Por que Temer não conta quanto
foi roubado nos desgovernos do PT?
Por Augusto
Nunes, 21/06/2016,
www.veja.com.br
Texto de José Nêumanne
As manchetes, que ocuparam o alto da primeira
página e tiveram o maior destaque nas editorias de Política e Economia do Estadão,
sábado e segunda-feira, dizem respeito a assuntos correlatos. Uma é a
informação do delator premiado Vinicius Veiga Borin de que a Odebrecht comprou
um banco para distribuir propina e a outra, o decreto de calamidade pública no
Rio de Janeiro. Uma é a causa e a outra, o efeito. A primeira resulta do estado
de absoluta devassidão moral que tomou conta do país desde que Lula da Silva, o
mais popular presidente da História da República, entregou os cofres das
estatais (inclusive bancos) à organização criminosa que reuniu burocratas do
alto escalão da máquina pública e dirigentes partidários para planejar,
organizar e realizar o maior furto de dinheiro público do planeta em todos os
tempos. A segunda, da impossibilidade de cobrir as despesas do Estado com os
poucos recursos que restaram para financiar o funcionamento das instituições
democráticas.
Não dá para pagar as contas da educação, da saúde e
da segurança públicas após o saque metódico e permanente do dinheiro arrecadado
por impostos escorchantes, por mais escorchantes que eles fossem e sejam, pela
associação perversa entre políticos ambiciosos e empresários inescrupulosos.
Para o assalto funcionar e permanecer foi criado um esquema minucioso de
superfaturamento de contratos de obras e serviços públicos com empresas
privadas, em troca de um propinoduto pelo qual fluía a remuneração dos gestores
das estatais que administravam a contabilidade, parlamentares que asseguravam a
manutenção dos larápios em seus postos, ministros de Estado delinqüentes e
dirigentes partidários que enriqueceram abundante e ilicitamente em nome do
sagrado princípio da velha e boa governabilidade.
Foi montado um sofisticado método de “engana
trouxa” para o esquema funcionar e escapar aos controles (cuja fragilidade é
agora revelada) da Receita Federal, do Banco Central, do Conselho
Administrativo dos Recursos Fiscais (Carf) e de outros órgãos da administração
federal encarregados de fiscalizar, punir e evitar a bandalheira. Tais
mecanismos fiscalizatórios foram desativados por gorjetas milionárias,
propiciando boa vida, sombra e água fresca para cidadãos encarregados de
fazê-los funcionar. Ou seja, zelotes, denominação exata dada à operação
policial e judicial que os investiga.
Por sua vez, com o bolso aliviado por essa casta
canalha, o cidadão foi facilmente seduzido por miçangas retóricas e truques
rasteiros de marketing político e deixou-se enganar, cômoda e confortavelmente,
pela astuciosa súcia de agentes políticos que se perpetuam no poder fazendo-se de
cegos, surdos e mudos como, na prática, age a cidadania. Desmontado o esquema,
denunciado o roubo, esta é convocada a pagar a conta e patrocinar a impunidade
dos salafrários. Assim, a falta de moral desemboca na crise econômica que
engrossa e embrutece o caos político. Não é, portanto, mera coincidência o
Brasil bater recordes mundiais de safadeza, desemprego, falência de empresas,
queda de arrecadação e instabilidade.
Paraíso dos bicheiros que se tornaram traficantes,
maravilha da malandragem e território do jeitinho, o Rio é uma calamidade
antiga, enfim decretada. Mas não é o primeiro estado a encarar a ruína. Antes,
foi o Rio Grande do Sul, cujo calote precedeu o fluminense. Clio, a deusa da
História, caprichou na ironia: Leonel Brizola nasceu no Rio Grande do Sul e
tornou-se célebre no Rio de Janeiro, a antiga capital federal, em cujo obelisco
central seu prócer maior, Getúlio Vargas, amarrou os “pingos”.
Além dessa coincidência histórica, também assolaram
o burgo fundado por Estácio de Sá as quinquilharias mais vistosas dos 13 anos,
4 meses e 12 dias em que a organização criminosa obteve anuência cega, surda e
muda dos comandantes da nau sem rumo: a descoberta do pré-sal, a Copa do Mundo
e agora a Olimpíada de 2016. Nada mais condizente com o reinado do pão e circo
dos césares Augusto, Tibério e Nero, com o Maracanã servindo de Coliseu no
encerramento do desastrado torneio de futebol e na abertura dos jogos modernos
da zika, do arrastão e da ciclovia derrubada pela ressaca. O circo frustrado e
o pão de fancaria, que parecia ser distribuído com fartura inédita por conta do
petróleo do pré-sal só fizeram a festa dos delinqüentes, que ficaram com o
dinheiro de obras que se desfazem quando brilham no ar, como fogos de artifício
no réveillon de Copacabana. O artífice do show, Lula da Silva, vencedor das
batalhas da FIFA e do Comitê Olímpico Internacional (COI), e seus asseclas
querem dos mortos e feridos um perdão que nem sequer se dão ao luxo de pedir.
Nesse particular, não estão sozinhos. Neste
instante, ficamos sabendo que a oposição, que parecia apenas ser preguiçosa,
inepta e desleixada, pode ter sido é cúmplice, conforme revela delação seletiva
de Sérgio Machado, premiado com pena de 3 anos de tornozeleira em casa no lugar
de 20 recolhidos à cela. Tudo o que Lula queria na vida é que todo brasileiro
tivesse a memória benevolente desse delator e fosse reconhecido pelo mérito das
obras imperfeitas, como os estádios do Mundial, ou incompletas, como a
transposição do São Francisco. Mas que não fosse lembrado pelo acesso que deu a
todos quantos arrombaram os cofres da viúva em nome de falsos ideais
bolivarianos que os poderosos de plantão fingem ter. Nem pela paternidade
política da Mãe do Desemprego e do PIB cru.
Agora que tudo está sendo esclarecido e que do pré-sal
da política o que se extrai é a queda dos que meteram a mão ou fizeram
vista grossa e ouvidos de mercador as suas malfeitorias, ainda restam dois
mistérios a lamentar e desvendar. O primeiro: por que Aécio Neves não explicou
aos eleitores tungados esse teorema no qual o furto é causa e crise, efeito. É
mais compreensível do que o de Euclides. Mesmo que a Operação Lava Jato
comprove que os tucanos compartilharam, pelo menos, sobejos do butim, essa
ainda é uma equação sem solução.
O outro só pode ser desvendado por Michel Miguel
Elias Temer Lulia. Que razão obscura e oculta mantém a mordaça que o impede de
vir a público para contar a que os sócios do desgoverno comandado pelo PT, mas
do qual ele também fez parte, reduziram o patrimônio público durante sua
passagem pelo poder republicano. E quais são as conseqüências funestas de seus
desmandos. Milhões pagam pra ver as cartas desse jogo de cujo baralho sujo
Dilma Vana Rousseff Linhares está sendo excluída. Quais seriam as razões de
ocultá-las na manga do colete?
Publicado no Blog do Nêumanne
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