Há coisas que viram, não tem
jeito, retrato de uma época. Em si, não têm nenhuma implicação prática, mas
acabam servindo como expressão de um tempo por seu simbolismo
Por Reinaldo
Azevedo, 26/04/2016,
www.veja.com.br
Há coisas que viram, não tem jeito,
retrato de uma época. Em si, não têm nenhuma implicação prática, mas acabam
servindo como expressão de um tempo por seu simbolismo. Suetônio (70 d.C.-141
d.C.) não retratou a vida dos Doze Césares dando relevo a suas medidas
administrativas. Os hábitos, manias, obsessões e temperamento é que compõem a
riqueza da obra. O que se faz lá é narrar uma mentalidade.
O país foi, vamos dizer assim, sacudido
nesta segunda-feira por uma série de fotografias que Milena Teixeira, mulher do
novo ministro do Turismo, Alessandro Teixeira, postou em sua página no
Facebook, onde ela ainda assina Milena Santos — não sei se nome artístico ou de
registro —, com uma foto, já na abertura, em trajes sumários. As outras todas
se destinam a expor o que uma antiga música chamaria sua “saúde civil”, com
tecidos que aderem à pele com uma impressionante eloquência.
Antes de se casar com Alessandro
Teixeira, petista que foi um dos coordenadores das duas campanhas de Dilma à
Presidência e braço-direito de Fernando Pimentel no Ministério da Indústria,
Desenvolvimento e Comércio Exterior, Milena foi vencedora do concurso “Miss Bumbum
Estados Unidos”, edição de 2013. As fotos que circulam, algumas tendo Brasília
ao fundo, são de uma contundência que cala a boca de qualquer juiz.
Circula ainda nas redes um filmete sem
inibições que ela fez para o site “XVideos”, intitulado “Milena Silva Making Of
Sexy Premium 2007”.
Não pensem que estou aqui numa pegada,
vamos dizer, moralista com a moça. Nada disso. Deve haver padres, coroinhas,
pastores e, certamente, políticos que fizeram grande mal a terceiros e ao país.
Até onde sei, a dita-cuja, se algum contratempo causou, foi só a si mesma. O
meu ponto é outro. E vou chegar lá.
Nesta segunda, Milena publicou as fotos
no gabinete no marido, com uma legenda, conforme está escrito lá:
“Compartilhando com meus amigos meu primeiro dia de Primeira Dama do Ministério
do Turismo do Brasil. Te amo meu amor, juntos somos mais fortes! Não é atoa
(sic) que ao lado de um grande homem, existe sempre uma linda e poderosa
mulher”.
Milena não tem receio de provocar
inveja: “Sem dúvida, sou a primeira-dama mais bonita. Alguém duvida?”. Ninguém
ousaria, acho eu.
No Facebook, ela mostra que é mais do
que um corpo eloqüente. Também emite opiniões políticas a que não falta nem
mesmo o sabor do enigma e uma pegada filosófica. Escreveu por exemplo: “Isso
tudo está acontecendo porque quem não mama, chora. O povo entende bem o que
quero dizer”. Acho que entende.
A primeira-dama do Turismo também gosta
de pôr a pouca roupa a serviço de causas políticas. Mas ela censura os de má-fé
e má vontade. Explicou (segue conforme o original): “Não estou tirando a roupa
para aparecer, estou usando isso para chamar a atenção sobre o que tenho para
dizer. O povo brasileiro dá mais atenção a uma bunda de fora do que para o que
precisamos realmente dar atenção. A mudança para que possamos eleger bem nossos
representantes, começa em tentar melhorar a cultura do país”.
Quem pode negar que Milena tem razão,
não é mesmo?
E se mostrar o traseiro não é
importante para fazer triunfar uma ideia, a gente fica mais aliviado. Imaginem
se a moda pegasse em Brasília. Seria uma hecatombe estética — a ética já
aconteceu faz tempo.
Milena até pode ser uma boa senhora,
esposa apaixonada e extremosa. Mas aí me ocorre: como é mesmo que ficamos
sabendo de sua existência? Ah… Quem a trouxe ao mundo da política e de Brasília
foi o seu marido, o, o, o… Como é mesmo? Ah, o Alessandro Teixeira, cujo maior
talento para ocupar uma vaga no ministério de Dilma é ser petista, ter sido um
dos coordenadores da campanha da presidente em 2010 e 2014 e ser aliado de…
Fernando Pimentel — o governador petista de Minas que acabará impichado anotem
aí.
A devastação política nos quadros do
petismo é tal; a desordem é de tal envergadura; o desarranjo é tão evidente que
todas as fronteiras vão desaparecendo.
Mais o marido de Milena do que ela
própria, com seu ar embevecido no gabinete, num ato de exibicionismo explícito,
explica, por intermédio do símbolo, um governo que chegou ao fim; que se
arrasta na penúria política, ética, moral, conceitual, jurídica e, bem, por que
não destacar? Também estética.
Milena, coitada! Tudo indica, continua
a perseguir a fama. E ser a “primeira-dama do Turismo” e a “primeira-dama mais
bonita” lhe parece um galardão digno de ser exibido. O governo Dilma, nos seus
estertores, lhe proporcionou e ao marido mais esses instantes de notoriedade.
Antes que tudo acabe e só reste na rua o barulho dos que cospem no estado de
direito.
Milena está de parabéns. Ilustrou esse
tempo com raro talento. É o governo Dilma e do PT vivendo seus últimos dias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário