Duvido que Fachin, o relator, vá
ceder à patuscada jurídica; ainda que acontecesse, há os demais ministros
Por Reinaldo
Azevedo, 14/04/2016,
www.veja.com.br
Não há a menor
chance de a chicana jurídica de José Eduardo Cardozo prosperar. Isso é puro
desespero de afogados. O Supremo já foi muito além do que era razoável,
conduzido pela sapiência tortuosa de Roberto Barroso, nessa questão. E inventou
um rito para o impeachment que não poderia ser mais favorável à presidente
Dilma. O chato para eles é ela ter cometido crime de responsabilidade.
Os argumentos do advogado-geral da
União são rigorosamente os mesmos que foram apresentados à Comissão Especial do
Impeachment. Como ele perdeu, então resolve apelar ao tribunal. Edison Fachin,
o relator da ação, creio, não vai ceder a esse tipo de expediente mixuruca. Até
porque, em outras situações, os ministros já se recusaram a interferir em
questão que dizem respeito a outro Poder.
Cardozo sabe que está tentando
inventar uma concepção de direito que é, vamos dizer, única.
Atenção! A delação de Delcídio do
Amaral não está no relatório do deputado Jovair Arantes (PTB-GO), aprovado por
38 votos a 27. Mais: as pedaladas fiscais dadas em 2014 também não. O relator
se cercou de todos os cuidados justamente para evitar qualquer risco de
controvérsia.
E olhem que o normal, em qualquer
processo, é que dados novos sejam agregados aos autos. Até porque cabe a
pergunta: se, nesse tempo, houvessem surgido elementos favoráveis a Dilma,
evidenciando a sua inocência, eles deveriam ou não compor o conjunto de
elementos a ser apreciado pelos deputados?
Mas Jovair Arantes preferiu evitar a
polêmica.
A boa notícia é que essa coisa toda
está enterrando também o futuro político de José Eduardo Cardozo. E vai para a
cova o que poderia haver de virtuoso no seu passado. Os argumentos que ele
apresenta a Fachin são os mesmos apresentados à comissão, reitero, quando o
advogado-geral deixou claro que não reconhecia a legitimidade da comissão e do
processo. Ora, se não reconhecia, apresentou a defesa para quê? Para que
tentasse, depois, via judicial, o que não conseguiu no enfrentamento dos fatos.
Ainda que Fachin decidisse conceder à
liminar, o que duvido, há os demais ministros.
De resto, estava na cara que essa seria
a “saída”, que saída não é, que Cardozo buscava. Afinal, um advogado de defesa
não desqualifica os “juízes” que podem ou não acolher seus argumentos. E o
doutor fez isso. Por quê? Porque pretendia apelar ao tapetão.
“Ah, Supremo não é tapetão! Recorrer à
Justiça é um direito”. É verdade. Mas é por isso que existe a palavra
“chicana”: para distinguir um pleito legítimo e fundado nas leis da pura e
simples tentativa de tumultuar o processo.
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