O povo, o poderoso, todos sabemos, é
esmagadoramente favorável ao impeachment de Dilma, e nada menos de 61% dos
eleitores, segundo o Ibope, não votariam hoje em Lula de jeito nenhum.
Por Reinaldo Azevedo, 23/02/2016,
www.veja.com.br
Hoje tem panelaço garantido. O PT leva ao ar o seu
programa de 10 minutos no horário eleitoral gratuito. O vídeo segue abaixo. A
coisa chega a ser caricata.
A mensagem inicial da peça publicitária repete
aquelas inserções de 30 segundos que foram ao ar há alguns dias. Pessoas
portando bandeiras de várias cores formam o mapa do país, e o texto, de tão
entusiasmado com a idéia da união de todos, não teme nem o pleonasmo: “É hora
de unir forças para fortalecer o Brasil”, convidando-nos a todos a abrir mão
até das nossas opiniões. Ulalá! O PT está sempre querendo calar a divergência.
Até quando tenta parecer simpático e inclusivo.
Mas o PT é o PT. Logo depois de conclamar a união
de todos, os petistas evidenciam que é preciso discriminar. A locutora
pergunta: “Por que tanto ódio e intolerância contra um partido neste momento em
que o país precisa tanto de união?”
Respondo com perguntar: seria por causa da
roubalheira? Da Petrobras quebrada? Da recessão? Do desemprego? Da velhacaria?
E tem início o discurso falacioso que separa a
nossa história em a. PT e d.PT: Antes do PT e Depois do PT. De modo quase
bíblico, tudo, no passado, eram trevas, até que chegaram os iluminados.
O partido que diz querer a união de todos avança na
jugular da oposição: “Já tentaram anular o resultado das eleições; não
conseguiram. Aí pediram para recontar os votos. Queriam ganhar no tapetão, mas
não deu certo. Quiseram, então, instalar uma comissão do impeachment na marra.
Tiveram que mudar o plano. Agora, atacam e caluniam o presidente Lula”.
E tem início a sessão de adoração do líder,
santificando-o, como se o ex-presidente realmente estivesse acima das leis. A
ironia é que o programa vai ao ar um dia depois que o mago da eleição e da
reeleição de Dilma, João Santana, teve decretada a prisão provisória. A
mistificação continua:
“Desrespeitam todas as regras para chegar ao poder a qualquer custo. Mas o Brasil já demonstrou que ninguém é mais poroso do que o nosso povo”.
“Desrespeitam todas as regras para chegar ao poder a qualquer custo. Mas o Brasil já demonstrou que ninguém é mais poroso do que o nosso povo”.
Vamos ver. Ninguém tentou “anular o resultado das
eleições”. As oposições recorreram ao TSE contra crimes cometidos pelo PT
durante a disputa. Quais regras estariam sendo desrespeitadas? O povo, o
poderoso, todos sabem, é esmagadoramente favorável ao impeachment de Dilma, e
nada menos de 61% dos eleitores, segundo o Ibope, não votariam hoje em Lula de
jeito nenhum.
Isso mesmo! Deixem que o povo decida, então…
Aí a gente ouve uma voz grave, em tom falsamente
emocionado, a afirmar que “os que hoje tentam manchar a sua história, Lula, são
os mesmos de ontem…”
Curiosamente, em recortes de jornal do passado,
exibidos na tela, lê-se o nome de Collor como o inimigo de então. É verdade!
Ocorre que, hoje, o presidente impichando é um dos fieis colaboradores do
petismo. Ele próprio está sendo investigado na Lava Jato porque Dilma lhe abriu
as portas da BR Distribuidora, onde, segundo a PF e o Ministério Público, o
senador pinto e bordou.
Não! O PT mente! Muitos dos inimigos de ontem do PT
são seus amigos hoje e, ora vejam, são também seus sócios no poder. E parceiros
na lambança.
O locutor fala em “ofensas, acusações, privacidade
invadida”. Qual privacidade? O triplex do Guarujá e o Sítio Santa Bárbara não
são assuntos privados. Ao contrário: trata-se de questões de absoluto interesse
público, uma vez que já os empreiteiros que o chamavam de “chefe” e que lhe
fizeram favores são investigados no maior esquema criminoso jamais descoberto
no Brasil.
E eis, então, que chega o demiurgo. Nota: no plano
original, Lula não falaria. Mas agora o prioridade zero do partido e tentar
restaurar a imagem de Lula, tarefa que parece impossível. Por isso ele encerra
o programa. E aí, como não poderia deixar de ser, a cara-de-pau atinge o estado
da arte.
Segundo Lula, virou “moda falar mal do Brasil”. É
uma piada. Os brasileiros criticam o PT, o governo, Dilma e ele próprio, não o
país. Ao contrário: a esmagadora maioria do povo os quer fora do poder
justamente porque espera o melhor para o Brasil e para si mesma. E sabe que,
submetida à canga petista, não será fácil sair do atoleiro.
Como se ainda fosse o fiador de alguma coisa e como
se milhões estivessem interessados no seu juízo, afirma Lula, de mãos postas:
“Olhem, eu digo com absoluta certeza que, hoje, eu tenho muito mais confiança
no Brasil do que eu tinha quando tomei posse, em 2003”. E lá vem a cascata
sobre as grandes conquistas do governo do PT.
Como Lula é Lula, como o PT é o PT, como aquela
história da união de todos contra a crise era mesmo papo furado, ele volta a
investir no arranca-rabo de classes. Depois de exaltar as grandes conquistas do
seu partido, afirma: “E é isso que no fundo incomoda essa gente que não gosta
de dividir a poltrona dos aviões com o nosso povo”.
Lula, o “chefe” dos empreiteiros; Lula, cuja mulher
é a “madame” do concreto armado, tem a ousadia de falar como porta-voz dos
pobres.
Mas as ruas estão dando a resposta ao demiurgo e ao
PT. As mentiras do partido não colam mais. E é por isso que, mais uma vez, o
Brasil vai se unir no panelaço, no buzinaço, no “Fora PT”.
Mais do que nunca!
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