(Fonte: CP 24/07/2013)
Virou
o grande bordão do ano. Estará em todas as retrospectivas em dezembro. Dará
chamada na televisão junto com aquelas musíquinhas nostálgicas. Para quem gosta
de discussões intelectuais e não tem medo de pensar, que, de resto, não dói,
salvo quando se tem creme de ervilha no cérebro, a pós-modernidade, esse nome
assustador, sempre foi descrita por seus teóricos como o fim da representação.
Na modernidade, o indivíduo via-se reduzido à contemplação das telas
(televisão, cinema), à manipulação da mídia, à delegação dos seus poderes
políticos nos eleitos e à vida por procuração, as grandes emoções sendo sentidas
por meio dos olimpianos, das vedetes, das estrelas, das celebridades, dos
especiais.
O
homem moderno era um idiota com muito passado, pouco presente e uma promessa de
futuro radioso. Os gregos, como se sabe, não eram modernos. Eram antigos.
Praticavam a democracia direta. Mas, pragmáticos, excluíram dessa participação à
maioria da população. Séculos depois, aconteceu uma famosa controvérsia entre
antigos e modernos. Os antigos do século XVII achavam que somente no passado
clássico havia arte de primeira grandeza. Os modernos de hoje pensam como os
antigos de ontem. Vivem de olho no retrovisor. Exatamente como os passadistas
classicistas, os novos antigos estão sendo atropelados por novos modernos, os
pós e hipermodernos. No popular, pela turba que cansou de ser representada e
que fazer por si mesma. Fim da representação, da contemplação, da delegação e
da vida por procuração.
Os
representantes resistem. Conversei com vários deputados sobre a reforma
política. Elas negaceiam: não é o que o povo pede, não sairá por falta de
acordo no Congresso nacional, representamos, sim os nossos eleitores, não
podemos jogar fora a criança (política) junto com a água suja da bacia (a
descrença no sistema). A massa não quer reforma política. Não sabe, muitas
vezes, o que significa. Quer apenas que não existam parentes como suplentes de
senador, quer que os mais votados sejam eleitos, quer que as campanhas custem
menos e não sejam pagas com caixa 2, quer que as eleições não sejam decididas
pelo poder econômico, quer escolher nominalmente os seus candidatos e que o
voto dado não vá eleger qualquer outro, quer ter contato frequente com quem
escolhe, quer que não existam votações secretas no parlamento e que o poder não
fique nas mãos de líderes.
A
massa não sabe a diferença entre consulta popular, plebiscito e referendo. Ela
sabe que quer ser ouvida diretamente sobre os grandes problemas nacionais. Ela
não sabe se pode ou não existir uma constituinte exclusiva. Sabe, porém, que os
eleitos atuais não são confiáveis para mudar regras que os favorecem. Na sua
inteligência ignorante, a massa quer reforma política sem saber que os seus
desejos têm esse nome. Ela que o fim da corrupção, do toma lá dá cá e das
alianças espúrias pela governabilidade. Quer o fim até do que lhe parece grego:
as coligações nas eleições proporcionais. A massa é moderna contra os antigos,
pós-moderna, contra os modernos, hipermoderna contra os pós-modernos e clássica
na sua expressão indignada e elegante: não me representa.
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