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terça-feira, 14 de junho de 2016

O legal e o moral



Por Augusto Nunes, 04/04/2016,
www.veja.com.br

Texto de Vlady Oliver

Há diversas firulas jurídicas e interpretações da lei para deixar escapar o cerne da questão que está sendo esmiuçado nas últimas manifestações do poder judiciário brasileiro. Acredito que o Reinaldo Azevedo foi o articulista que melhor descreveu o sistema excessivamente legalista em que vivemos por aqui. Por ele, há leis que regem até o ato de respirar do pobre incauto cidadão brasileiro, mas não há efetivamente punição alguma pelos atos e delitos aqui cometidos. De nada adiante termos leis em excesso e nenhuma vontade de punir nossos agressores.

Continuo a afirmar que um país onde um juiz tem que se explicar por combater o crime e uma presidente não, por cometê-los, apresenta algo absolutamente errado em seu sistema de justiça. Como  a Constituição é essa que, aí está à falência do modelo político-administrativo é esse que, aí estão os meliantes com mandato eleitos são estes que aí estão; não cabe muita margem de manobra para se fazer as coisas dentro dos tais “rigores de uma democracia”.

Acredito que é exatamente por isso que os ilustres defensores do indefensável sentam em cima de coisas escabrosas como as eleições superfaturadas do último pleito, os telefonemas escabrosos dos integrantes dessa quadrilha que nos desgoverna e a absoluta falta de visão do mais alto escalão de nossa justiça aparvalhada, que não consegue ver uma quadrilha onde já há um exército. Se a legitimidade desse sistema como um todo for ameaçada, não sobrará pedra sobre pedra daquela cidade espetada no nada do Planalto Central.

Na letra fria – e morta – da lei vigente, o juiz Sergio Moro não poderia ter encarnado um ato heroico – condenável por instância superior – e ter escancarado os interiores da república de bananas ao revelar o que falam ao telefone essas autoridades que autoridades não parecem ser.

São bandidos. Não restam dúvidas sobre isso. Cabe agora à sociedade entender o recado e parar de ser feita de idiota nas urnas. Assim como existe a força-tarefa da Lava Jato, cabe implementarmos uma “central de denúncias” que faça um raio-x de toda a administração pública, para sabermos exatamente o que fazem com nosso dinheiro essas “otoridades” vigaristas.

Por ela saberíamos, por exemplo, que as manifestações do “mortadela day” nos dão uma noção exata de quanto vagabundo existe pendurado nas tetas públicas, uma vez que é esse o tipo de regimento que comparece a essas papagaiadas e solta seus gritinhos histéricos do “não vai ter golpe”. Os caras foram festejar com o nosso dinheiro, esbanjado bem no momento em que as pedaladas, os telefonemas e os foros privilegiados escancaram a blindagem de uma camorra reincidente no assalto à coisa pública.

Nessa visão trágica das coisas, caberá à justiça a palavra da lei. Mas a legitimidade dessa confraria de biltres caberá à palavra do cidadão. Não quero mais ser feito de besta por urnas abolivarianadas, apurações inauditáveis, políticos que distribuem dentaduras no seu curral eleitoral e empresas que desviam dinheiro para financiar toda essa torpeza.

Não quero mais ficar sob a égide desses vagabundos. Não quero ver as Sabatellas e os Capitães Nascimento torrando a minha grana com seus trinados e gorjeios. Não quero mais nem quebrar os LPs bolachudos daquela megera que canta as desgraças de La vida bolivariana. Isto é uma natureza, uma mentalidade e uma estética troncuda. A gente só acaba com isso com a mesma militância que tentou nos impor para nos controlar; fazendo o caminho inverso e enxotando dos podres poderes esse bando de meliantes.

O país está desperto. Sabe a diferença entre politicismo e heroísmo. Sabe a diferença entre uma firula judicial e um telefonema que é um “telefonema”. A casa já caiu. A farsa já acabou. Podem esticar a corda o quanto quiserem. Eles não voltarão a ter tréguas para delinqüir. Podem acobertar ligações, palavrões e a natureza dessa vigarice torpe que estão defendendo. O rabão de ratazana de todos eles continuará à mostra. É isso aí.

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