Antes que alguém mande eu me benzer, afirmo categoricamente que estou
sofrendo de Brasil
Por Augusto
Nunes, 19/10/2016,
www.veja.com.br
Texto de Vlady Oliver
Premido pela crise, demorei mais que o necessário
para ver que algumas coisas em minha casa estavam caindo pelas tabelas. E fui
comprar os itens que listei acima. Três das melhores marcas que conheço, para
que fique bem claro que trabalho dobrado para tentar colocar em casa apetrechos
com um pingo de dignidade na parada. A panela quebrou em três cozidas, a
cadeira quebrou o suporte das rodinhas, me derrubando em pleno escritório
falando com meu chefe pelo telefone, e o microondas ronca mais que um Trabant subindo
a ladeira e queimando todo o óleo pelo caminho.
Três das melhores marcas do mercado, eu repito. Dêem
uma rápida olhada nas compras de supermercado do mês e vocês verão que o mais
novo mimo do nosso “capitalismo, pero no mucho” é um selinho vermelho num canto
da embalagem, afirmando que a mesma agora vem com 10% a menos de produto
embutido nela. A lei agora permite isso. Um mimo, não é mesmo? Essa sucata em
que transformaram a indústria nacional, apoiada na muleta calhorda do vigarismo
estatal que campeou todo esse tempo por aqui, é o resultado de uma ideologia
bamba com o mais completo descuido com qualquer planejamento, mérito, controle
e eficiência.
É o PT no poder. É o discurso safado de esquerda,
que quando não vomita evacua na decência, como um bando de macacos acuados
diante da evolução da espécie. Demorei para encontrar um Nêumanne, nos
escombros do jornalismo de hoje, para dar às coisas os nomes que as coisas têm.
Que bom que ainda existe um exemplar, no meio de tantos outros que professam
mesmo é sua indignação com o savonarolismo da Lava Jato. O país mais corrupto
do mundo, nu e com as calças arriadas, bradando que é vítima de uma
perseguição seletiva. Não dá pra encarar, não é mesmo? Eu já vinha dizendo aqui
mesmo que, como engenheiro que sou, sei bem os resultados de se fazer uma obra
com a metade do cimento, para pagar propina. No mínimo, durará a metade do
tempo.
Antes que alguém mande eu me benzer, afirmo
categoricamente que estou sofrendo de Brasil. Um ajuntamento de vigaristas que
tenta sobreviver, dando uma tunga no consumidor e usando materiais dos mais
vagabundos em seus produtos. Teremos ou não uma “colaboração premiada” também
neste quesito? Passou da hora do país repatriar também sua vergonha na cara,
irremediavelmente perdida entre o socialismo de pinga que nos impuseram e a
saudade marreta que essa gente ostenta de uma realidade que jamais se consumou,
porque foi arquitetada para ser a fraude que é.
Essa gente não me engana. Se aquele escritor,
andares abaixo, pedisse emprestado um liquidificador para uma prima dele, lá
nos Estados Unidos, e esta lhe apresentasse um troço que mói até pedra britada,
aposto que ele entenderia finalmente a diferença entre o socialismo barato que
nós condescendemos em experimentar por aqui e o capitalismo de resultados
práticos e aferíveis. Nunca antes tinha visto este país com olhos tão abertos.
É um lixo. Obrigado, Nêumanne. Obrigado, Augusto. Tá difícil.
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