Gravações de Sérgio Machado, se incluídas em processo, liquidariam Dilma
Por Reinaldo
Azevedo, 03/06/2016,
www.veja.com.br
Já existem documentos em posse da Procuradoria-Geral da República que revelam que a presidente afastada, Dilma Rousseff, tinha conhecimento do teor das negociações envolvendo interesses políticos na compra da refinaria de Pasadena, antes da reunião do Conselho de Administração da Petrobras que aprovou o negócio.
Os
envolvidos na venda de Pasadena trocavam mensagens em uma rede de e-mails do Gmail
que não era rastreável, pois as mensagens ficavam sempre numa nuvem de dados,
sem serem enviadas. Numa dessas mensagens, na véspera da reunião decisiva, há a
informação de que “a ministra” já estava ciente dos arranjos dos advogados.
Em outras mensagens, há informações
sobre pagamentos de itens pessoais da presidente pelo esquema montado na
Petrobras, como o cabeleireiro Celso Kamura, que viajava para Brasília à custa
do grupo. Cada ida de Kamura custava R$ 5 mil. Há também indicações de que um
teleprompter especial foi comprado para Dilma sem ser através de meios
oficiais, para escapar da burocracia da aquisição.
Um tiro no pé da defesa
O pedido do advogado da presidente
afastada para incluir no processo do impeachment em curso no Senado os áudios
gravados pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado é um tiro no pé da
defesa, pois amplia o escopo das acusações para incluir a Lava-Jato. O relator,
o tucano Antonio Anastasia, fez um favor a José Eduardo Cardozo recusando o
pedido, pois ele poderia fazer com que a bancada do atual governo levasse para
o processo gravações de Lula com o mesmo objetivo de cercear as investigações
da Lava-Jato.
Na reunião da comissão do impeachment
ontem, essas gravações de Lula já apareceram nos debates e, se o escopo da
denúncia fosse ampliado, poderia entrar as contas de 2014 e as denúncias do
ex-senador Delcídio Amaral sobre tentativas da própria Dilma Rousseff de
libertar empreiteiros presos.
A nomeação do ministro Marcelo Navarro
para o STJ, com o objetivo de libertar Marcelo Odebrecht, foi confirmada pelo
próprio nas tratativas para sua delação premiada, dando veracidade ao relato de
Delcídio.
Está claro, com a tentativa de anexar
aos autos as gravações de Sérgio Machado sobre a Lava-Jato, a vontade de
limitar a acusação às pedaladas de 2015 e aos decretos não autorizados pelo
Congresso para dificultar a acusação e o desejo de ampliar o raio de ação da
defesa para dar ares de verdade à acusação de golpe.
Se o chamado conjunto da obra do
governo Dilma entrasse na roda do julgamento, com todas as acusações que estão
sendo reveladas agora, não haveria como defender a presidente afastada.
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