Em vez de espectadores, a TV Brasil gerou empregos a companheiros,
programas que ninguém viu e prejuízos irrecuperáveis
Por Augusto
Nunes, 10/06/2016,
www.veja.com.br
Texto de Nelson Motta publicado no Globo
Você já viu a TV Brasil? Em cinco anos,
ninguém viu. Porque não dá para ver. Em vez de uma imagem digital nítida e
brilhante como se vê em outros canais, é uma tela de manchas e borrões em cores
esmaecidas que remetem à TV dos anos 80. Essa é a principal, mas não única razão
para; o fracasso retumbante da TV Brasil, que Lula bravateava que seria
uma BBC, mas jamais conseguiu sair do “traço” de audiência, do zero,
jogando no lixo bilhões de reais de dinheiro público. Em vez de espectadores,
gerou empregos a companheiros, programas que ninguém viu e prejuízos
irrecuperáveis.
A EBC explica que a imagem da TV Brasil é a
pior da televisão brasileira porque não havia dinheiro para investir na
qualidade da geração de áudio e vídeo: a base de tudo. Com tantos funcionários
e terceirizados consumindo a maior parte do orçamento produzindo programas para
ninguém ver, é natural que não sobre dinheiro para o investimento fundamental
em tecnologia, sem o que, é certo, por melhor que seja o “conteúdo”, ninguém
vê. É o que provam os números do Ibope, esclarecendo que os raros sinais de
alguma audiência do canal são apenas registros residuais de zapings.
Foi bizarra a polêmica sobre a entrevista que Dilma
deu a Luis Nassif para a TV Brasil: deveria ou não ir ao ar? Seria uma
partidarização da emissora? Mas a TVB não foi sempre governista e contratante
de profissionais identificados com suas políticas? O diretor da EBC diz que,
por imparcialidade, também entrevistará Temer… rsrs. Mas por que Temer perderia
seu precioso tempo para falar para ninguém?
A entrevista de Dilma pode ir ao ar quantas vezes
for. Ninguém vai ver mesmo, entre as sombras e borrões da tela da TV Brasil
— a imagem de uma era brasileira em que a “vontade política” e o aparelhamento
ideológico prevaleceram sobre a lógica, à tecnologia e a rejeição absoluta do
público que a financia.
Uma televisão que não é vista por ninguém
simplesmente não tem razão de ser — por mais nobres e justas que sejam suas
intenções. É melhor tentar outro modelo: este fracassou no conceito, na forma,
no conteúdo e na gestão.
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