É inexplicável que a Caixa tenha
demorado ano e meio para começar a investigar suspeitas em negócios com o
dinheiro de 41 milhões de trabalhadores
Por Augusto
Nunes, 07/02/2017,
www.veja.com.br
Texto de José Casado publicado no Globo
Por suspeita de corrupção, a Caixa Econômica
Federal iniciou uma revisão dos atos de seus executivos responsáveis pela
gestão do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço nos últimos cinco anos. Abriu
uma dezena e meia de inquéritos internos para apurar “eventual prática de atos
lesivos” em negócios do fundo FI-FGTS. Treze deles foram iniciados nas últimas
duas semanas.
Trata-se de um fundo de investimentos de natureza
privada, sob administração da Caixa — um banco público —, que na última década
empenhou R$ 30 bilhões em projetos escolhidos como prioritário pelos governos
Lula, Dilma e Temer. Essa montanha de dinheiro pertence aos 41 milhões de
trabalhadores cotistas do Fundo de Garantia. Seu tamanho é suficiente, por
exemplo, para cobrir duas vezes o buraco aberto nas finanças do Estado do Rio.
Investigações do Ministério Público e da Polícia
Federal indicam perdas superiores a 10% do valor dos ativos do FI-FGTS. Na
origem estão financiamentos suspeitos a empresas privadas, decididos em áreas
da Caixa loteadas entre o PT e seus antigos aliados do PMDB, entre eles Eduardo
Cunha e Geddel Vieira Lima.
Esses prejuízos tendem a ser multiplicados, porque
é grande a vulnerabilidade dos sistemas de controle da Caixa, agora desnudada
nas milhares de páginas das ações na Justiça Federal. Elas revelam padrões de
caos administrativo em negócios bilionários de grupos como JBS, J&F
Investimentos, Marfrig, Bertin/Contern, BR Vias, Oeste-Sul, OAS, Comporte, Big
Frango, Inepar, Digibrás e Haztec, entre outros. Nas confissões há relatos de
contratos assinados em boates. O suborno variava entre 10% e 30% — quando da
“comissão” de um terço do valor do contrato, o empresário levava “garantias” de
que não seria importunado com a cobrança do empréstimo. Os detalhes sobre
tráfico de influência, improvisos e métodos incompatíveis com a racionalidade
caracterizam a festa com dinheiro dos trabalhadores em negócios obscuros, sob
ostensivo patrocínio do PT e do PMDB e encobertos por uma estrutura
sindical-corporativista.
É inexplicável que a Caixa tenha demorado ano e
meio para começar a investigar suspeitas em negócios com dinheiro do Fundo de
Garantia. Ministério Público, Polícia Federal e Controladoria-Geral da União
(CGU) estão no caso há 18 meses. A CGU tentou obter uma série de documentos. Às
vésperas do Natal de 2015, recebeu alguns dos papéis solicitados. Quase todos
censurados.
A Caixa impôs tarjas pretas sobre 90% das páginas
dos relatórios sobre as suas decisões de investir recursos do Fundo de Garantia
em negócios privados. Um deles, o baiano OAS, recebeu R$ 500 milhões quando já
estava à beira da falência.
A decisão tardia sobre os inquéritos internos
evidencia uma rede de cumplicidades entre políticos, empresários e burocratas
nesse banco público.
Comentários
Paulo Cesar Martins
Já consigo
ler o que será respondido, É GOLPE.
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