Por Augusto Nunes, 18/03/2016,
www.veja.com.br
As conversas grampeadas pela Polícia Federal acrescentaram ao prontuário
de Dilma Rousseff o crime de obstrução da Justiça, praticado para livrar Lula
da cadeia. Se lhe restasse alguma vergonha, se não tivesse começado a mentir
antes de aprender a falar “mamãe”, a presidente que nada preside já teria caído
fora do gabinete onde sonha com a salvação que não virá. Mas a governante
desgovernada prefere fingir que o vilão é o juiz Sérgio Moro, que teria
ignorado uma das prerrogativas do cargo que ela não para de desonrar.
“Grampo na Presidência da República ou para qualquer um de vocês não é
algo lícito, é algo ilícito, e é previsto como crime na legislação”, reincidiu
em dilmês erudito nesta sexta-feira. Conversa de 171. Nenhum dos celulares e
telefones fixos que afilhada utiliza foi alvo de escuta. Os aparelhos
grampeados foram os aparelhos usados pelo padrinho homiziado no Instituto Lula.
A voz da criatura só entrou no coral da Lava Jato porque ligou para um celular
que o criador julgava secreto. Deu no que deu: os brasileiros agora sabem que
Dilma participou da conjura armada para afastar Lula do camburão, ouviu sem dar
um pio insultos ao Supremo e engoliu palavrões que deixariam ruborizadas até
uma reencarnação de Messalina.
As gravações também provaram que Lula chefiou a repulsiva
conspiração contra o Estado de Direito e a ofensiva infamante contra Sérgio
Moro. Para escapar de uma segunda e conclusiva visita da Polícia Federal,
também ele decidiu fazer de conta que os bandidos devem ser procurados na
república de Curitiba. Resumo da ópera-bufa: o bando fora da lei invoca a
proteção da lei para continuar atropelando a lei ─ em sigilo. Para os
comandantes da organização criminosa, esse desrespeito à privacidade dos
meliantes é muito mais grave que a maior roubalheira da história.
“Minha intimidade, de minha esposa e meus filhos, dos meus companheiros de
trabalho tem sido violentada por meio de vazamentos ilegais de informações que
deveriam estar sob a guarda da Justiça”, mentiu Lula na carta aberta que
divulgou nesta quinta-feira. Submetido ao calvário de chanchada, o marido
amantíssimo e pai extremoso acabou exonerando a proverbial sobriedade. “Nesta
situação extrema, em que me foram subtraídos direitos fundamentais por agentes
do estado, externei minha inconformidade em conversas pessoais, que jamais
teriam ultrapassado os limites da confidencialidade, se não fossem expostas
publicamente por uma decisão judicial que ofende a lei e o direito”.
Não tem nada de mais, portanto, qualificar de covardes os ministros do
Supremo, debochar de ministros de Estado, exigir que o ministro da Justiça
mantenha o camburão distante do chefe supremo, tratar a presidente da República
como gerente do bordel federal onde reina há mais de 13 anos. Na cabeça dos
criminosos, crime é divulgar conversas que mostram uma quadrilha planejando
atropelamentos do Código Penal. Talvez mudem de opinião quando começarem a
trocar ideias na mesma cela de cadeia.
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