Por
Ruth de Aquino, 19/07/2013,
www.época.com.br.
Então faça por onde: em vez de só cobrar, que tal exercer seriamente o
civismo e a cidadania?
Então faça por onde – em vez de
sair mascarado, quebrando e saqueando. A violência é pouco eficaz. O crime é
contraproducente se o objetivo for aperfeiçoar uma democracia. Vivemos um
momento histórico, inspirado por revoltas populares na Tunísia, Espanha ou nos
Estados Unidos. É hora de aproveitar para o bem a energia de jovens brasileiros
idealistas, que rejeitam os vícios da política tradicional e corrupta. Sejam
sujeitos e não objetos. Em vez de só cobrar – e virar massa de manobra –, que
tal exercer seriamente o civismo e a cidadania?
É uma vergonha o Índice de
Desenvolvimento Humano do Brasil. Ocupamos o 85o lugar no ranking mundial,
atrás de Bósnia e Azerbaijão. Faltam médicos e professores em todo o país, não
apenas nos confins do Brasil. É um absurdo querer aumentar, por lei, o número
de anos de estudo de medicina. Ou exilar residentes em lugares sem condições de
trabalho. A atitude desesperada do governo Dilma só expõe a metástase da Saúde.
Não há ambulâncias, equipamentos ou médicos suficientes em lugar nenhum no
Brasil, e isso inclui Rio de Janeiro e São Paulo.
Relanço então uma ideia que
defendi há três anos em ÉPOCA: instituir o serviço civil obrigatório, que
substituiria o alistamento no Exército para quem completa 18 anos. O serviço
militar, com mais de um século, é um anacronismo num país sem guerra. É
sexista, por contemplar apenas homens. Em vez dele, rapazes e moças dedicariam
um ano de sua vida para servir à comunidade. Em meio expediente, para não
atrapalhar os estudos. Funcionaria como um estágio e poderia ser pago pelo
Estado com um salário mínimo. Os filhos da classe média e da elite aprenderiam
mais sobre o Brasil real se fossem convocados a ensinar a crianças e
adolescentes carentes portugueses, matemática, inglês, história, informática.
Design ou balé. Capoeira ou música. Gastronomia ou fotografia.
O serviço civil obrigatório seria uma oportunidade de integração, educação, disciplina. Não existe, em nosso país partido, nenhuma estratégia de entendimento real entre as classes. Não se treinam o ouvido nem a compaixão. Jovens deveriam consagrar um tempo ao bem público. Para criar bases e valores. Desperdiçamos um exército de jovens inteligentes e criativos. Há os que sonham em sair do Brasil sem chegar a entender o país em que nasceram. Nem aprendem a dar bom-dia ou a agradecer por um serviço prestado.
Na Suíça ou na Alemanha, é possível escolher o serviço civil em vez do militar. No Brasil, a Constituição de 1988 também contempla a objeção de consciência, que isenta o cidadão do serviço militar se contrariar suas crenças filosóficas, religiosas ou políticas. Mas não existe um serviço alternativo formalizado. Várias escolas estimulam a consciência social, mas iniciativas isoladas não bastam. Deveríamos preparar jovens para servir a pátria como cidadãos.
O serviço civil obrigatório seria uma oportunidade de integração, educação, disciplina. Não existe, em nosso país partido, nenhuma estratégia de entendimento real entre as classes. Não se treinam o ouvido nem a compaixão. Jovens deveriam consagrar um tempo ao bem público. Para criar bases e valores. Desperdiçamos um exército de jovens inteligentes e criativos. Há os que sonham em sair do Brasil sem chegar a entender o país em que nasceram. Nem aprendem a dar bom-dia ou a agradecer por um serviço prestado.
Na Suíça ou na Alemanha, é possível escolher o serviço civil em vez do militar. No Brasil, a Constituição de 1988 também contempla a objeção de consciência, que isenta o cidadão do serviço militar se contrariar suas crenças filosóficas, religiosas ou políticas. Mas não existe um serviço alternativo formalizado. Várias escolas estimulam a consciência social, mas iniciativas isoladas não bastam. Deveríamos preparar jovens para servir a pátria como cidadãos.
Para quem tem filosofia pacifista
como eu, o serviço militar é uma agressão. A alternativa não passa pela violência.
Ser empreendedor, ser voluntário, ir para a política são, todas elas, formas
mais eficazes de mudança. Um estudante de Direito poderia, no primeiro ano da
faculdade, dedicar seis horas diárias a atender pequenas causas em favela. Um
estudante de contabilidade montaria pequenos negócios para famílias pobres e
empreendedoras. Um estudante de letras incentivaria adolescentes a ler e
escrever contos ou poesias. Outro ensinaria a ser inventivo no computador, a
tocar piano ou a falar inglês. São tantos dons aprendidos na universidade,
financiados pelos pais ou com nossos impostos. Por que não retribuir?
Isso nada tem a ver com filantropia ou caridade. “O serviço civil alternativo seria um rito de passagem do jovem para a idade adulta”, diz o empreendedor social Rodrigo Baggio, fundador do Comitê para Democratização da Informática. Baggio encara o serviço civil como “um aprendizado cívico, uma experiência que ajuda o jovem a escolher sua própria profissão e seu futuro”. “Valoriza o currículo”, diz ele. “O jovem que já foi voluntário é hoje mais solicitado no mercado.” O serviço civil ainda gera um pacto social mais eficaz. Deveria, segundo Baggio, haver uma parceria entre governo, sociedade civil, ONGs e empresas, com o apoio do Fundo de Amparo ao Trabalhador. Uma comissão destinaria o jovem a certo trabalho, a partir de uma capacitação básica em direitos humanos, cidadania e empreendedorismo.
Isso nada tem a ver com filantropia ou caridade. “O serviço civil alternativo seria um rito de passagem do jovem para a idade adulta”, diz o empreendedor social Rodrigo Baggio, fundador do Comitê para Democratização da Informática. Baggio encara o serviço civil como “um aprendizado cívico, uma experiência que ajuda o jovem a escolher sua própria profissão e seu futuro”. “Valoriza o currículo”, diz ele. “O jovem que já foi voluntário é hoje mais solicitado no mercado.” O serviço civil ainda gera um pacto social mais eficaz. Deveria, segundo Baggio, haver uma parceria entre governo, sociedade civil, ONGs e empresas, com o apoio do Fundo de Amparo ao Trabalhador. Uma comissão destinaria o jovem a certo trabalho, a partir de uma capacitação básica em direitos humanos, cidadania e empreendedorismo.
O serviço militar prepara para a
guerra. E se preparássemos os jovens para a paz? Há no Brasil 31 milhões de
jovens de 18 a 26 anos, segundo o IBGE. Pouquíssimos se alistam nas Forças
Armadas. Dá para entender também o desinteresse pelo voto e pela política
partidária. Torço por uma mudança de fundo, sem confete e sem violência. Uma
Jornada Nacional da Juventude. Que se engaje de verdade, sem ódio e sem sangue
nos olhos, num futuro melhor para este Brasil desigual, ineficiente e entregue
a políticos sem o menor apreço pelo interesse público.
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