Ministro rejeita transferências de inquérito da 13ª Vara Federal para o
Supremo e passa um pito em Dallagnol
Por Reinaldo
Azevedo, 04/10/2016,
www.veja.com.br
Meus caros, antes que eu entre no
mérito do que decidiu Teori Zavascki sobre um pedido feito pela defesa de Lula,
terei de fazer uma digressão. Daquelas que, como costumo dizer, nos aproximam
do tema.
A exemplo de todo mundo, gosto que gostem
de mim. A exemplo de todo mundo, prefiro o aplauso à vaia. A exemplo de todo
mundo, folgo mais em estar certo em companhia da maioria do que errado junto
com a minoria.
Mas jamais diria o que não penso para
ser gostado.
Jamais condescenderia com o que
considero um erro para ser aplaudido.
Jamais abandonaria uma convicção para
não me sentir isolado.
Jamais fraudaria um valor para manter
um emprego.
O que há de heróico nisso? Nada! Na
verdade, não fico me perguntando isso ou aquilo quando e enquanto escrevo. Não
indago antes o que meus aliados pensam. Menos ainda me interessa o que acham
meus adversários intelectuais. Opino simplesmente segundo o que sei, segundo o
que apurei, segundo as leis, segundo as minhas convicções.
Já me chamaram de tudo e mais um pouco.
Um notório professor de esquerda, que atua fora do Brasil, jura por aí que sou
da CIA… Nada menos! Já me disseram do Opus Dei. Tucanismo, então, é atribuição
corriqueira. O deputado Jean Wyllys (PSOL) achou que conseguiria me ofender
gravemente ao me chamar de “bichona enrustida”. Ele acha que chamar o
adversário de gay é ofensa. De uns tempos para cá, alguns iluminados resolveram
ver nas opiniões do criador da palavra “petralha” ecos de… petismo e lulismo!
Sim, bater em mim rende “cliques”. As esquerdas sabem disso. A extrema-direita
também.
E por que haveria ecos de lulo-petismo
em parte das minhas opiniões? Ora, porque eu apontei alguns desmandos na
Lava-Jato. E vou fazê-lo sempre que julgar necessário e apropriado. Eu não
quero saber se o alvo da operação é Lula ou um Zé Ninguém endinheirado. A minha
luta é pela democracia e pelo Estado de Direito. Por isso o petismo nunca se
criou comigo.
Repudio o que Lula fez ao Brasil e
contra o Brasil. Acho que, respeitado o devido processo legal, seu lugar é a
cadeia. A pessoa dele nada me diz. Nem desperta meu amor nem desperta meu ódio.
Esses dois sentimentos são escravos. Quem ama se deixou capturar pela outra
pessoa. Quem odeia também. Eu simplesmente analiso. Ah, o amor pode ser um doce
cativeiro. O ódio será sempre um inferno.
Agora ao caso
A defesa de Lula recorreu ao Supremo
para retirar da 13ª Vara Federal de Curitiba — leia-se: das mãos de Sérgio Moro
— os inquéritos que lá correm contra o ex-presidente, a saber: o do triplex de
Guarujá e o do sítio de Atibaia.
Teori recusou o pedido, como eu disse
aqui que faria. Os outros membros da segunda turma o seguiram. Antes de votar,
no entanto, o ministro passou um pito claríssimo na Força-Tarefa, em especial
em Deltan Dallagnol. Referiu-se àquela coletiva em que o procurador tratou Lula
como chefe de organização criminosa — para depois denunciá-lo por lavagem de
dinheiro e corrupção passiva — como espetáculo.
Disse o ministro:
“(…) Lá em Curitiba, se deu notícia
sobre organização criminosa, colocando o presidente Lula como líder da
organização criminosa, dando a impressão, sim, de que se estaria investigando
essa organização criminosa, mas o objeto da denúncia não foi nada disso. Essa
espetacularização do episódio não é compatível nem com o objeto da denúncia nem
com a seriedade que se exige na apuração desses fatos”.
Se for o caso, leia de novo. Venham cá:
ALGUÉM VAI SAIR BERRANDO POR AÍ QUE TEORI TEM ATUANDO NO PROCESSO PARA PROTEGER
LULA?
O ministro disse mais: que a defesa do
ex-presidente poderia recorrer ao Supremo contra aquele evento, mas não para
retirar a investigação da 13ª Vara.
Isso é o que disse Teori. Agora eu vou
lembrar o que disse Reinaldo Azevedo:
“É inadmissível que o Ministério Público
arme aquela cena, sim, mas sem apresentar o tipo penal: cadê à denúncia que
aponta, então, Lula como o chefe de uma organização criminosa? Se Dallagnol diz
que Lula é o ‘general do petrolão’, e eu acho que ele é não, pode pura e
simplesmente emitir uma opinião. Um procurador investiga e oferece denúncia —
ou pede abertura de inquérito. Qualquer advogado sabe que o MPF cometeu um erro
grave nesta quarta-feira, talvez o maior desde o início da Lava-Jato. A defesa
de Lula vai deitar e rolar. Saibam que, neste momento, os meios jurídicos estão
em polvorosa. E não porque gostem da impunidade, mas porque se abriu uma vereda
sem igual para Lula.”
E escrevi igualmente que o pedido da
defesa de Lula não procedia.
Saibam os que pretendem me atacar em
blogs por aí: eu realmente não dou a menor pelota para o que dizem ou pensam a
meu respeito. Aliás, até me corrijo um tanto: em parte ao menos, talvez eu me
importe, sim.
A depender do lugar de onde parta o
ataque, só reforça a minha convicção de que estou certo. Até porque eu sempre
opino amparado na lei. E, quando eu a considero ruim, cobro que seja mudada. Mas
só aceito decisões que respeitem a ordem legal.
Esse cara sou eu.
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