Por Augusto Nunes, 07/08/2015,
www.veja.com.br
O dia e a hora da encenação, o elenco bisonho, o
roteiro mambembe, o mestre-de-cerimônias repulsivo, a arrogância dos parteiros
da obra – tinha tudo para dar errado o programa partidário de 10 minutos
exibido pelo PT na noite desta quinta-feira. E deu. Mas o que se viu superou as
previsões mais catastróficas do mais radical antipetista.
As agressões ao Brasil indignado começaram com a
entrada em cena de José de Abreu. Cicerone do passeio pelo lixão do PT, o rei
de lixão de novela puxou o desfile de ameaças e insinuações belicosas. “O
caminho do pessimismo nos leva a lugares bem sombrios e o alçapão mais perigoso
é o que nos lança no conflito, com final sempre trágico para todos”.
Um porta-voz do bloco da barba abriu o cortejo de
figurantes escalados para recitar cretinices sobre coisas que ignoram. “Durante
seis anos, os governos do PT conseguiram retardar a chegada da crise econômica
no (sic) Brasil”, mentiu. “Hoje o país vive problemas passageiros em (sic)
economia”, mentiu a representante da elite branca. “E tem gente tentando se
aproveitar disso para criar uma crise política”, mentiu o terceiro destaque do
grupo de jovens robotizados.
O espetáculo do cinismo estava quase na metade
quando irrompeu o bordão ilustrado por imagens de políticos oposicionistas:
“Não se deixe enganar por aqueles que só pensam em si mesmos”. E então chegou a
vez da trinca de protagonistas. Cada vez mais parecido com um agente funerário
que furta o relógio do defunto, Rui Falcão invadiu a tela para repetir a tapeação
do momento.
“Tem gente dizendo que só existe crise no Brasil,
mas as manchetes provam que há crise em toda a parte”, mentiu o presidente do
PT, amparado por dois recortes de jornal. O primeiro noticiava um soluço na
bolsa de valores da China, cujo PIB vai crescer além de 6% neste ano. O segundo
tratava do agravamento da crise da Grécia, uma espécie de Brasil da Europa.
Além de gregos e brasileiros, só estão aflitos com
crises os russos e os venezuelanos. O resto do mundo está muito melhor que o
paraíso tropical castigado pela alta da inflação, pela ampliação do desemprego
e pela paralisia nos investimentos, fora o resto. Nada disso foi mencionado no
programa, que também contornou cuidadosamente a corrupção de dimensões
amazônicas, a segunda prisão de José Dirceu ou a destruição da Petrobras.
“Eu sei que a crise já chegou à nossa casa”, fingiu
condoer-se Lula já na primeira linha do palavrório. (Não na dele: o chefão de
tudo não sabe o que é problema financeiro desde que virou gigolô de
empreiteira). Mas tudo vai melhorar, prometeu o mágico de picadeiro que não
para de pensar “naqueles que mais precisam”. (O tempo que sobra é consumido na
proteção a parentes e amigos multimilionários, como o filhote Lulinha ou os
quadrilheiros do Petrolão).
A Ópera dos Malandros foi encerrada por Dilma
Rousseff: “Quem pensa que nos falta (sic) idéias está muito enganado”, gabou-se
a recordista de impopularidade sem apresentar uma única idéia. Ao som da lira
do delírio, os idiotas no poder despediram-se dos espectadores zombando dos 71%
de brasileiros exaustos de ladroagem e incompetência. Em vez de pedir desculpas
ao país que presta, o exército brancaleônico preferiu chamar para a briga a
imensidão de descontentes.
O maior panelaço da história do Brasil foi o ensaio
geral para a resposta dos afrontados, que virá em 16 de agosto. A missa negra
celebrada para salvar o governo moribundo apressou a extrema-unção. A data do
enterro será determinada pelo povo nas ruas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário