É preciso superar a tendência de
culpar uns aos outros, deixar para trás o nós contra eles
Por Augusto
Nunes, 13/01/2017,
www.veja.com.br
'Não há
necessidade de troca', diz Moraes, sobre comando da Polícia Federal
Texto de Fernando Gabeira publicado no Estadão
A constrangedora mediocridade com que o governo
respondeu aos massacres no Norte não me surpreendeu. Num artigo que escrevi
aqui jogava minhas esperanças no debate entre as pessoas que reconhecem a
urgência do tema. Já existem muitas idéias sobre o que fazer com o sistema
carcerário em crise. Outras devem surgir. Mas o interesse social pode, pelo
menos, levar o governo a uma ação mais solidária em todos os níveis. Estancar o
jogo de empurra, essa irresistível tendência de lavar as mãos e jogar a culpa
nos outros.
Por que Temer se interessaria pelo tema? Todos os
outros presidentes se esquivaram. O fracasso do sistema carcerário atravessa a
História da República. O livro de Myrian Sepúlveda dos Santos Os Porões da
República conta, por exemplo, a primeira tentativa brasileira de criar uma casa
correcional no Vale dos Dois Rios, na Ilha Grande. Ela trata apenas do período
entre 1894 a 1945. Mas é uma história dramática. Experiências em Fernando de
Noronha e em Clevelândia também são um roteiro do fracasso.
De um ponto de vista político, o sistema carcerário
é um abacaxi. Parece ser insolúvel e transita num espaço muito polarizado por
defensores e críticos dos direitos humanos.
O mais confortável para Temer era empurrar com a barriga,
como fizeram todos. E não percebeu que tudo isso poderia estourar na mão dele.
Enfim, contou com a passagem do tempo, como se a História fosse mesmo escrita
com empurrões de barriga.
Esta é a diferença que deveria
mobilizar Temer: estourou em suas mãos.
O massacre em Manaus foi o episódio mais bárbaro de
que ouvi falar na história dos presídios brasileiros. A descrição do que
aconteceu com os mortos, feita por pessoas da própria família, é cheia de
detalhes tão macabros que diante deles a decapitação até parece um ato
moderado.
O massacre me fez rever algumas idéias. Tinha
tendência a superestimar o trabalho de inteligência. Percebi ali que a minha
visão era parcial.
Tanto as autoridades do Amazonas como Temer sabiam
da crise. Em Manaus já se conhecia o plano de atacar o PCC e ele foi revelado
por vários relatórios da Polícia Federal, que realizou a Operação La Muralla e
golpeou profundamente a Família do Norte.
Mesmo sem saber o que se passava em cada presídio,
Temer foi informado sobre a guerra das organizações criminosas dentro e fora
das cadeias. Seu homem de inteligência, o general Sérgio Etchegoyen, reuniu-se
com parlamentares da Comissão de Segurança e relatou a possibilidade da guerra.
Dificilmente Etchegoyen deixaria de discutir o
tema, em primeiro lugar, com o próprio Temer. Talvez não soubesse apenas, como
sabiam as autoridades de lá, que a primeira batalha estava por acontecer em
Manaus. É outro problema típico da burocracia. Ela anuncia grandes sistemas de
inteligência integrados, chega a inaugurá-los, e nada acontece.
Em tempos de WhatsApp, era possível uma troca
nacional convergindo para um pequeno grupo de análise que mapearia possíveis
conflitos, orientaria transferências e outras medidas preventivas.
Temer está perdendo uma grande oportunidade de
trilhar um caminho que outros recusaram. No auge da crise viajou para Portugal,
onde foi ao enterro de Mário Soares. No fundo, está querendo dizer: não me
envolvam muito com crise carcerária, estou aflito para passar esta fase de
emergência, voltar a empurrar com a barriga, tratar dos temas que realmente me
interessam.
Ele poderia ter-se reunido com parlamentares, mas
não quis. Os deputados da chamada bancada da bala estavam interessados. Nessas
circunstâncias, mesmo sem aceitar todas as suas premissas, os deputados desse
grupo são interlocutores válidos. A segurança é sua bandeira e alguns são
policiais experimentados.
Se fosse congressista, estaria discutindo com eles,
pois o massacre de Manaus e a crise que ele explicita requerem um esforço
nacional. Assim como é preciso superar a tendência de culpar uns aos outros, é
preciso deixar para trás os tempos do nós contra eles.
Alguns temas, como esse dos presídios, são de tal
gravidade que nos obrigam a reaprender a idéia de frente, do convívio entre
posições distintas na busca de um denominador comum. Isso não significa abrir
mão das próprias convicções. Apenas reconhecer que, num momento em que as
organizações criminosas entram em guerra entre si, a sociedade unida tem uma
excelente oportunidade para enfraquecê-las, dentro e fora das cadeias.
Pelo menos em tese, presidentes são pessoas que não
deveriam recuar diante de um grande problema nacional. Eles têm uma chance maior
de unificar a sociedade e apontar o caminho comum.
Mas, mesmo diante de uma grande ausência, como a de
um líder nacional, a sociedade, depois do massacre de Manaus, despertou para a
importância da reforma do sistema carcerário. Todos nós que trabalhamos nas
ruas conhecemos a miríade de posições sobre o tema. A diversidade não impede
soluções negociadas. O problema de segurança pública já é considerado pela
maioria um dos mais graves do País.
Mesmo antes de Manaus já havia também uma
compreensão crescente de que ruas e cadeias são relacionadas. A crise nos
presídios transformou as eleições maranhenses numa grande ameaça de caos.
Nos conflitos no Amazonas, os presos concentraram
sua energia em degolar e eviscerar seus inimigos. Ainda assim, fugiram 184. Com
ferramentas para derrubar paredes, armas longas, oito túneis construídos, eles
poderiam ter fugido em massa.
Com o surgimento do Estado Islâmico, também
especialista em decapitar, ficou claro, pela série de atentados, que para eles
somos todos iguais, não importa o que pensemos. Se somos iguais ante a
barbárie, por que não nos igualamos na tarefa de nos defendermos dela?
Comentários
Adilson
Nagamine
Crise? Só foi um
acidente. Adilson Nagamine. Estou no plus.google.com
Robson
La Luna Di Cola
O problema carcerário e
da criminalidade no Brasil, TEM QUE SER ENFRENTADO EM VÁRIAS FRENTES! Mas as
autoridades brasileiras têm esta capacidade de diagnóstico e de ação coordenada
em várias frentes? Claro que não! Mais séria do que a corrupção, é a nossa
gigantesca INCOMPETÊNCIA!!!
Sergio
A maior barbárie é a
chacina contra os cidadãos que lutam pela sobrevivência com trabalho ou sem
trabalho, na legalidade e ainda, mantém este país em pé. Eles são trucidados
pelos bandidos e criminosos de todas as matizes todos os dias, todas as horas,
todos os minutos, todos os segundos.
Walmir
Alves
Porque não experimentam
qualificar a policia ao invés de ficar criando delegacias, ministérios, e
cabides de emprego... Se fossem equipadas não precisaria criar penduricalhos no
código penal como as prisões preventivas até o réu confessar, grampos
telefônicos sem prazo determinado... Hoje a policia só quer investigar sentado atrás
de grampos abrindo inquéritos sem provas contundentes e fazendo retórica no
papel sem apresentar elementos conclusivos e contundentes...
Joari
Normando
As pessoas insistem em
dizer que esse indivíduo escreveu algo, alguém testemunhou? A dialógica dele
contraria tudo o que tem sido creditado a ele. A fala reflete o pensamento, ele
é patético, se ele apropriou-se de obra de terceiro, para mim não seria
novidade, a academia brasileira é pródiga de exemplos dessa natureza, por outro
lado, se isso for levado em conta, o perfil de farsante lhe cai tão bem quanto
uma carapuça. Esse comportamento, a fala estapafúrdia e estupefaciente, está
presentes desde que o vi como secretino de segurança de São Paulo. Aproveito
para mandar um abraço para o Didi e outro pro carequinha, será que ele podia
quebrar essa?
Marly
Camargo
Não temos governo. Temer
é daquele tipo que só quer saber dos bônus.
Geroldo
Zanon
A PF vem trabalhando
bem só estão demorando em prender o LULA
Nenhum comentário:
Postar um comentário