Por Augusto Nunes,
15/07/2013,
www.veja.com.br.
“Quero assumir o compromisso de rever minha
conduta”, prometeu renegerar-se o governador Sérgio Cabral ao emergir do
silêncio de sete dias imposto pelo acidente que escancarou as relações mais que
perigosas mantidas com empresários que prosperam no Rio de Janeiro. Além de
sete mortes, a queda do helicóptero no sul da Bahia provocou escoriações
generalizadas na imagem do governador que voa em jatos da frota de Eike Batista
e festeja em resorts de cinema o aniversário do empreiteiro Fernando Cavendish,
dono da construtora Delta, que administra 99 em cada 100 canteiros de obras
públicas plantados no Rio.
O parágrafo acima abriu o post agora republicado na
seção Vale Reprise (que precedeu a divulgação das
farras parisienses da Turma do Guardanapo). A releitura do texto grita que
Cabral é irrecuperável. “Vamos construir um código juntos, vamos estabelecer os
limites”, fez de conta há dois anos. “Tem um código nacional, se não me engano,
feito no fim do governo Fernando Henrique Cardoso, em 2002. E deve haver
estados em que há. Adoro Direito comparado. Vamos ver o que há em outros
lugares do Brasil e no mundo”.
A edição ampliada do Código de Conduta e Ética
ocupou um bom espaço da edição de 14 de maio de 2012 do Diário Oficial do
Estado. Segundo o artigo 17, “o agente público não poderá valer-se do cargo
ou da função para auferir benefícios ou tratamento diferenciado, para si ou
para outrem, em repartição pública ou entidade particular, nem utilizar em
proveito próprio ou de terceiros os meios técnicos e recursos financeiros que
lhe tenham sido postos à disposição em razão do cargo”.
Há dias, VEJA revelou ao Brasil que o mais caro
helicóptero da frota a serviço do governo fluminense é o brinquedo preferido de
Cabral, da primeira-dama Adriana, dos dois filhos e do cachorro Juquinha, que
dispõem de duas babás em tempo integral. “Já aconteceu de tudo nessas
aeronaves”, contou a VEJA um funcionário da administração estadual. “Uma vez, a
babá veio de Mangaratiba para pegar uma roupa que dona Adriana tinha esquecido.
Na outra, uma empregada veio fazer compras no mercado”.
A revelação de tais caprichos magoou o viajante
incontrolável, que se considera “perseguido”. Quem o persegue é o código de
ética que encomendou, conferiu, rubricou e assinou. Cariocas inconformados com
o show de cinismo têm um motivo a mais para acampar diante do apartamento no
Leblon: agora se sabe que Sérgio Cabral fez questão de baixar normas novas só
para deixar claro que não respeita sequer as proibições que inventa.
Não há salvação para esse tipo
fora-da-lei.
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