Por Augusto Nunes, 04/04/2016,
www.veja.com.br
Texto de
Vlady Oliver
Há diversas firulas jurídicas e interpretações da
lei para deixar escapar o cerne da questão que está sendo esmiuçado nas últimas
manifestações do poder judiciário brasileiro. Acredito que o Reinaldo Azevedo
foi o articulista que melhor descreveu o sistema excessivamente legalista em
que vivemos por aqui. Por ele, há leis que regem até o ato de respirar do pobre
incauto cidadão brasileiro, mas não há efetivamente punição alguma pelos atos e
delitos aqui cometidos. De nada adiante termos leis em excesso e nenhuma
vontade de punir nossos agressores.
Continuo a afirmar que um país onde um juiz tem que
se explicar por combater o crime e uma presidente não, por cometê-los,
apresenta algo absolutamente errado em seu sistema de justiça. Como a
Constituição é essa que, aí está à falência do modelo político-administrativo é
esse que, aí estão os meliantes com mandato eleitos são estes que aí estão; não
cabe muita margem de manobra para se fazer as coisas dentro dos tais “rigores
de uma democracia”.
Acredito que é exatamente por isso que os ilustres
defensores do indefensável sentam em cima de coisas escabrosas como as eleições
superfaturadas do último pleito, os telefonemas escabrosos dos integrantes
dessa quadrilha que nos desgoverna e a absoluta falta de visão do mais alto
escalão de nossa justiça aparvalhada, que não consegue ver uma quadrilha onde
já há um exército. Se a legitimidade desse sistema como um todo for ameaçada,
não sobrará pedra sobre pedra daquela cidade espetada no nada do Planalto
Central.
Na letra fria – e morta – da lei vigente, o juiz
Sergio Moro não poderia ter encarnado um ato heroico – condenável por instância
superior – e ter escancarado os interiores da república de bananas ao revelar o
que falam ao telefone essas autoridades que autoridades não parecem ser.
São bandidos. Não restam dúvidas sobre isso. Cabe agora
à sociedade entender o recado e parar de ser feita de idiota nas urnas. Assim
como existe a força-tarefa da Lava Jato, cabe implementarmos uma “central de
denúncias” que faça um raio-x de toda a administração pública, para sabermos
exatamente o que fazem com nosso dinheiro essas “otoridades” vigaristas.
Por ela saberíamos, por exemplo, que as
manifestações do “mortadela day” nos dão uma noção exata de quanto vagabundo
existe pendurado nas tetas públicas, uma vez que é esse o tipo de regimento que
comparece a essas papagaiadas e solta seus gritinhos histéricos do “não vai ter
golpe”. Os caras foram festejar com o nosso dinheiro, esbanjado bem no momento
em que as pedaladas, os telefonemas e os foros privilegiados escancaram a
blindagem de uma camorra reincidente no assalto à coisa pública.
Nessa visão trágica das coisas, caberá à justiça a
palavra da lei. Mas a legitimidade dessa confraria de biltres caberá à palavra
do cidadão. Não quero mais ser feito de besta por urnas abolivarianadas,
apurações inauditáveis, políticos que distribuem dentaduras no seu curral
eleitoral e empresas que desviam dinheiro para financiar toda essa torpeza.
Não quero mais ficar sob a égide desses vagabundos.
Não quero ver as Sabatellas e os Capitães Nascimento torrando a minha grana com
seus trinados e gorjeios. Não quero mais nem quebrar os LPs bolachudos daquela
megera que canta as desgraças de La vida bolivariana. Isto é uma natureza, uma
mentalidade e uma estética troncuda. A gente só acaba com isso com a mesma
militância que tentou nos impor para nos controlar; fazendo o caminho inverso e
enxotando dos podres poderes esse bando de meliantes.
O país está desperto. Sabe a diferença entre
politicismo e heroísmo. Sabe a diferença entre uma firula judicial e um
telefonema que é um “telefonema”. A casa já caiu. A farsa já acabou. Podem
esticar a corda o quanto quiserem. Eles não voltarão a ter tréguas para delinqüir.
Podem acobertar ligações, palavrões e a natureza dessa vigarice torpe que estão
defendendo. O rabão de ratazana de todos eles continuará à mostra. É isso aí.
Nenhum comentário:
Postar um comentário