Os temas abordados incluíram as causas da crise econômica e as medidas
necessárias para tirar o Brasil do atoleiro
Por Augusto
Nunes, 25/10/2016,
www.veja.com.br
A convidada do Roda Viva desta
segunda-feira foi a economista Monica de Bolle, professora da Universidade
Johns Hopkins. Autora do livro “Como matar a borboleta-azul: Uma crônica da era
Dilma”, ela examinou as causas da crise econômica brasileira e as medidas
necessárias para tirar o país do atoleiro. Confira alguns trechos da
entrevista:
Falar sobre a PEC do Teto pode soar um pouco
abstrato para a população. Esse tipo de comunicação deve se dar de maneira
simples: “olha, passamos por um momento complicado, houve um desmonte da
economia e, diante disso, temos duas opções, podemos cortar gastos, aumentar
impostos ou fazer uma combinação das duas coisas. Como aumentar impostos terá
um impacto no seu bolso, estamos tentando evitar essa situação de imediato”.
A partir de 2011 houve uma tentativa de manter o
país crescendo numa taxa que já não era condizente com a realidade. E vários
artifícios foram utilizados, mas principalmente dois: o uso do crédito público
subsidiado, sobretudo do BNDES, e a queda dos juros de uma forma um tanto
atabalhoada.
Dilma Rousseff deixou uma porta arrombada sem nada
dentro. Foi um legado de destruição.
O processo de reconstrução da economia é árduo,
lento e vai exigir muita paciência. E o pior é que, diferente da época de
Itamar Franco, quando o Plano Real levou dinheiro ao bolso da população, hoje
não há nada que se possa fazer para dar um alento às pessoas.
Existe atualmente no Brasil uma situação esquisita.
Se você foi a favor do impeachment de Dilma Rousseff, precisa necessariamente
ser a favor do governo Temer. Eu entendo aqueles que apoiaram o impeachment,
mas olham com desconfiança o atual governo. São coisas diferentes.
O problema maior não é fazer a PEC 401 ser aprovada
no Congresso, mas ter pulso firme para agüentar a pressão de todos os grupos de
interesse que querem um pedaço desse latifúndio.
O governo Dilma, principalmente no final, estava
completamente sem direção, o que tem um impacto grande sobre o mercado
financeiro. As pessoas estão mais otimistas. Mas tanto eu quanto parte dos
investidores estrangeiros que pensam a longo prazo estão preocupados, porque a
situação que vivemos hoje tende a mudar em 2017, quando já estaremos vivendo
uma realidade pré-eleitoral.
Países onde houve uma queda muito forte do PIB per
capita normalmente demoram uma década para se recuperar.
Nos primeiros anos do governo Lula havia um
equilíbrio grande entre ideologia e pragmatismo, além de um quadro
internacional positivo. No segundo mandato, principalmente depois de 2008, esse
equilíbrio começou a se desvirtuar. No final, predominou a ideia de que o que
importava era manter o crescimento, a renda subindo e os níveis de emprego,
mesmo que isso não estivesse mais em conformidade com o processo que o Brasil
estava vivendo naquele momento. Se Dilma tivesse retomado o equilíbrio, talvez
revertesse essa descida ladeira abaixo. Em vez disso, ela acelerou.
Enquanto nossos vizinhos estavam fazendo diversos
acordos bilaterais, nós simplesmente ignoramos por completo o que acorria ao
nosso redor. É uma infelicidade que o Brasil esteja se abrindo somente agora,
num momento em que o mundo quer se fechar.
A bancada de entrevistadores reuniu os jornalistas
André Lahóz (Exame), Bruna Lencioni (revista América Economia
Brasil), Samantha Pearson (Financial Times), Alvaro Gribel (O
Globo) e Márcio Kroehn (Istoé Dinheiro). Com desenhos em tempo
real do cartunista Paulo Caruso, o programa foi apresentado, excepcionalmente,
pelo diretor de Jornalismo da TV Cultura, Willian Corrêa.
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