No país do real, Cabral foi um meio-bilionário por um tempo
Por Augusto
Nunes, 28/01/2017,
www.veja.com.br
Texto de José Casado publicado no Globo
Estava feliz naquela noite de primavera,
quinta-feira 7 de outubro de 2010. Há apenas quatro dias garantira a reeleição
ao governo estadual no primeiro turno, com 66,08% votos. Agora seguia no vôo
455 da Air France para descanso em Paris, com escala em Londres.
Escolheu um hotel no lado oeste da capital do Reino
Unido, perto do Hyde Park, onde em 1855 Karl Marx subiu num caixote — para não
pisar em solo inglês, conforme a tradição —, e discursou sobre a revolução
proletária para uma platéia de ingleses reformistas.
Na suíte, telefonou ao Rio ordenando o envio de 20
mil libras esterlinas (cerca de R$ 80 mil hoje). O carioca Marcelo, um dos
herdeiros da mesa de câmbio Hasson Chebar, passou numa agência do banco
israelense Hapoalim, e levou o dinheiro ao governador reeleito. Na ante-sala,
viu e cumprimentou a primeira-dama.
“Mr. Santos” era o nome que registrara no livro de
hóspedes do hotel. Ele gostava de disfarces. Vivia uma rotina de
clandestinidade. Tinha outro codinome, que restringia às conversas por um
telefone (21-9972-33315) na privacidade do Palácio Laranjeiras: Nelma. No
catálogo telefônico, Nelma de Sá Saraça.
Santos e Nelma, na vida real, eram Sérgio de
Oliveira Cabral Santos Filho, que hoje completa 54 anos numa cela no presídio
de Bangu, onde a temperatura de verão oscila acima de 40 graus.
Tinha metade desse tempo de vida quando emergiu das
urnas como deputado, nos anos 90. Terminou o terceiro mandato com pelo menos
US$ 2 milhões (ou R$ 6,8 milhões) em contas secretas no exterior, conforme
descritos nos inquéritos e processos em andamento na Justiça Federal. Por cada
ano na Alerj, recebeu em média US$ 166 mil de origem suspeita.
Elegeu-se senador com 4,2 milhões de votos. No
período em Brasília (2003 a 2006), seu patrimônio oculto fora do país subiu
para US$ 7 milhões (R$ 23,8 milhões). Como senador passou a receber US$ 1,2
milhão por ano — aumento de 653% em relação ao tempo de deputado.
Disputou e ganhou o governo estadual. Eleito,
permaneceu entre 1º de janeiro de 2007 a 3 de abril de 2014. Passou o cargo ao
vice, Luiz Fernando Pezão, nove meses antes do fim do segundo mandato. Não
precisaria mais usar o codinome Santos para desfrutar a fortuna que Nelma
arrecadara na solidão das Laranjeiras, ao telefone com executivos das empresas
de Eike Batista e de Marcelo Odebrecht, entre outras.
Multiplicara sua riqueza 21 vezes no espaço de 84
meses. O movimento nas contas encoberta em bancos estrangeiros saltou de US$ 7
milhões para US$ 152 milhões (R$ 517 milhões). Como governador, coletou US$
18,1 milhões, em média, a cada ano no palácio — 138% acima do patamar que
alcançara quando era senador, e 10.803% mais que a arrecadação na Assembléia.
No país do real, Cabral foi um meio-bilionário por um tempo. Voltou à realidade
em Bangu-8.
Comentários
Walter
Nada de aceitar delação premiado desse pulha. Que apodreça na
cadeia.
J.B. Cruz
Para Cabral, nada de Delação Premiada... Quem aceita propina,
deveria dobrar a pena…
Julio Rodrigues Neto
Até então, só conhecia Hotéis 5 estrelas. Bangu 8.
Olmar Humberto Menta
Claro que o cara progrediu. Roubou tanto dinheiro que passou
de 5 estrelas para Bangu 8.
Dilson Luiz Dominiquini
“esperto” desde os anos 90 e a Receita Federal, e a imprensa
dita séria nunca perceberam nada, nunca viram nada, né? Algum dia alguém terá
coragem de abordar essa situação quanto a todos esses espertos.
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