Um ano após a divulgação do
relatório que foi censurado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a pedido do
PT, Felipe Miranda diz que cenário econômico é mais grave do que se imaginava
antes das eleições
Por Luís
Lima, 25/07/2015,
www.veja.com.br
Um ano após a publicação do relatório 'O Fim do
Brasil', o autor e sócio da consultoria Empiricus, Felipe Miranda, diz que as
previsões negativas sobre os rumos da economia que irritaram o PT na época das
eleições falharam por não terem captado toda a gravidade da situação econômica
do país. "Se considerarmos o tamanho da atual recessão, a fragilidade da
situação fiscal ou o nível de taxa de juros, erramos tudo. Nossa visão pessimista
mostrou-se otimista diante dos fatos", diz. No entanto, Miranda pondera
que a direção não estava completamente errada. "No fim, entre todos, fomos
aqueles que chegaram mais perto de acertar", diz.
À época da divulgação do relatório, uma liminar do
ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Admar Gonzaga determinou a
retirada de propagandas do relatório na internet por "não dar tratamento
isonômico" aos então candidatos, já que relacionava conteúdos negativos à
Dilma e fazia elogios ao tucano Aécio Neves. Num segundo momento, o tribunal cassou,
por maioria, a liminar, ao temer a intervenção da Justiça Eleitoral.
Miranda relembra os debates acirrados do período e
reclama das críticas recebidas pelo pessimismo exacerbado de suas análises. O
economista formado pela Fundação Getulio Vargas conta que, quando o dólar ainda
sustentava o patamar dos dois reais, a Empiricus foi duramente alvejada por já
apostar que a moeda americana ultrapassaria a casa dos 3 reais. Nesta
sexta-feira, o dólar
fechou a 3,34, maior
nível desde março de 2003. Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), a
previsão da Empiricus era de queda de 1% este ano e estabilidade em 2016 -
números mais otimistas, inclusive, do que previsões atuais do próprio governo.
"Quando cravamos um recuo de 1%, nos acusaram de alarmismo", diz.
Para este ano, grandes bancos como o Credit Suisse e Itaú já falam em retração
de 2,5%.
Já para a inflação, a Empiricus chegou mais perto
de acertar: projetaram que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)
alcançaria dois dígitos este ano. "Se não chegar a 10%, chegará muito
perto", diz Miranda. No acumulado em 12 meses até junho, a inflação já
atinge 8,89%. Já para a Selic, atualmente em 13,75%, a Empiricus chegou a falar
em uma taxa de juros a 15% em 2015 - mas agora aposta em um nível de 14,75%.
Segundo o analista, o problema mais grave, no
entanto, é na área fiscal. "Já apontávamos um quadro de deterioração
fiscal, tanto na frustração da receita, quanto na dificuldade em cortar gastos
correntes, além do tamanho e extensão da recessão", diz. Tal deterioração,
segundo Miranda, se deve ao fato de que a herança do primeiro mandato de Dilma
pode ser "mais maldita" do que se supunha. "Em paralelo, tivemos
um Congresso mais belicoso e menos susceptível a aprovar mudanças originais
propostas no ajuste, além dos desdobramentos do petrolão".
Após a redução
das metas de superávit primário, na última quarta-feira, o governo só deve
conseguir retomar uma trajetória de crescimento econômico e redução da dívida
bruta em 2018. Miranda, no entanto, discorda que a presidente será capaz de
entregar a 'casa organizada' para o próximo presidente. "Parte de nossos
problemas são estruturais e não conjunturais. Ainda temos gastos públicos que
não cabem no PIB e isso não se muda de uma hora para outra", justifica,
citando a queda da arrecadação, do preço de commodities e a falta para mudanças
no mercado de trabalho.
Para este ano, a Empiricus projeta uma queda de
2,5% para o PIB. Em 2016, o recuo deve ser de 0,5% e em 2017, deve ser zero. Já
para a inflação, é esperado 9,5% este ano e 5,5% em 2016. No caso da evolução
da dívida bruta sobre o PIB, a Empiricus aposta em 72% em 2018, contra 66% na
perspectiva do governo.
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