Por Augusto Nunes, 13/04/2016,
www.veja.com.br
Texto de
Valentina de Botas
Para quem uma mulher se veste? Para si mesma, o que
inclui os homens e as outras mulheres. Mas evitemos generalizações: isso não se
aplica a todas as mulheres, claro, somente àquelas que vêem alguma graça na
vida, que catam uma felicidade mínima aqui, outra ali, em instantes do
cotidiano.
As mulheres e os homens mais próximos da presidente
têm problemas com a lei: Erenice Guerra é investigada na Zelotes, Lula e
Mercadante serão presos, Gim Argello acaba de ser preso, José
Eduardo Cardozo será processado, Fernando Pimentel será cassado e ela
mesma não se sente muito bem com os últimos gestos de Rodrigo Janot que
finalmente descobriu que Eduardo Cunha não é o único nem o mais grave de todos
os gravíssimos casos de polícia debaixo do nariz do Procurador-Geral. Entretanto,
isso nem é o pior para a governante durona diluída em crimes que vê pelas
costas os partidos governistas se afastando de certo caixão que carregaram até
a beirada da sepultura.
Dentro do ataúde, a mulher grita. Grita denunciando
o vice-presidente por exercer as funções políticas e institucionais dele;
acusando talvez mais de 2/3 dos brasileiros de golpistas que ela vitimou;
queixando-se de um golpe do Congresso obediente ao rito que o próprio governo
encomendou no Supremo Tribunal Federal ao custo de uma interpretação malandra
da Constituição e da fraude ao regimento interno da Câmara resultando no
prolongamento inútil do transe do país.
Ainda se debatendo em delinqüências diárias no
interior do esquife, repete, sempre aos gritos a lhe deformar as feições
desgraciosas e os modos democráticos ausentes, que foi eleita-pelo-voto-popular
como se não soubéssemos que só conseguiu isso fazendo o diabo: com fraudes,
extorsão, propinas. E como se o voto que não imunizou Collor quando sofreu
impeachment e que não impediu o PT de pedir o afastamento de Itamar Franco e
FHC, pudesse imunizá-la contra a lei.
A escalada de crimes para preservar o poder mantém
o governo nessa putrefação pública que poderia ser evitada se – e aqui, creio,
reside a desgraça de Dilma Rousseff do ponto de vista pessoal – um dos homens
ou das mulheres próximas da presidente tivesse, não digo honestidade que já é
demais, mas alguma temperança para fazê-la saber que há limite para a falta de
limites. Mas a insanidade mal calculada e a parvoíce eficiente não a fazem
burra: Dilma sabe que sabemos que ela sabe que termina – domingo no Congresso
(detestado pela mulherzinha de alma tirana na crença de que poderia e mesmo
tinha o direito de governar sozinha) e, mais tarde, na cadeia – a mais sórdida
mentira já havida num Brasil que terá visto de tudo quando os poderosos
mentores e patronos dela ainda livres forem para cadeia porque, ricos ou pobres
de origem, não são nem elite nem povo, mas escória.
No próximo domingo, a irascível czarina da roubalheira
vestirá a mortalha do impeachment. Para quem? Será obrigada legalmente a
fazê-lo por e para homens e mulheres indignados num país destruído que terá
dado o primeiro passo para se refazer, ainda zonzo com a nova ordem que ele
mesmo inaugura.
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