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sexta-feira, 29 de abril de 2016

Cadê a oposição para sustentar que o único corte eficaz é o do nome Dilma Rousseff na plaquinha à porta do gabinete presidencial?



Por Augusto Nunes, 05/09/2015,
 www.veja.com.br

VALENTINA DE BOTAS

A bela e eterna Rachel de “Friends”, referindo-se à felicidade banal entre ela e o então marido, na pré-hecatombe Angelina Jolie, disse que “eu e Brad temos jantares silenciosos”. No Brasil em agonia, falta oposição enquanto sobra uma presidente que, sem saber sanar o rombo que soube cavar, achou que a fajuta transparência do ultraje na apresentação do orçamento com rombo maquiado abafaria o estrondo da hecatombe fiscal. Do fundo da cratera ética, acha que transparência não é obrigação do governante, mas concessão.

O rombo é também na moralidade da administração pública, nas relações institucionais, na interação entre o governo e a sociedade, na decência da política externa. Rombo no nosso futuro, na nossa paciência esgotada, na nossa cidadania rarefeita, na nossa espera desesperançada. Dilma não sabe que já basta. Dilma não sabe quando parar, Dilma não sabe nada. Quanto mais Dilma tiver, mais teremos desse buraco. Nos últimos dias, houve uma CPMF que não haverá; a resposta intolerável de Rodrigo Janot à solitação de Gilmar Mendes; fora o resto no país em que não falta notícia.

Falta a oposição com a própria narrativa dos acontecimentos: é pela narrativa que um ente político se faz existir. Ha 13 anos a oposição oficial, num mutismo imperdoável, acorda grogue a cada quatro anos para o rito eleitoral a que reduziu sua participação na democracia, quando boceja belos discursos voláteis jurando que, agora sim, tiraria da tal caixa a esperança remanescente. Eleições perdidas, os opositores retornavam à zona de conforto e o governo ao conforto dessa zona toda.

O chão agora escapa sob os pés do governo e dos lulopetistas, reconheça-se, por mérito deles; a oposição oficial nada fez para isso já que deixou de denunciar cotidianamente a delinqüência cotidiana do regime, ignorando a lição da oposição real: a resistência democrática se faz no dia a dia, na perenidade, numa campanha constante não só por eleições, mas por gerações. Continua ausente ao não elaborar os fatos num discurso – produtor de traduções – que a inseriria no presente, ao lado da nação sofrida.

Assim, os lulopetistas se apropriaram discursivamente da realidade e impuseram o engodo, que só não se sustenta mais pela fadiga do material, como fiel tradução dela. Adiando permanentemente a primeira vez em que diria a verdade, Dilma afirma que o governo cortou tudo o que podia e Temer murmura que a presidente não renunciará, guerreira que é. Cadê a oposição para sustentar que o único corte eficaz é o do nome Dilma Rousseff na plaquinha à porta do gabinete presidencial e admitir que guerreira é a nação honesta sobrevivente entre o lulopetismo cafajeste e a oposição emasculada?

Os anseios da nação espoliada só podem ser encaminhados por vias institucionais como a oposição oficial, mas essa aí precisa saber que estamos fartos do silêncio que, oposto àquele que adensava presenças nos jantares do feliz ex-casal de Hollywood, grita uma ausência. Adivinhe quem vem para jantar, oposição? Não é a Angelina Jolie, fica a dica.

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