Por Carlos
José Marques, 26/06/2015,
www.istoé.com.br
Editorial
Foi estabelecido um novo maniqueísmo no poder. Hoje
os aliados têm que escolher se estão com Lula ou com Dilma. A questão posta
para eles parece ser a seguinte: ou você é governo ou é PT. As duas coisas não
dão mais! Parece brincadeira, mas o clima de desavença explícita dominou o
ambiente desde que se tornaram públicos os últimos destemperos verbais de Lula.
Nas suas palavras, a chefe da Nação é mentirosa, está (como ele) no “volume
morto” e faz tudo errado. Criador e criatura não se reconhecem mais. A “DR”
entre eles já vem de algum tempo, mas atingiu decibéis acima do esperado. E,
muito provavelmente, o desencanto que um acalenta contra o outro esteja ligado
à queda acentuada de popularidade de ambos. Lula viu suas chances de retorno ao
poder minguarem diante do evidente fracasso de gestão de sua escolhida e das
ameaças de investigação por responsabilidade nos desvios apurados pela operação
“Lava Jato”. Dilma, por sua vez, começa a perceber que as chances de seu
governo terminar ficam cada vez mais dependentes de uma ruptura tácita com os
petistas. Nesse contexto, das profundezas do lamaçal de escândalos sem fim
surge uma nova e aguerrida oposição. Comandada por ninguém menos – imagine só!
– que o ex-presidente Lula, líder inconteste dos petistas e mentor da celebrada
“mãe do PAC”, conduzida ali atrás diretamente por suas mãos ao ministério e,
depois, ao posto máximo da República. Obviamente que a ideia de descolamento
entre eles, ou o movimento encenado para que isso aconteça, não fica de pé nem
por um minuto. Os dois podem até não comungar mais dos mesmos ideais, porém estão
indissoluvelmente ligados pela adoção em comum acordo de práticas deletérias
como o aparelhamento do Estado em larga escala, o fisiologismo crônico e imoral
do toma lá dá cá – que acabou por gerar o “Mensalão” e o “Petrolão” – e as
barbeiragens orçamentárias para produzir factóides populistas. Lula, com o seu
surto calculado da semana passada, quis se distanciar na verdade de tudo e de
todos. Se converter numa espécie de observador indignado com tamanho
apodrecimento do sistema. Desde que esteve no poder, e até hoje, o
ex-presidente recorre ao péssimo hábito de jogar a culpa nos outros por algo
que tem notoriamente a sua marca. Manobra risível. Foi assim mais uma vez
quando se referiu não apenas a Dilma como também ao partido que ele mesmo criou
e comanda. Contra o PT disparou inclemente: “hoje só pensa em cargo, em
emprego, em ser eleito. Ninguém trabalha mais de graça”. E quem exatamente
estimulou isso? É fato que Lula quer preparar uma saída estratégica para se
lançar em 2018. No salve-se quem puder que virou o governo e o seu partido, ele
imagina ser uma terceira via dele mesmo e de suas criações. Continua a apostar
muito na ausência de memória do brasileiro e na crença de que é invulnerável.
Falta-lhe autocrítica.
Carlos José Marques, diretor editorial.
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