A Operação Boca Livre, deflagrada
hoje, prendeu 14 pessoas que fraudavam a captação de recursos via Lei Rouanet
Por Nicole
Fusco, 28/06/2016,
www.veja.com.br
Polícia
Federal deflagrou na manhã de hoje a Operação Boca Livre
O Ministério Público Federal entende que o
Ministério da Cultura exerceu uma fiscalização "pífia" em relação aos
projetos apresentados pelo grupo de produtores culturais alvo da Operação Boca
Livre, deflagrada nesta terça-feira pela Polícia Federal. A ação, que cumpriu
51 mandados judiciais em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Distrito Federal,
mirou um esquema de fraudes na captação de recursos junto ao Ministério da
Cultura por meio da Lei Rouanet.
Conforme mostraram as investigações, na maioria dos
casos os projetos eram apresentados em duplicidade. Ou seja, continham o mesmo
conteúdo, o mesmo folder de apresentação, o mesmo projeto e tinham apenas o
nome alterado. "O Ministério da Cultura exercia uma fiscalização pífia ou
nenhuma para que esses projetos plagiados e copiados não fossem identificados
como tais", afirmou a procuradora Karen Louise Jeanette Khan, em
entrevista coletiva concedida em São Paulo na manhã de hoje.
O grupo, composto por catorze pessoas - todas
presas nesta manhã na capital paulista -, agia desde 2001 e conseguiu desviar
180 milhões de reais por meio da Lei Rouanet. Segundo a Polícia Federal, os
criminosos apresentavam projetos ao Ministério da Cultura para captação de
recursos com a iniciativa privada. Esses projetos eram superfaturados e os
valores eram revertidos em favor do próprio grupo e de seus patrocinadores.
"O objetivo da lei [Rouanet] em momento algum foi atingido. Vimos eventos
privados sem nenhum cunho cultural", disse o delegado regional da PF,
Rodrigo de Campos.
As empresas que patrocinavam os projetos fraudados
se beneficiavam duas vezes do esquema: pela parcela do superfaturamento que era
repassada a elas e também por meio da dedução do Imposto de Renda, conforme
prevê a Lei Rouanet. Além disso, em alguns casos, a Controladoria-Geral da
União (CGU), que atuou em parceria com a Polícia Federal nas investigações,
identificou o pagamento de propina de 30% dos valores captados junto ao
Ministério da Cultura, que seriam pagos por esse grupo de produtores culturais
às empresas patrocinadoras.
Além do Ministério da Cultura, as investigações
citam as empresas Bellini Eventos Culturais, Scania, KPMG, o escritório de
advocacia Demarest, Roldão, Intermédica Notre Dame, Laboratório Cristalia,
Lojas 100, Nycomed Produtos Farmacêuticos e Cecil. O casamento do filho do
empresário Antonio Carlos Bellini Amorim, do Grupo Bellini, em Jurerê
Internacional, em 25 de maio deste ano, seria um dos eventos bancados com
verbas da Lei Rouanet. Em dois vídeos sobre o evento, divulgados em redes
sociais, um no dia anterior ao casamento e outro na cerimônia, é possível ver
os convidados com taças de bebidas.
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