O alagoano José Renan Vasconcelos
Calheiros, filiado ao PMDB, é o que se pode definir, em toda a extensão
pejorativa do termo, como um político profissional
Por victoriraja,
22/09/2016,
www.veja.com.br
Editorial do Estadão
O notório senador Renan Calheiros investe-se de
superioridade moral para criticar o “exibicionismo” dos integrantes da Operação
Lava Jato. Trata-se da mesma pessoa, que a lassidão dos costumes reconduziu à
presidência do Senado Federal, que em 2007 precisou renunciar ao mesmo posto
para salvar o mandato de senador e está sendo investigado agora em 12
inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF), 9 deles relativos à Lava Jato.
“Exibicionismo” é a exposição dessa folha corrida, simultânea à farisaica
exibição de virtudes cívicas – tudo com o óbvio objetivo de evitar que se faça
justiça.
O alagoano José Renan Vasconcelos Calheiros,
filiado ao PMDB, é o que se pode definir, em toda a extensão pejorativa do
termo, como um político profissional. Como tal, aferra-se à convicção de que o
eleitor tem memória curta e sente-se à vontade para praticar o adesismo
irrestrito que o tem levado a aliar-se sempre aos poderosos de turno, no
interesse de suas próprias conveniências políticas. De Collor a Dilma,
Calheiros esteve sempre no poder.
Quando era deputado estadual em Alagoas, Calheiros
acusava o então prefeito de Maceió, Fernando Collor de Mello, de ser o
“príncipe herdeiro da corrupção”. Já deputado federal, com a eleição de Collor
à Presidência da República, em 1989, tornou-se seu líder na Câmara dos
Deputados e, entre outras proezas, anunciou uma ampla devassa no governo
anterior, de José Sarney. Mas não conseguiu o apoio de Collor para se eleger
governador de Alagoas em 1990 e virou-se contra ele, acusando-o de traição.
Com Itamar Franco na Presidência após a renúncia de
Collor, Renan assumiu por cerca de dois anos a vice-presidência da Petroquisa,
subsidiária da Petrobrás.
Fernando Henrique Cardoso tornou-se presidente da
República em 1995 e já encontrou Renan Calheiros na cúpula do PMDB. Aceitou
nomeá-lo ministro da Justiça, por indicação do senador Jader Barbalho
(PMDB-PA).
Em 2002, o PMDB fez uma aposta eleitoralmente
errada e apoiou a candidatura tucana de José Serra à Presidência da República.
Mas o equívoco foi imediatamente corrigido após a vitória de Lula. O PMDB
passou a integrar a base aliada do novo governo e, em fevereiro de 2005, o PT
apoiou a primeira eleição de Renan para a presidência do Senado Federal. Dois
anos depois, em fevereiro de 2007, o alagoano, já composto com seu
correligionário José Sarney, reelegeu-se para o que seria um curto mandato, ao
qual foi forçado a renunciar, em novembro, numa negociação que lhe preservou o
mandato de senador.
O escândalo que ficou conhecido como Renangate
estourou em maio de 2007, quando foi publicada a notícia de que a empreiteira
Mendes Júnior pagava uma mesada de R$ 12 mil à amante com quem Renan tinha uma
filha. Seguiram-se outras denúncias graves: a compra de uma emissora de rádio
em Alagoas, em nome de laranjas; a emissão de notas fiscais frias para
justificar rendimentos; tráfico de influência na compra de uma fábrica de
refrigerantes. Ao todo, foram apresentadas seis representações ao Conselho de
Ética do Senado pedindo a cassação do mandato de Renan.
Mas as transgressões de Renan Calheiros em 2007
eram brincadeira de criança em comparação com o que viria. Vale repetir: são 12
inquéritos junto ao STF, 9 dos quais relativos à Lava Jato. Em 7 de junho
último, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, chegou a pedir a prisão
de Renan Calheiros – como parte de um grupo ilustre de peemedebistas integrado
também por José Sarney, Eduardo Cunha e Romero Jucá – sob a acusação de tentar
obstruir os trabalhos da Operação Lava Jato.
A folha corrida de Renan Calheiros distingue-se,
por exemplo, da de Eduardo Cunha, que já teve o mandato cassado, porque o
alagoano é um devoto das sombras e evita desafiar abertamente o governo –
qualquer governo. Mas isso não explica por que Renan Calheiros continua se
beneficiando da proverbial morosidade da Justiça, o que o estimula a desafiá-la
com crescente desassombro.
Coluna de Augusto Nunes na Veja.
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