Magistrado não disse diretamente
que a procuradoria-geral da República seria responsável pela divulgação, mas
criticou que processos ocultos sejam publicados freqüentemente pela imprensa
Por Laryssa
Borges, de Brasília, 07/06/2016,
www.veja.com.br
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar
Mendes classificou como uma "brincadeira com o STF" o vazamento dos pedidos de prisão da cúpula do PMDB feitos pelo
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por suspeita de atrapalhar as
investigações da Operação Lava Jato. A avaliação é de que as solicitações de
prisão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), do senador Romero
Jucá (PMDB-RR), do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e de
prisão domiciliar do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), com uso de
tornozeleira eletrônica, colocam o Supremo sob pressão. O despacho que aponta a
necessidade das prisões está na mesa do ministro Teori Zavascki, relator do
petrolão, há dias, mas ainda não houve nenhuma manifestação do magistrado.
Em tom irritado, Mendes disse que os responsáveis
pelo vazamento dos pedidos de prisão estão "cometendo crime" e têm
que ser "chamados às falas". O magistrado não atribuiu diretamente à
procuradoria-geral da República a divulgação das solicitações de prisão, mas
criticou o fato de processos ocultos, que recebiam o mais alto grau de sigilo
no Supremo e recentemente foram extintos, serem freqüentemente revelados pela
imprensa.
"Na verdade, tem ocorrido, vamos dizer
claramente. Processos ocultos, que vêm como ocultos, e que vocês [imprensa] já
sabem e que divulgam no Jornal Nacional antes de chegar ao meu gabinete.
Isso tem ocorrido e precisa ter cuidado, porque é abuso de autoridade
claro", declarou Gilmar. "Os responsáveis têm que ser chamados às
falas. Não se pode brincar com esse tipo de coisa. Isso é algo grave. Isso é
uma brincadeira com o Supremo. É preciso repudiar isso de maneira muito
clara", completou o ministro.
O procurador-geral Rodrigo Janot pediu ao Supremo a
prisão dos peemedebistas por suspeita de tentarem barrar as investigações da
Operação Lava Jato. A trama contra a Lava Jato foi gravada pelo ex-presidente
da Transpetro Sérgio Machado. Nas conversas, Renan sugere mudar a lei para inibir a delação premiada, ao passo que Jucá descreve uma
articulação política dele e de outros líderes para derrubar a presidente Dilma
e, a partir daí, "estancar a sangria da Lava Jato".
Conforme revelado em VEJA desta semana, em seu
acordo de delação premiada, Machado disse que distribuiu 60 milhões de reais em
propina para peemedebistas durante os doze anos que esteve à frente da estatal,
entre eles Renan, Sarney e Jucá - apenas ao ex-presidente da República, foram
19 milhões de reais. Machado também contou que guardava dinheiro no exterior para
políticos, entre eles o presidente do Senado.
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