Por
Juremir Machado da Silva, 21/04/2016,
www.correiodopovo.com.br
O francês Jean
Baudrillard refletiu sobre as estratégias fatais da transparência do mal.
O golpe,
dissimulado de impeachment, embaralha as cartas e transforma a norma em
trapaça.
O Supremo Tribunal Federal participa do jogo.
Quem conhece os
critérios dos STF para julgar ou deixar de julgar alguma coisa?
Desde dezembro de
2015, o STF senta-se em cima de um pedido de afastamento de Eduardo Cunha da
presidência da Câmara dos Deputados. Por quê? O que leva a corte a não se
interessar por esse tema?
Celso de Mello,
decano dos ministros do STF, considera ruim para a imagem do Brasil no exterior
a presidente da República contar na ONU que se sente vítima de um golpe de
Estado. Por que não se incomoda com a imagem do país no estrangeiro quando um
deputado chama Eduardo Cunha, ao vivo, diante dos olhos estarrecidos dos
cidadãos brasileiros, de ladrão ou de gângster?
A desculpa do STF para não agir é a não intromissão em
outro poder.
O STF foi rápido,
através do militante tucano Gilmar Mendes, líder da oposição na corte, para
impedir Lula de ser ministro. E não tem a menor pressa em julgar o caso.
Interfere no executivo.
Dois pesos, duas
medidas!
O STF torna-se parte do golpe?
A mídia ouve os
ministros do golpe – Gilmar Mendes, Celso de Mello, Dias Tóffoli –, mas não
ouve os que a ele se opõem, com Marco Aurélio Mello, que não foi nomeado por
Dilma ou Lula, na frente.
O STF está dividido.
Uma parte grita
que não há golpe. Mas não se refere à prova do crime de responsabilidade.
A outra parte é deixada de lado.
Acontece que a
mídia internacional acha que o Brasil está às vésperas de um golpe.
Especialista em
comunicação política, Gaspard Estrada, diretor do Observatório Político da
América Latina, deu entrevista ao jornal francês Libération desta
quinta-feira, 21 de abril. Ele resumiu a trama em curso no Brasil com precisão.
A estratégia fatal da oposição é desnudada com um simples puxão: partidos e
políticos querem conservar seus privilégios e manter tudo como sempre foi.
Literalmente: “A classe política está, acima de tudo, preocupada em manter seus
interesses”.
Mais fatal é o
jogo para silenciar a presidente.
A oposição queria
impedi-la de falar na ONU.
Afinal, a mídia
estrangeira não é amiga.
No último domingo,
o que era chamado de clichê, mostrou-se realidade: o poder da elite branca. A
Câmara dos Deputados tem 80% de homens, de brancos e de ricos. Machos brancos
ricos mandam.
E mandam contra o
que foi um pouco de social-democracia, depois social-liberalismo, que confundem
com comunismo. O governo merece cair por seus erros, mas não merece ser
derrubado por quem sempre cometeu os mesmos erros e quer apenas exterminar o
fantasma de comunismo saído das cinzas.
A mídia
estrangeira não consegue entender como o Brasil têm políticos tão atrasados.
Nem como a corte
suprema pode ser tão pouco transparente.
Ela vê o executivo de mãos amarradas.
Vê o legislativo dominado por uma gangue.
E o STF conduzido pelo humor e pela ideologia dos seus
membros.
Uma estratégia é
fatal quando transforma o mal numa transparência que se apaga por excesso de
luz.
A presidente
precisa contar tudo ao mundo na ONU.
Nunca é bom morrer
de boca fechada.