Mexeu com o Lula, mexeu com a
patrulha do Lula. Os democratas prendem e arrebentam
Texto de
Guilherme Fiuza, 04/04/2016,
www.veja.com.br
Está em marcha um golpe de Estado no Brasil. A
elite branca e reacionária quer cassar o legítimo direito de Dilma, Lula, PT e
seus amigos continuarem desfalcando o país honestamente. Não passarão!
A resistência heróica já começou. Durante um
espetáculo teatral em Belo Horizonte, o ator Claudio Botelho fez uma ironia com
a lama que envolve presidente e ex-presidente – um “caco” no texto. O teatro
desabou sobre o artista.
Boa parte da platéia passou a gritar o novo slogan
das almas mais honestas do mundo (que por acaso vivem no Brasil): “Não vai ter
golpe!”. No caso, nem golpe, nem peça. O elenco teve de sair de cena, expulso
no grito. Claudio Botelho é um artista consagrado, produtor de alguns dos melhores
musicais montados no país nas últimas décadas, e nunca tinha passado por isso.
Ato contínuo, o compositor Chico Buarque proibiu
Botelho de usar suas músicas, neste e em qualquer outro trabalho futuro – isto
é, se a resistência democrática permitir que haja futuro. A razão desse
cataclismo foi simples: mexeu com Lula, mexeu com a patrulha do Lula. Aí os
democratas prendem e arrebentam, como diria o general Figueiredo.
Perplexo, o herege Claudio Botelho declarou: “A
gente conquistou a liberdade a duras penas. Já acabou?”.
Já, companheiro. A não ser que você seja bonzinho e
não atrapalhe o conto de fadas do oprimido, que infla tantas reputações heróicas.
Aí você pode falar o que quiser. Por que, em vez dessas citações subversivas,
você não monta uma ópera sobre o maior palestrante do mundo? Que personagem
épico da história universal já faturou quase R$ 30 milhões em palestras em
pouco mais de três anos, estando os principais pagadores dessas palestras todos
presos? O pagador de palestras – eis um bom título para a continuação de sua
ópera.
Os democratas que estão defendendo com unhas e
dentes o mandato limpo e exemplar de Dilma Rousseff é assim mesmo – gostam de
ajudar o próximo a entender o que ele pode falar. Quando Cuba ainda não servia
cafezinho para Obama, uma oposicionista do regime de Fidel esteve no Brasil
para expor suas idéias. Mas precisou voltar à ditadura cubana para continuar a
expô-las, porque no Brasil a democracia companheira não permitiu. Yoani Sánchez
sabe bem o que Claudio Botelho passou, porque a claque democrata também a
colocou no paredão – garantindo que ninguém pudesse ouvir sua voz, nem ela
mesma.
Esse tipo de ação democrática é muito comum em
regimes livres e humanitários como o Talibã e o Estado Islâmico. Botelho, por
favor, mantenha a cabeça no lugar.
A democracia do cala a boca está lutando bravamente
contra o golpe preparado pelo juiz Sergio Moro. Tudo estava funcionando muito
bem, com as comissões sendo pagas em dia e ninguém roubando o pixuleco de
ninguém, até que o juiz golpista apareceu. Os democratas não se conformam. O
departamento de operações estruturadas da Odebrecht, em perfeita afinação com o
filho do Brasil, distribuía renda farta aos brasileiros cadastrados. Como
reagiu Renato Duque ao ser preso, “que país é este” onde a maior empresa
nacional não pode encher de felicidade as almas mais honestas?
Moro é um invejoso. Provavelmente não se conforma
por não ser dele a obra mais espetacular dos últimos 50 anos – a transformação
do melhor ciclo econômico do país na mais grave recessão de sua história. Por
isso esse juiz autoritário fica bisbilhotando as conversas de Lula: quer
aprender como se monta uma ruína nacional.
Aí Sergio Moro suspende o sigilo das escutas que
mostram “o Lula como ele é”, e todo um Brasil culto e republicano pula nos
tamancos: não pode! Mas... Não pode por que, mesmo? Bem, pela lei, pode. O juiz
criminal que identificar na difusão pública o meio de evitar uma manobra de
obstrução de Justiça (Lula como ele é) pode, sim, suspender o sigilo das escutas
por ele decretadas. Eis, então, o erro elementar desta interpretação: o que é a
lei, diante dos direitos sagrados dos pobres milionários que mandam no Brasil?
Não é nada, de acordo com o primeiro mandamento da elite vermelha: quem não chora não mama. Aí é preciso concordar com os democratas de butique: se eles tiverem mesmo de parar de mamar, será um duro golpe. Deve ser desse golpe que eles andam reclamando por aí.
Não é nada, de acordo com o primeiro mandamento da elite vermelha: quem não chora não mama. Aí é preciso concordar com os democratas de butique: se eles tiverem mesmo de parar de mamar, será um duro golpe. Deve ser desse golpe que eles andam reclamando por aí.
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