Colunista lembra que o conselho
dado por Lula a Dilma foi seguido pelo próprio ex-presidente em 2005, no auge
do escândalo do mensalão
Por Rosane
de Oliveira, 03/07/2015,
www.zerohora.com.br
Há dez anos,
Lula participou de uma maratona de eventos com trabalhadores enquanto
enfrentava a crise do mensalão
Fora do poder, é fácil para o ex-presidente Lula
sugerir que sua sucessora vá para as ruas, encoste a cabeça no ombro do
povo e explique as dificuldades do país. Lula, melhor do que ninguém sabe que,
Dilma Rousseff, com apenas 9% de aprovação na última pesquisa do Ibope, não
está em condições de fazer esse encontro com as ruas sem enfrentar vaias e
panelaço. O máximo que Dilma consegue é falar a segmentos restritos, cercada de
um aparato de segurança que impeça a aproximação da maioria que considera seu
governo ruim ou péssimo.
Lula deu o conselho discursando em território
amigo, a 5ª Plenária Nacional da Federação Única dos Petroleiros (FUP), em
Guararema, região metropolitana de São Paulo. Em um local aberto, correria o
risco de ter sido ele o alvo de vaias, já que sua popularidade também não é a
mesma dos tempos de bonança.
A sugestão para que Dilma explique as dificuldades
e quais são as perspectivas do país seria pertinente, não fosse por um detalhe
além da rejeição: a incapacidade da presidente de se expressar com clareza. Em
tempos de paz, Dilma já se atrapalha com as palavras. Pressionada, não consegue
fazer um discurso coerente e produz caricaturas, como os comentários sobre a
mandioca ou a comparação entre os delatores da Lava-Jato e os que entregavam os
companheiros no tempo da ditadura.
Com o uniforme laranja de petroleiro, que tantas
fotos positivas rendeu na era pré-escândalo de corrupção na Petrobras, Lula
falou em um evento que tinha como lema "Defender a Petrobras é defender o
Brasil". Disse que sente orgulho da empresa e que ela não é só corrupção.
Como sempre, em se tratando de Lula, faltou o mea culpa.
Faltou reconhecer que os grandes desvios
identificados até aqui ocorreram no governo dele. Que colocou pessoas erradas
em cargos de comando. Que se arrepende (se é que se arrepende) de ter dado
poder a quem não merecia.
Lula disse que Dilma e os ministros precisam
colocar "o pé na rua" e falar com as pessoas que torcem para ela
governar o país. A pergunta é: como conquistar uma população que não mostra
disposição para ouvir o que a presidente tem a dizer?
Como Lula
fez em 2005
Há 10 anos, no auge da crise provocada pelas
denúncias do então deputado Roberto Jefferson (PTB) de que o governo pagava um
"mensalão" aos aliados no Congresso, Lula fez o que hoje aconselha
Dilma Rousseff a fazer: procurou os ombros do povo.
Na foto acima, Lula está com os trabalhadores da
Refinaria Alberto Pasqualini, em Canoas, parte de um roteiro que incluiu
encontros com operários que trabalhavam na duplicação da BR-101, em Osório e
Maquiné. O encontro com os petroleiros da Refap era o quarto com trabalhadores
em uma semana.
A primeira diferença em relação à Dilma é que,
naquela época, o capital político de Lula seguia praticamente intocado –
tanto que, um ano depois, se reelegeu presidente. Mesmo no auge do mensalão, a
popularidade dele se manteve em patamar confortável. A segunda é que a economia
ia bem e não havia, como agora, o fantasma da inflação e do desemprego.
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