questão de política interna.
E arremato com uma questão que já
lembrei aqui: quando essa mesma Comissão recomendou a Dilma à suspensão da
construção da usina de Belo Monte, a então presidente, em 2011, deu-lhe uma
solene banana. E fez muito bem!
Nem a Comissão nem a Corte
Interamericana de Direitos Humanos são instâncias revisoras da Justiça
brasileira. Menos ainda do Congresso Nacional.
O pedido de explicações não passa de
uma tolice derivada de outra.
Se o deputado Wadih Damous não gosta da
Constituição e das leis que temos, ele que proponha projetos e emendas para
alterá-las. Ou, então, que proponha, sei lá, a luta armada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário