Por Augusto Nunes, 10/04/2016,
www.veja.com.br
Texto de Valentina
de Botas
O Encontro com Mulheres em Defesa da Democracia,
outra ilegalidade no Palácio do Planalto em descarada reincidência da
presidente, me fez pensar na expressão do inglês blind date para um encontro em
que as partes não se conhecem porque as mulheres presentes não fazem idéia do
que é democracia. Marcia Tiburi, uma delas, num vídeo nas redes (anti) sociais
e num artigo, afirma que a loucura atribuída à presidente por uma revista é
machismo da publicação e que a louca apontada em Janaína Paschoal num ato
pró-impeachment, adverte a filósofa candidata à Chauí, é fascista.
Achando que gênero tem lado, releva o delírio
arrogante de uma criminosa e acusa uma mulher de campo ideológico divergente,
defensora da lei, de ter um discurso “pobre”, “cheio de ódio” que leva a “uma
caricatura política” pela “falta de argumentos”. Saiba a feminista seletiva que
não é na ira santa de Janaína que o Congresso se baseará para destituir a
presidente legalmente, mas em argumentos irrespondíveis e fundamentação jurídica
impecável apresentada pela advogada e professora de direito com Miguel Reale
Jr. e Hélio Bicudo.
O mulherio acumpliciado com Dilma na privatização
criminosa do Palácio do Planalto provou que a democracia convidada para o
encontro é coisa sombria em que vale tudo, deformada para justificar ou relevar
crimes que, portanto, é só tirania. Novamente, o mais torpe dos princípios, o de que os fins
justificam os meios. É curioso, e nojento, como essa gente abstrai
que regimes autoritários se autolegitimam pela anulação do contraditório.
Cúmplice no crime que não via, Tiburi denunciava um crime imaginário – “ataques
à democracia do nível de um estupro político” –, pretextando que nada mais é
além de machismo afastar uma criminosa do poder.
Ora, Dilma tem à disposição instrumentos legais
para deter os tais estupradores; não o faz porque sabe que, a despeito das
estocadas contra as instituições perpetradas pela escumalha que integra, não
impedirá nossa liberdade. Como essa baixaria está à altura do caráter da
governante, ela segue berrando contra o golpe inventado e acumulando crimes. No
blind date, esclarecendo como entendem a democracia e a igualdade entre os
gêneros, as mulheres chamaram alguns homens para expulsar uma cidadã que ousou
adentrar o prédio patrimônio de todos os brasileiros e brasileiras.
Sob gritos de “fora fascista”, pobres, cheios de
ódio, que levam a uma caricatura política pela falta de argumentos, mostraram a
Kelly Cristina, conhecida como Kelly Bolsonaro porque fã do deputado, que não
reconheceram a democracia que desconhecem. A permanência de Kelly demonstraria
a inexistente tolerância à diferença, tão celebrada na logorreia das esquerdas
fascistoides que denunciam no outro o que as constitui.
A pose cool seduz muita gente tipo assim bacana,
mas está a serviço do maniqueísmo das esquerdas totalitárias, submetendo
feminismo, democracia e outros apelos que enfeitam o discurso viciado,
previsível, pedante, chato, bocó e, sobretudo, falso de modo autodemonstrável:
Tiburi afirma em um livro que é difícil conversar com um fascista porque ele
não quer diálogo, precisamente como não quiseram com Kelly.
Não o li, enquanto a tirania com que essa gente
sonha não se abater sobre o país, nada nem ninguém me obrigará a ler um livro
prefaciado por Jean Willys, figura tão tosca quanto o ídolo de Kelly – mas
nenhum dos dois radicais deveria ser expulso de um ato a favor da democracia
porque esta se legitima no convívio dos contrários. No vídeo, Tiburi preconiza
a cura para os fascistas: beijar na boca alguém do mesmo sexo. Beijar é o bom
da vida, mas é inócuo como remédio para o fascismo, este deve é ser
desmascarado: por que Márcia não beijou Kelly ou Janaína em vez de as expulsar
física ou moralmente do debate? Porque a pose bacana das esquerdas
progressistas em truculência se volatiza na prática histórica concretizada na
expulsão do dissidente e no beijo da tirania.
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