Por Augusto Nunes, 06/09/2015,
Editorial do Estadão:
O vice-presidente Michel Temer tem razão. Será
difícil o governo resistir três anos e meio com o insignificante apoio de 7% da
população, índice com viés de baixa. Mas Dilma Rousseff insiste-nos mesmos
erros que estão na raiz de seu enorme desprestígio popular. Continua tentando
obstinadamente tapar o sol com a peneira quando se trata da grave crise
econômica do País.
Só consegue com isso agravar seu déficit de
credibilidade, que despencou a partir da constatação de que ela havia mentido
na campanha eleitoral, quando acusou os adversários de estarem dispostos a
adotar, para o combate à crise, as medidas impopulares que ela própria passou a
defender, simbolizadas pela surpreendente nomeação de um ministro da Fazenda
“liberal” disposto a fazer austeros cortes de despesas para botar em ordem as
contas do governo. Para sair do sufoco Dilma tem tentado de tudo, menos ser
sincera.
A encenação com a qual a presidente pretendeu
acabar com as especulações a respeito da permanência de Joaquim Levy foi apenas
mais uma tentativa desastrada de disfarçar o conflito que existe no seio do
governo – principalmente no Palácio do Planalto – envolvendo a natureza da
crise econômica e o plano de ação para combatê-la. Esse conflito se tornou mais
agudo nas últimas semanas por causa da proposta de Orçamento da União para 2016
que precisava ser apresentada ao Congresso até o fim de agosto.
Contra a opinião de Levy, que queria apresentar um
orçamento equilibrado que exigiria cortes profundos de despesas, Dilma optou,
com o apoio dos ministros com os quais tem afinidades, por uma peça deficitária
em mais de R$ 30 bilhões. A clara intenção por detrás dessa iniciativa inédita
de confessar que o governo não tem como pagar suas contas era forçar o
Congresso a dividir com o Executivo a tarefa – e a responsabilidade – de
descascar o abacaxi. Não colou, é claro, porque as velhas raposas que comandam
as duas Casas do Parlamento imediatamente acusaram o golpe e Dilma se viu
constrangida a declarar que não iria fugir da sua obrigação de resolver o
problema.
A essa altura, depois de ter sido reiteradamente
voto vencido, inclusive na infeliz idéia de ressuscitar a famigerada CPMF –
quando não foi nem consultado –, a boataria corria solta e Levy já se via
arrumando as malas. Assustada com a previsão de que eventual renúncia do
ministro da Fazenda poderia deixar os petistas muito felizes, mas agravaria a
repercussão da crise dentro e fora do País, Dilma ouviu a recomendação de
cautela que lhe fez o presidente do Bradesco, que até então era o homem que
maior influência exercia na formulação e na conduta da política econômica, pois
não apenas recusara o cargo de ministro da Fazenda, mas para ele indicara o
atual ministro. Depois de nova conversa com o presidente do Bradesco – que de
pessoa mais influente passou naquele momento à condição de homem mais poderoso
do País na condução da política econômica –, Dilma colocou na mesma sala Levy,
Nelson Barbosa e Aloizio Mercadante. Ordenou que só saíssem de lá para anunciar
que o titular da Fazenda é que estava com a razão e que o governo continua
empenhadíssimo em cumprir a meta de superávit primário de 0,7% do PIB que ele
propõe. Quer dizer: essa coisa de orçamento deficitário estava sendo muito mal
interpretada por todo mundo.
Para fechar com chave de ouro mais esse episódio do
vai e volta do orçamento e da operação “salva Levy”, Dilma designou o ministro
Aloizio Mercadante para falar à imprensa. Com a arrogância e a prepotência
habituais, Mercadante atirou contra quem ousasse imaginar que Levy sairia do
governo: “Evidente que fica!”. E explicou, sem corar: “Há total unidade da
equipe em relação a que nós precisamos continuar o esforço de cortar gastos,
especialmente as despesas obrigatórias”. E destilou vitríolo: “Num momento de
instabilidade, há uma aliança entre os mal informados e os mal-intencionados,
gente especulando e tentando ganhar dinheiro com a turbulência”.
Enquanto isso, alheio às preocupações da presidente
da República, o presidente do PT, Rui Falcão, dedica-se a convocar a militância
do partido e de todas as entidades e organizações sócias “progressistas” – quer
dizer, as que apóiam o PT – para debater, na próxima sexta-feira, a proposta de
uma “nova política econômica”.
Assim, não há o menor risco de o Brasil sair do
buraco em que o lulopetismo o meteu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário